Nós: uma antologia de literatura indígena- Mauricio Negro (Org.)

Na escola nós aprendemos que a literatura brasileira começa naquela época que os livros nos apresentam como “Quinhentismo” e que os primeiros indícios literários que temos foram as cartas e relatos que os portugueses escreverem sobre sua chegada e as impressões que tiveram a respeito daqui. Entretanto, sabemos que a história brasileira começa com a invasão e exploração dos europeus, e que antes disso este território era ocupado por povos originários que falavam mais de 275 línguas diferentes.
 
Se considerarmos que a arte de narrar sempre esteve presente na humanidade (as pinturas rupestres, por exemplo, há milhares de anos, já representavam cenas cotidianas como a caça, rituais etc) não há como sustentarmos a versão dos livros didáticos a respeito da literatura produzida neste solo. Antes da chegada dos europeus, os povos originários, que conhecemos como indígenas, já produziam a literatura oral. A cultura era transmitida oralmente, assim, podemos dizer que muitas narrativas já estavam presentes por aqui.
 
Há décadas pesquisadores e escritores tem se esforçado para recuperar as narrativas presentes na cultura descendente dos povos originários e também reconhecer o valor da literatura produzida por indígenas. Neste sentido, temos como um exemplo de boa publicação o Nós: uma antologia de literatura indígena, organizada e ilustrada por Mauricio Negro. É uma costura de narrativas. São 12 contos escritos por homens e mulheres indígenas a partir das narrativas presentes na cultura de seus respectivos povos. O mais encantador deste livro é a possibilidade que temos de mergulhar em narrativas ancestrais e míticas que têm como cenário a natureza.
 
Cada narrativa vêm acompanhada com informações sobre as autoras, autores e histórico de deslocamento de seus povos pelo território da América do Sul e além disso, com um glossário que explica os termos específicos de cada uma das narrativas. Por exemplo, na língua do Povo Maraguá, o vocábulo Piraguá significa boto.
 
Além de nos deliciarmos com as narrativas, este livro é uma aula sobre cultura e história de alguns povos indígenas. Está na hora de reconhecermos de onde viemos. O livro Nós: uma antologia de literatura indígena está catalogada como literatura infanto-juvenil, mas acredite, é um livro que pode alimentar o espírito de muitos adultos também.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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