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Negritude Raça

This is Us e a presença de personagens negros bem aprofundados

This is Us é uma série de televisão norte-americana criada por Dan Folgman, lançada em 2016. Atualmente a série está disponível no catálogo da Amazon Prime e está na 4ª temporada. A história da série é centrada no casal Receba e Jack Pearson, interpretados por Mandy Moore e Milo Ventimiglia e seus 3 filhos que são chamados por eles de “The Big Three”, que seria algo como “Os três grandes”, que no caso é o Randal, o Kevin e a Kate. É uma série que aborda com muita sensibilidade questões familiares, de forma coletiva e de forma individual. É uma dessas séries para refletir sobre a vida em todos os seus âmbitos, que eu, particularmente, me acabei de chorar em todos os episódios que assisti, então indico que assistam com uma lencinho do lado.

Um dos aspectos que gosto muito na série é a presença de personagens negros que não são estereotipados e que são representados com muita verdade, desenvolvimento e complexidade. O principal deles é o núcleo da família do Randal, mas quero destacar a entrada e a presença da Deja na série. A personagem da Deja, interpretada pela Lyric Ross, entra na série a partir da segunda temporada, e ao longo de sua atuação vai nos ensinar muito sobre empatia.

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Na segunda temporada, o Randal (Sterling k. Brown), que foi adotado ainda bebê, resolve que também quer adotar uma criança. Ele e a esposa fazem todo processo para a adoção e por um tempo recebem a guarda temporária da Deja, que vem de um histórico familiar já conturbado. A mãe dela está presa e por conta disso, ainda criança, Deja precisou passar por diversos lares temporários e não se deu bem, nem foi bem tratada em nenhum deles, então quando ela chega na casa dos Pearsons, já espera que não dê certo, porque as experiências anteriores foram dolorosas e traumatizantes.

A gente vê em seu físico o quanto toda a situação a afeta: seu cabelo é embaraçado, ela não sente vontade de lavá-lo e por conta do estresse seu cabelo cai muito. Então imagine uma criança que tem 13 anos e já passou por situações de abuso que nenhuma criança deveria passar. Teve um momento que ela agia como se fosse a mãe porque das duas, era a mais responsável, só que isso é uma carga muito grande para se colocar no colo de uma criança.

Só depois de muita resistência e muita insistência por parte dos tutores temporários, é que Deja percebe que está em um lugar diferente, onde ela se sente em segurança e aos poucos vai se deixando ser cuidada e amada por essa família que a trata com respeito e dignidade, que não deixa faltar nada e lhe proporciona um espaço para crescimento saudável. É nesse momento também que percebemos o quanto seu aspecto físico muda. Ela passa a cuidar do cabelo, corta bem curtinho e acompanhamos seu crescimento. Na terceira temporada ela já passou pelo processo definitivo da adoção, então é oficial e legalmente filha de Randal e Beth Pearson (Susan Kelechi Watson). É bem bonito ver o quanto ela começa a se sentir segura na família e vai construindo laços afetivos e de amizade com suas novas irmãs, as filhas biológicas do casal.

Gosto bastante da relação que tem entre Deja e Randal porque o Randal já vem de uma realidade em que ele foi adotado, inclusive essa foi uma das motivações para querer adotar também, mas apesar dessa semelhança entre as histórias de vida deles, eles têm trajetórias muito diferentes e pensam de formas diferentes também. Há um momento em que Deja aconselha o Randal sobre um assunto e fica evidente o quanto ela é madura e sensata e o quanto aquela família tem um espaço seguro para conversa. Isso é muito importante.

Na quarta temporada Deja já é uma adolescente e entra na série um novo personagem com quem ela fará par romântico, essa é uma oportunidade para explorar seus medos e traumas, mas também para superá-los. Não é porque Deja foi adotada que não mantém mais nenhuma relação com sua mãe, que depois que saiu da prisão conseguiu um emprego e se estabelecer. Entra muitas questões nisso, como por exemplo o sentimento de rejeição, de abandono, o medo do esquecimento e por um tempo a Deja não se sente no direito de pedir para seus pais adotivos para visitar a mãe biológica com medo deles pensarem que ela tá sendo ingrata,o que é um medo totalmente compreensível. 

Acho que uma das principais lições que a série passa é a de que o diálogo é o principal meio de sanar dúvidas e de afastar medos, então quando Deja se abre sobre seu desejo de visitar a mãe, já nessa fase em que ambas estão bem, a família Pearson não tem motivo algum para se opor. 


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