A Voz do Alemão- Sabrina Abreu e Rene Silva

Este é um livro de não-ficção, publicado em agosto de 2013 pela editora nVersos.

O livro é o resultado da parceria entre a jornalista Sabrina Abreu e o jovem Rene Silva, morador do Morro do Adeus, umas das treze favelas que compõem o Complexo do Alemão.
Logo no início tem-se um mapa do Complexo, que nos ajuda a nos situarmos geograficamente, além desmistificar aquela ideia que as pessoas tem de que o Complexo do Alemão é uma coisa só, quando na verdade ele é um complexo ( vejam só, rs) de várias comunidades, ou favelas, como preferirem.

O livro é sobre a história de vida de Rene. Com 11 anos de idade ele criou o jornal “A Voz da Comunidade” e continuou atuando em prol da comunidade onde vivia. Em 2010, ele fez a cobertura via Twitter de tudo que estava acontecendo durante a implementação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e com isso permitiu que o Brasil acompanhasse os acontecimentos do ponto de vista de quem estava lá dentro, vivenciando o drama de não poder sair de casa, de correr o risco de ser atingido por uma bala perdida a qualquer momento.
Rene sempre promoveu ações culturais voltada para sua comunidade. Tais como: distribuição de ovos na Páscoa, de brinquedos no dia das crianças, de presentes no Natal. Essas ações já contaram com o apoio de pessoas como Luciano Huck e Preta Gil e a cada ano Rene conseguia aumentar as doações, fazendo com que mais pessoas desfrutassem de suas boas ações.

Além de conhecermos a vida de Rene Silva é interessante que outras pessoas moradoras do Complexo também ganham destaque no livro porque ajudaram, de alguma forma, a mudar o olhar que as pessoas de fora tinham sobre a favela. Algumas dessas pessoas são: Lúcia Maria, criadora do Núcleo de Mulheres Brasileiras, que depois se transformou na Associação de Mulheres de Atitude, uma ONG que oferecia aulas de dança para as crianças. O fotógrafo Bruno, morador do Complexo que foi fotógrafo oficial do governo estadual. Diego, o ex-traficante que virou modelo de uma marca de roupas famosa. A Juliana, produtora de moda que criou o projeto “Favela é Fashion”, que reúne modelos moradores do Complexo.

O livro-reportagem é também um registro histórico dessa transição pela qual passou o Complexo e que mudou para sempre a forma das pessoas o verem e se relacionarem com ele. Antes era inimaginável que fosse visto como um ponto turístico, frequentado por pessoas de todo Brasil e do mundo, mas depois da pacificação e da instalação do teleférico, em julho de 2011, as coisas mudaram.

Mesmo não sendo uma obra de ficção, o livro me tocou de uma forma especial. Primeiro me ganhou pela narrativa simples e direta, sem enrolação, com uma linguagem muito acessível e clara. Segundo porque me ajudou a entender o Complexo do Alemão e até desconstruir alguns preconceitos formados pelo bombardeamento massivo da mídia, que sempre insiste em só nos mostrar os pontos negativos, mas esquece dos positivos.
Uma coisa que me incomodou um pouco foi a falta de cronologia, porque às vezes eu não sabia em que momento da vida do Rene estava a narrativa, mas é claro que isso foi só um detalhe porque leitura continuou sendo muito boa.

Na parte física, o livro também não deixa a desejar. Em todo início de capítulo as folhas são laranjas com o desenho de um teleférico ao fundo. A capa tem um pouco de relevo e dialoga com o que é encontrado no livro. Também há fotos, o que enriquece a experiência de leitura. 

3 respostas

  1. Eu moro em uma favela, acho que só por isso já tenho vontade de ler "A voz do Alemão". Não acredito muito em favelas pacificadas, sempre acho que tudo aqui é apenas cíclico, quando o trafico fica pesado a policia intervem, há algumas mortes causadas pela policia, pelos próprios traficantes, alguns são presos, tudo fica calmo e então pouco a pouco volta… Mas, uma coisa é certa a favela é maior do que alguns pensam, aqui existe um mundo a parte, vida de verdade, pessoas que querem apenas ser feliz… Preciso ler esse livro! Está na minha lista!

  2. Olá, Maria.
    Por ser morador do RJ, quero muito ler essa obra. Mesmo sendo daqui, nunca fui ao Alemão e confesso que também tenho um pouco daquela imagem que a mídia passa, até porque não conheço pessoalmente o lugar.
    Desta forma, acredito que a obra seria uma boa pedida para quebrar paradigmas e conhecer um pouco mais sobre a localidade.
    Ótima dica.

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  3. Oi Maria, tudo bem? Ainda não conhecia o livro, mas gostei de conhecer. Acho que ia ser um choque de realidade para mim e muito conhecimento. A favela está bem longe da minha realidade. Então acho que o livro ia ser uma ótima forma de conhecer um pouco esta verdade. Mas como a moça falou ali em cima, eu não sei se acredito nesta de favela pacífica. Acho que é mesmo um círculo. A polícia intervem quando as coisas estão muito ruim 🙁
    Mas como eu disse, eu não sei nada real sobre o assunto, então….
    Beijooos
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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