Paulista Cultural

Texto de Mayra Guanaes

No domingo, 11 de março, aconteceu em toda a extensão da Avenida Paulista, o evento Paulista Cultural, promovido por 15 instituições culturais da avenida. Essa ideia é parecida com o proposto pelos museus da Quinta Avenida de Nova York, o projeto Museum Mile.

Foi um domingo lotado de atividades gratuitas e foi difícil escolher em qual comparecer porque também havia a programação da Paulista Aberta que acontece sempre aos domingos, com muitas opções de atividades culturais, propostas democraticamente pela população. Fica até difícil traçar um roteiro e manter o foco diante de tantas possibilidades!
Como não era possível dar aquela passada em tudo porque as atividades aconteceram ao mesmo tempo, escolhi algumas para compartilhar com vocês, pensando no público deste blog e no que seria mais para interessante recomendar aqui  pós-evento, para você que nos acompanha.   
Dentro da programação da Paulista Cultural, a minha primeira parada aconteceu no MASP, onde estavam acontecendo várias oficinas de arte, shows e exposição com foco na cultura afro-brasileira, tudo grátis, ali no vão livre do MASP.

lha Percussiva do Coletivo Candeia: era possível experimentar instrumentos da musicalidade afro-brasileira
Vi o Samba de Roda Garoa do Recôncavo da Casa Mestre Ananias. A Casa Mestre Ananias é um projeto sócio educacional que dura o ano inteiro no bairro do Bexiga cujo o foco é justamente o samba de roda e a capoeira em suas visões tradicionais. A Casa – que recebe o nome do mestre que foi um dos pioneiros dessas manifestações em São Paulo oferece várias oficinas e festas com o objetivo de formar identidade e pertencimento, contribuindo para o exercício da cidadania. No ano passado, a melhor festa junina que fui, aconteceu lá, então fica a dica: em junho deve ter festa na Casa do Mestre Ananias com muito samba de roda!

Enquanto isso, dê uma olhada e curtida na página da Casa para fortalecer o movimento:
Depois o vão livre recebeu a sambista Geovana. Essa parte da programa me deixou especialmente feliz porque a Geovana é uma sambista negra, com canções incríveis. 

Geovana cantando
Ela gravou um disco muito bom em 1975 (Quem tem carinho me leva) mas suas músicas ficaram muito famosas nas gravações de outros cantores e grupos de samba. Duas canções famosas dela são: “Tataruê” e “Ô Irene”, entretanto, ela não é tão conhecida, apesar de ter uma obra maravilhosa. Foi emocionante ver Geovana ali, mulher, negra, artista, com 70 anos, cantando e emocionando o público em um espaço aberto. A grande surpresa é: Geovana está gravando um novo disco com inéditas. Ela cantou algumas e esse disco já promete ser um dos nossos sambas favoritos de 2018.
Mas enquanto esperamos o novo disco de Geovana ansiosamente, escute esse disco aqui:
           
Entre um show e outro passei no Instituto Cervantes que sempre oferece programação gratuita e aberta relacionada à língua espanhola. Durante a Paulista Cultural estava acontecendo a II Feira Relâmpago. Havia na feira muitas bancas de produtos artesanais de vários tipos (aliás, essas feiras são uma boa oportunidade para comprar direto com quem faz), gastronomia de outros países (Venezuela, Chile, Marrocos, França, e Espanha – a Paella e a Sangria estavam boas e num valor honesto, e havia uma senhorinha que divulgava as promoções do restaurante deles) e discotecagem de músicas em língua espanhola, além de oficinas de bordado, lambe-lambe e encadernação.
No entanto, o destaque talvez tenha sido a parte das editoras independentes. Acompanhei uma mesa redonda intitulada “As mulheres no mundo editorial”, só com editoras mulheres. Iniciativas como essa são importantes pois sabemos como a literatura e o mercado editorial ainda são espaços muito dominados pelo sexo masculino, portanto, é mais que necessário, nós mulheres, nos vermos representadas. As moças da mesa foram muito generosas e compartilharam a experiência em editar e deram dicas de como se jogar no mercado editorial.
A Malha Fina Cartonera, Lote 42, Bebel Books e a Gauche Books foram algumas editoras independentes presentes na II Feira Relâmpago, desta última comprei o livro de fotografias Abaissement   um trabalho muito bonito e sensível  da artista Isis Galvão.
Em abril o Instituto Cervantes promoverá uma programação de cinema chamado “Espaço Feminino” e são filmes de língua espanhola com legenda em português, ou seja, cinema de qualidade, grátis e com foco nas mulheres.
Acesse a página do Cervantes para conhecer essa e outras programações:
Malha Fina Cartonera
Lote 42
Bebel Books
Gauche Books

6 respostas

  1. Querida Mayra, gostei muito do seu texto e deste blog. Vou visitá-lo com frequência a partir de hoje.
    A Paulista Cultural foi uma iniciativa que nos abriu possibilidades culturais infinitas. Obrigada pela menção ao meu livro, fiquei honrada.
    Um abraço, Isis.

  2. Oi Maria e Mayra.

    Adorei a postagem,gente!
    Infelizmente eu moro em MG e não tem como participar de eventos dessa maneira. Anotei a dica musical, quero conhecer melhor a Geovana. Parabéns!

    Bjos

  3. Que passeio fantástico, sempre tive muita curiosidade de participar de eventos culturais como este, mais sou do interior de São Paulo, não sei nem atravessar uma rua por lá rsrs acho que meu medo ainda me supera preciso viajar mais pra participar dessas oportunidade que são tão ricas e instrutivas, beijos adorei o post! <3

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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