No dia 02 de julho de 2022 teve início a 26ª Bienal do Livro São Paulo, na na Expo Center Norte, e se encerrará no dia 10 de julho. Essa foi a primeira vez em que estive em uma Bienal do Livro, por isso estava muito empolgada e compartilharei nesse texto minhas impressões deste evento muito aguardado.
A primeira surpresa foi o tamanho do lugar. Apesar de muito cheio, o espaço é tão grande que nos dias em que estive presente (06, 07 e 08), foi possível circular livremente, com ajuda de um mapa que mostrava todos os estandes das editoras literárias e universitárias até os expositores de quadrinhos, mangás etc.
Paulina Chiziane
A Bienal também trouxe uma programação muito rica, com mesas de palestras e bate-papos. Tive a oportunidade de assistir uma conversa com a autora Paulina Chiziane, primeira mulher africana a receber o Prêmio Camões no ano de 2021. Nascida em 1955 em uma Vila moçambicana chamada Manjacaze, Paulina é uma das vozes da literatura de uma Moçambique pós-independência. Suas obras são carregadas de protagonismo feminino e negro. Algumas delas são: O sétimo juramento; Niketche: uma história de poligamia; Eu, mulher: por uma nova visão do mundo; O canto dos escravizados, entre outros.
A conversa aconteceu no espaço cultural, através do projeto “Leia mulheres” e foi mediada por Mariana Paim e Juliana Leuenroth. Durante o bate-papo desenvolvido com as mediadoras, alguns momentos me marcaram, como por exemplo quando Paulina disse a seguinte frase: “Seres humanos são regidos por mitos”. Para explicar essa afirmação, ela contou que existe uma diferença muito grande na forma como as mulheres são tratadas, dependendo da localidade de Moçambique que residem. Em uma visita feita à região norte, ela notou o quanto as mulheres se vestiam bem, estavam sempre maquiadas e muito arrumadas, mas principalmente, o quanto eram veneradas e respeitadas pelos homens. Contudo, no local onde morava (no sul), isso não acontecia. Paulina atribui essa diferença a um mito muito presente nessa região: O mito do matriarcado, em que Deus é uma mulher. Ouvindo esse relato, pensei o quanto a crença de um povo pode influenciar seus atos e modo de agir.
Outro momento de reflexão ocorreu quando uma das mediadoras perguntou como foi escrever um livro em português, já que este não é o idioma nativo da autora e foi imposto por colonizadores portugueses, sua língua materna é o chope. Em seguida, ela responde de maneira muito forte: “O português é uma língua imperial, patriarcal, que traz dominação e supremacia, algumas vezes é racista e sexista e temos que ajustá-la para ser uma língua mais humana”. Paulina termina dizendo que para língua portuguesa ser dela, é necessário descolonizá-la. Até então, não tinha lido nenhum livro da autora, depois desse bate papo, acrescentei algumas de suas obras em minha lista.
Viver a experiência de participar da 26ª Bienal do Livro de São Paulo foi incrível! Sempre havia sido uma vontade e pude conhecer novas histórias e autores, por isso espero poder participar de muitas outras.