Capa brasileira |
Virgílio, advogado e político advindo de uma família burguesa, descendentes dos Barões do Café, os Sá Vasconcelos, apaixonou-se por Cândida, uma jovem que não fazia parte da mesma classe social que ele, mesmo assim, isso não impediu que os dois se casassem. O sentimento que sentiam um pelo outro era recíproco, mas com o tempo, Cândida foi percebendo indícios da possessão de Virgílio, naquela altura, ainda confundidos com amor. O casamento desandou quando ela ficou grávida e ele já não era mais o mesmo, não perdia uma oportunidade de humilhá-la, fazê-la sentir-se mal com o próprio corpo. Quando a criança nasceu, Virgílio, num ataque de ciúmes, achando que a esposa daria mais atenção à filha do que a ele, sugeriu não a criar. Cândida então resolveu sair de casa com a criança, o que teria dado certo não fosse Virgílio ter chegado momentos antes e a impedido, mas de uma forma ou de outra, Virgílio só deixou que a esposa o abandonasse, fez questão de ficar com a filha, Eulália.
“Cabe-me a solidão imposta pelas horas eternas” (p.16)
O que se sabe é que Eulália cresceu sem mãe, aparentemente abandonada quando ainda era um bebê. Tendo o pai como única referência de família e os empregados da casa como únicos amigos, Cesária, a cozinheira, e seu Raimundo, o jardineiro, responsável pelos rosas da casa. Só tem permissão para sair de casa para ir à faculdade e ainda assim, é levada e trazida pelo motorista da família. Por vontade do pai, cursa Direito na USP, por sua vontade, cursaria Letras. É na faculdade, num dia muito chuvoso, que conhece e se apaixona por quem ela chama de Juan García Madero, um poeta. Eulália, ainda que de modo inconsciente, sabe que o pai é controlador e ciumento, não ousaria deixar que ele soubesse sobre seu amor por outro homem.
No dia de seu aniversário de 18 anos, ganha do pai um presente incomum e tem uma surpresa totalmente inesperada, que transforma sua vida de um modo inimaginável, a levando a fugir de casa.
O livro todo se passa no contexto histórico do fim da Ditadura Militar, no ano de 1984, quando se tem uma pressão pelas Diretas Já, objetivando eleições diretas para eleger um presidente da República, uma vez que desde o golpe militar em 1964, não se tinha um representante político democraticamente eleito. Desse modo, o leitor percebe que o livro todo trata da busca pela liberdade, tanto da sociedade, numa busca em âmbito nacional, dado o cenário político de Ditadura Militar e busca da personagem Eulália, em âmbito pessoal, que quer se ver livre do pai e encontrar a mãe. Portanto, pode-se dizer que há uma busca por duas liberdades, uma externa e outra interna.
“Quando não se tem o que comer, o corpo só tem espaço para uma dor, a da fome. Até estar saciada, as outras questões da existência simplesmente não existem. A fome é inexorável e não cede às lágrimas”. (p.85).
Mesmo com todos os elementos do mundo real presentes na história, como o próprio contexto histórico, a Casa das Rosas, que fica localizada na Avenida Paulista, em São Paulo e atualmente é conhecida como Espaço Haroldo de Campos, lugar dedicado à Poesia e Literatura, o livro tem toques do gênero fantástico, tanto por um macaco que fala, um sagui que é o companheiro na fuga de Eulália, que ela o considera como um amigo, quanto pelos mortos terem voz, apesar disso, não é um livro de terror, é um romance de suspense muito bem construído, com uma linguagem fluída, que mescla o português de Portugal com o português brasileiro, mas de uma forma tão natural que quase não se percebe conscientemente e não atrapalha em nada o entendimento do texto, principalmente porque o mesmo é composto por frases curtas e diretas, numa narrativa enigmática, que desde o começo prende o leitor e vai aos poucos dando pistas da verdade.
A narrativa é feita de dois modos: em primeira pessoa quando a voz narrativa é da mãe, Cândida, ou de Eulália, e em terceira pessoa quando os capítulos se referem ao pai, Virgílio, o que permite que o leitor tenha acesso aos pensamentos dele e possa conhecê-lo melhor. Saltos temporais são recorrentes, o que garante o dinamismo na leitura. Juntando os dois, vozes narrativas diversas e não-linearidade, tem-se um ambiente que lembra muito o de um sonho, ainda mais porque os diálogos não são graficamente marcados.
Gostei muito de realizar essa leitura, principalmente porque quando chegamos no final e entendemos tudo que aconteceu, percebemos que desde o início a narrativa dava pistas, mas ainda não se podia saber que eram pistas. É genial e é ótimo, percebemos que o livro foi composto de um modo que se pensou num todo, desde a capa, a folha de rosto e o modo como os capítulos são divididos em partes por folhas pretas, em que o título dá uma ideia do que será descoberto ali, sempre antecedido de uma epígrafe, também em uma página preta. Tudo faz mais sentido quando se chega no desfecho.
Capa portuguesa |
Andréa Zamorano é uma brasileira que mora em Portugal há mais tempo do que morou no Brasil. Este é seu primeiro romance, publicado em 2015 pela editora Quetzal, em Portugal. Chegou no Brasil pela editora Tinta Negra e foi lançado na Festa Literária Internacional de Paraty, em julho desse ano.
