O ritmo romanceado de “Instruções para Dançar”, de Nicola Yoon

Em Instruções para dançar somos apresentados à história de Evie, uma jovem negra norte-americana de 17 anos que está passando por um momento muito complicado em sua vida: a separação dos seus pais. Romântica por natureza, Evie não consegue processar e lidar com a situação, já que em sua mente ela nunca imaginou que seus pais se separariam um dia, e tudo se complica ainda mais porque ela flagrou o pai no ato da traição. Sem conseguir morar na casa em que a família vivia com o pai, repleta de lembranças, Evie, Danica, sua irmã, e sua mãe, precisavam mudar de casa. Elas simplesmente não conseguem se adaptar a uma nova rotina em que a figura paterna não estará mais presente.

Evie foi gradativamente deixando de acreditar no amor devido ao trauma da traição paterna. Desiludida, decide doar todos os seus livros de romance. Mas no caminho algo inexplicável aconteceu: uma senhora a abordou e a presenteou com um livro chamado Instruções para dançar. Evie acabou aceitando, e nesse livro tinha o endereço de uma escola de dança com um bilhete dizendo que em caso de perda o livro deveria ser devolvido no endereço. Ao devolver o livro no endereço, algo inexplicável aconteceu com Evie: toda vez que ela via um casal se beijando, ela começava a ter visões de toda a história desse casal, inclusive o momento do término da relação.

Por alguns motivos, entre eles se distanciar do que estava acontecendo em casa, Evie acaba aceitando começar a fazer aulas de dança quando vai devolver o livro. Mas, como estamos em um romance romântico, Evie acaba conhecendo e se apaixonando por Xavier, um garoto que é o neto dos donos da escola de dança. Então os dois vão fazer um par em um concurso que pode salvar financeiramente a escola.

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Algo legal que a autora Nicola Yoon faz aqui é quebrar um pouco as nossas expectativas ao inserir um final que o público não está esperando. Um final que apesar de não ser o que eu estava esperando, é um final válido. Essa é uma leitura que lemos com um quentinho no coração e às vezes passando um pouquinho de raiva porque a protagonista tem 17 anos, ou seja, é uma adolescente. Evie vai aos poucos se abrindo para viver um relacionamento com Xavier, e é interessante acompanhar como que isso se dá, esse quase retorno a acreditar no amor por meio do que ela está vivendo.

Aqui temos uma história muito fofa, muito fácil de ler e muito fluída, que nos faz sentir vontade de dançar, mas também nos faz pensar muito em luto. Seremos incentivados a pensar sobre como devemos nos declarar para as pessoas enquanto elas estão vivas, ao nosso lado, de aproveitar todos os momentos importantes com quem amamos.

A autora escreveu um livro que passa uma mensagem muito bonita, além da descrição dos personagens ser muito bem feita, exaltando características que revelam se um pessoa é branca ou negra, sempre atribuindo características e referências positivas à beleza negra, o que é muito importante porque na maioria das vezes pensamos que um personagem é naturalmente é branco se não tiver uma descrição muito bem feita da cor da pele dele, do cabelo.

Além de Instruções para dançar — publicado pela editora Arqueiro, e traduzido por Fernanda Abreu —, que é uma obra que nos faz pensar sobre a idealização do amor e sobre ser realista, a autora também escreveu Tudo e todas as coisas, de 2016, O sol também é uma estrela, de 2019, e tem participação no livro Blackout: o amor também brilha no escuro, de 2021, sendo os dois primeiros, também sucesso no cinema, já que receberam adaptações alguns anos após suas respectivas publicações.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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