Se o vento diz- José Fernando Guedes


Este é um livro de poesias que estreia o autor carioca, José Fernando Guedes, no mundo literário. Foi publicado em 2016 pela Imprimatur e é prefaciado com maestria por Adriano Espínola.
O principal motivo que me despertou a vontade de ler esse livro foi saber que seu autor, José Fernando Guedes, é neurocirurgião e professor de neurocirurgia (Unirio). Fiquei bem curiosa para saber como seria seus poemas, já que é algo que destoa um pouco de sua área de atuação. Me surpreendi da maneira mais positiva possível. Os poemas são ótimos!

Gostei de todos, mas gostaria de destacar os poemas que me mais saltaram aos olhos: “Quando tu”, que me fez lembrar de Fernando Pessoa; “Olho pela janela”, em que o sujeito lírico do poema faz um breve resumo de sua vida, e faz de uso das palavras de um modo muito assertivo; “Satélite”, em que o assunto principal é o amor e o que ele nos leva a fazer e “Martelando na vizinhança”, pelo uso da linguagem e sua clara alusão a um poema do Manuel Bandeira.
“Ao me deixar meu coração,

Fiquei só.

Fiquei só numa rua desconhecida

Que cruza o mundo circular

Chamado adeus.”

(Estrofe do poema “Meu coração”) 

Na obra como um todo, é assunto recorrente a temática dos pássaros, do vento, da memória, da família, da saudade, do próprio fazer poético, da infância do eu-lírico, a ação do tempo, acontecimentos do cotidiano, o amor em ato e o que vem depois dele.

Em Letras, nós nunca partimos do pressuposto de que a voz que fala no poema ou em qualquer texto literário, é a voz do autor, mas sim a voz do eu-lírico, do narrador, mas neste livro, me arrisco a dizer que a voz do autor se faz presente sim, que por sua voz nos é permitido conhecer um pouco dele e de seus sentimentos, principalmente em relação à família.
O livro já está na 2ª edição, o que acho muito merecido, dada a qualidade dos poemas. O poeta demonstra um domínio avançado da linguagem e da língua e faz verdadeiras maravilhas com ela. Seus versos são de fáceis entendimento e identificação, nem todos são rimados, mas quando o são, as rimas são compostas de modo consciente, servindo a um propósito, não estancam em si mesmas.
“Devo imenso a quem não gosta de mim.

Já que, não tendo que passar a noite em claro

Me consolando quando eu choro

Poderá repousar e pela manhã sair

Para fazer o bem, por nós dois.”

(Estrofe do poema “Devo imenso”)

Claro que cada leitura é diferente de uma para outra, varia de acordo com as vivências prévias do leitor, mas no meu caso, fiquei com a impressão de que alguns versos ou poemas fazem lembrar de Fernando Pessoa, Mário Quintana e Manuel bandeira, o que só confere uma maior riqueza à obra, demonstra-se que o autor tem conhecimento do gênero e não escreve só baseado na inspiração, porque, como se sabe, escrever poesia não tem a ver só com inspiração, tem a ver com transpiração também.
A capa, quase minimalista, dialoga com o conteúdo do livro, merece elogio a qualidade das páginas, no tom amarelado que todo leitor gosta, bom tamanho da fonte. É um trabalho muito bem feito, que tem como único defeito não ser maior, tem pouco menos de 70 páginas, mas o suficiente para saciar um leitor que aprecia uma boa poesia, uma leitura leve para se fazer em algumas horas, ou alguns dias se quiser estender ao máximo o encanto.
Atualmente o autor está trabalhando eu seu primeiro romance e eu boto fé de que na prosa será tão bem-sucedido quanto é no verso.
“Acompanho o ritmo do meu coração

Pulso, silencio, pulso, silencio, parece um vaga-lume faiscando

Quando próximo a você, o vaga-lume

Quase se desfaz numa labareda

É a forma que ele tem de dizer

Que quer amar

Que só existe para amar você

E explodir”

(Poema “Faísca”)

O livro pode ser comprado no site da editora 7Letras, Americanas, Submarino ou Livraria Cultura.  

* Exemplar cedido pela Oasys Cultural (clique para saber mais).

9 respostas

  1. Ooi!
    Ate gosto de poesias, porem não tenho nem um livro apenas disso. Achei interessante a dica e amei os trechos que colocou. Dica anotada!

  2. Hey!

    Não conhecia a obra, pela capa minimalista achei bem interessante, o fato do escritor ser neurocirurgião é mais interessante ainda. Sou apaixonada por poemas, achei a dica super válida.

    Bjos.

  3. Oie.
    Não conhecia o autor, mas já fiquei boquiaberta e maravilhada em saber que ele é um neurocirurgião poeta… Que lindooooo
    Sempre que leio resenhas de livros de poema sinto que devo começar a ler também livros assim, pois estou pobre de poesias.
    Adorei a resenha, principalmente o poema Faísca
    Amei

  4. Eu e livros de poesias não estamos nos entendendo ultimamente. Até gosto de ter alguns para ler uma por dia, animar o espírito, refletir… Quem sabe mais para a frente. Os trechos que você colocou realmente chamam a atenção.

  5. Não sou muito chegada em poemas mas digo que o primeiro que você colocou me chamou a atenção pela questão de como é falado do amor e da solidão, já que sempre estão interligados.

    Greice

    Blogando Livros

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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