22 respostas
Oi, tudo bem? Não conhecia a autora, porque não leio nada da literatura portuguesa contemporânea </3
Mas gostei muito de saber do período histórico, é um dos mais preferidos e sempre gostei de ler livros que tivessem como plano de fundo, ou central, a ditadura. Fiquei interessada por saber também sobre os elementos fantásticos, não entendi como eles se encaixam, mas pelo que você disse, a autora parece conseguir uni-los muito bem com a realidade. Adorei conhecer! Ótima resenha! 🙂
Love, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/
Menina fiquei encantadíssima com essa obra, ainda mais por ser passar no final da Ditadura, isso durante a leitura pode nos revelar como tudo funcionava e como era aceito, dica anotada.
Beijinhos
Nossa, iniciei a leitura da resenha achando que não iria gostar da história e acabei ficando extremamente curiosa para conhece-la. Quero muito saber o que ela ganhou de tão absurdo a ponto de fugir de casa.
Ótima resenha, parabéns!
Olá,
Não conhecia o livro e confesso que não leio tanta literatura portuguesa, mas gostei muito da premissa da história e só temo que a escrita seja um pouco rebuscada, mas ainda assim vou anotar a dicar e ler futuramente.
Abraços,
Cá Entre Nós
Oi, Maria.
Fiquei encantada com a sua resenha, vou já procurar o livro, porque realmente me interessei e quero ler!
Gosto muito de livros que se passem na época da ditadura, e os toques fantásticos que você citou também me deixaram curiosa.
Abraços
Universo Tácito
Oi Vivianne.
Garanto que a escrita não é rebuscada e dá para entender tudo tranquilamente 😉
Oi Morgana.
Que bom que o livro te interessou. Tenho certeza que irá gostar!
Abraços.
Olá!
Gosto muito de livros que tem cenários marcantes como a Segunda Guerra e a Ditadura. Fiquei muito impactada por essa trama e com certeza vou querer ler!
beijinhos!
Nao conhecia o livro ainda, mas duas coisas me chamaram atenção, o fato de misturar ficção e realidade e de acontecer no final da ditadura brasileira.
Bjs, Rose
Nossa, eu não conhecia o livro e já fiquei completamente interessada nele. Eu gosto bastante de livros com conteúdo histórico e estou estudando na faculdade política da educação, estou vendo as leis da época da ditadura em relação à educação e fiquei horrorizada. Adorei a sua resenha e poder conhecer o livro.
Ola!!
Não conhecia a autora, mais fiquei com uma imensa vontade de ler e saber que presente incomum é esse, e qual é a surpresa inesperada é essa a ponto da Eulália fugir de casa, to muito curiosa e gostaria muito de ler!! Parabéns pela resenha, me cativou inteiramente!!
Olá!
Eu não conhecia essa história, mas só do fato de trazer um pouco de história fiquei animada. Parece muito rica e cheia de detalhes de tempos difíceis.
Dica anotada!
Beijos!
Camila de Moraes
Uauuu amei!
Mistério, contexto histórico, liberdade, vc falou algumas palavras mágicas para mim!
Anotado! bjoss
Gostei da história desse livro. O contexto histórico e o mistério me chamaram a atenção.
Beijos
Mari
Pequenos Retalhos
Nunca tinha ouvido falar do livro.
Confesso que não sou muito de ler livro de períodos históricos, mas fiquei bem interessada na leitura desse.
Quero saber porque Eulália fugiu.
Gostei muito da premissa do livro e do enredo. Parece ser de uma leitura muito boa e espero lê-lo em breve.
Adorei, beijinhos.
Adorei a capa o que de cara já chama atenção e com a resenha nao foi diferente. Parece ser uma leitura tensa devido ao tempo que ocorreu, cada vez mais me interesso por esse temas e pós guerra.
Olá.
Nossa, se tem ditadura militar já me interessa, adoro o assunto e não dispenso uma dica.
Não conhecia o livro, mas percebi que o enredo foi bem elaborado e desenvolvido. Anotei a sugestão, a resenha me convenceu.
Beijos
nossa,curti tudo no livro, desde a ambientação, quanto a narrativa e os elementos que o fazem ser um suspense bem elaborado… nunca tinha ouvido falar da autora e já fiquei curiosa pra conhecer sua escrita… sonho da vida conhecer A casa das Rosas algum dia…
adorei a questão do contexto histórico-politico-social…
sugestão anotada… bjs ^^
Olá, tudo bem?
Owmm que obra linda.
Amei a premissa desse livro e o fato de ter um cenário real só me deixou ainda mais entusiasmada na leitura.
Acredito que ao fim da leitura da uma enorme vontade de fazer turismo na casa e relembrar os fatos os imaginando de forma mais nitida assim né?
Dica anotada
Se tiver a oportunidade lerei com certeza
Beijos
Oi Aline. Fico muito feliz em saber que você ficou realmente interessada no livro. Espero que goste tanto quanto eu gostei.
Abraços.
Oi, tudo bem?
Gosto de histórias com contexto histórico, mas histórias que são ambientadas na época da ditadura não gosto não.
Bjs