Conectadas- Clara Alves


Conectadas, de Clara Alves, publicado pela Editora Seguinte, é um livro protagonizado e narrado intercaladamente por duas garotas: Ayla e Raíssa. As duas se conhecem em um jogo de computador chamado Feéricos. Quando Raíssa entra no jogo ela é excluída e passa por situações machistas simplesmente por ser uma garota, então para resolver esse problema cria um avatar masculino, inspirado em seu melhor amigo Leo. Quando conhece Ayla no jogo, a menina está passando pelos mesmos problemas que Raíssa passou, então resolve ajudá-la, mas com seu avatar masculino e não revela sua verdadeira identidade.
Aos poucos, uma amizade que começou graças ao jogo vai evoluindo para algo mais pessoal e as duas garotas vão se apaixonando, o que é um problema para Raíssa porque ela tem que sustentar uma identidade falsa, precisando muitas vezes recorrer ao seu amigo Leo para chamadas de vídeos. Assim, uma mentira que era para ser inocente, envolve mais pessoas, mas por morarem em cidades diferentes, Raíssa pensa que ela e Ayla nunca chegariam a se conhecerem pessoalmente.
Quando é anunciada a primeira feira de Feéricos em São Paulo, as duas garotas querem muito ir, o que preocupa Raíssa que já está envolvida em uma bola de neve de mentiras, enquanto Ayla faz o possível para a aproveitar a oportunidade de conhecer quem ela pensa que é seu amado. Como será que Raíssa sairá dessa enrascada que ele mesma se meteu?
Conectadas traz personagens diferentes dos que estamos acostumados a vermos pois suas protagonistas são não-brancas, Raíssa é de descendência indígena e Ayla é de descendência asiática, ambas LGBT e o melhor amigo de Raíssa é assexual. É um livro que foge da heteronormatividade tão presente nos livros desse gênero e trata de forma muito natural sobre a questões de sexualidade. 
As protagonistas são muito bem desenvolvidas e aprofundadas, cada uma com suas próprias questões. Raíssa faz parte de uma família que a ama, mas ainda não se sente confortável para contar para seus pais sobre sua atração por garotas, enquanto Ayla está no meio de um furacão familiar, com seus pais passando por uma crise no casamento, sem perceber o quanto a situação deles a afeta, fazendo com que influencie seu comportamento na escola. De uma forma ou de outra, as duas veem no jogo uma forma de escape e ao mesmo tempo de encontro, evoluem e amadurecem ao longo da narrativa.
A importância de Conectadas está no fato de que traz à tona a discussão sobre mulheres que são gamers e o quanto o ambiente dos jogos, por ser majoritariamente masculino, não é receptivo a essas mulheres, além de que é um livro que faz refletir sobre identidades e descobertas, passando uma mensagem muito bonita sobre autoaceitação.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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