Clarice, uma biografia- Benjamin Moser


“Clarice,” é a biografia de Clarice Lispector escrita por Benjamin Moser. Uma biografia completíssima, que vale muito a leitura. Tão completa que até Carolina Maria de Jesus é citada.

O livro é dividido em 45 capítulos não muito curtos mas também não muito longos e em cada um descobrimos uma Clarice frágil, misteriosa, determinada. Uma Clarice que carregou por toda vida a culpa pelo que aconteceu com sua mãe, uma Clarice com uma grande dependência psilógica.

Achei bacana que o livro não aborda só a vida da autora, mas também o contexto histórico da época de seu nascimento, tudo que sua família teve que passar até conseguir chegar ao Brasil e tudo o que ainda tiveram que aguentar mesmo estando no Brasil. É quase uma aula de História em alguns momentos, especialmente quando Moser relata a situação dos judeus e é revoltante e doloroso ter consciência do quanto o ser humano é desprezível por ser achar superior a uma raça quando na verdade somos todos humanos e só isso deveria bastar: “De 1921 a 1922, 1 milhão de pessoas morreram de fome na Ucrânia. Em 1922 Quisbuing estimava que, dos 3 milhões de judeus do país, o número de judeus que sofrem fome e doença é menor do que 2 milhões”.

“Um áspero cacto” é o título do trigésimo primeiro capítulo. É um dos mais curtos do livro e foi um dos que mexeu muito comigo. Nele, Moser fala sobre o dia em que Clarice, após tomar um monte de remédios para dormir, pega no sono com um cigarro acesso e provoca um incêndio em que fica gravemente ferida com queimaduras de terceiro grau.

É um livro que vale muito a pena ser lido. Foi a primeira biografia que li, me despertou o interesse no gênero.

O livro ficou parecendo um arco-íris, cheio de post-its coloridos. Então, para não ficar só em minhas palavras, deixo aqui algumas das citações.

“Ela se debateria ao longo de toda a vida entre a necessidade de pertencer e a tenaz insistência em manter-se à parte” *(p.22)

“(…) O que importa na vida é estar junto de quem se gosta. Isso é a maior verdade do mundo”. (p.245)


” Às vezes no amor ilícito está toda a pureza do corpo e alma, não abençoado por um padre, mas abençoado pelo próprio amor”. (p.436)



“Uma pessoa simplesmente não pode sobreviver sem ceder um pouco de sua liberdade e aceitar os laços necessários que a unem aos outros”. (p.510)


*A numeração das páginas citadas são referentes ao livro da edição pocket.

11 respostas

  1. Bom dia,

    Não conhecia esse livro e com certeza gostaria de ler, mas o tamanho assusta um pouco, não li nada da autora ainda, mas leria sim esse livro…abraço.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

  2. Infelizmente esse não é um livro que eu leria. Não gosto de biografias e nem de livros de história, por isso acho que não leria. Mas para quem gosta da autora e de livros do gênero, deve ser um prato cheio.

    Blog Prefácio

  3. Oi! Tudo bem?

    Caramba, gostei da resenha. Nunca vi esse livro em lugar nenhum e confesso que, assim como o Marco Antonio que comentou acima, fiquei um pouco assustada com o tamanho do exemplar. Mas pelos quotes que destacou e pelos comentários, acho que a leitura deve ser realmente bem válida.

    Um beijo,
    Doce Sabor dos Livros – docesabordoslivros.blogspot.com

  4. Clarice é tão grande e tão plena que ele não precisava explodir seus preconceitos [racismos?] em cima de Carolina Maria de Jesus, a também escritora brasileira.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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