Ascensão social e negritude em “Um traço até você”, de Olívia Pilar

No romance Um traço até você, publicado pela Intrínseca, a autora Olívia Pilar destaca-se por sua abordagem centrada em raça e gênero através de uma narrativa concentrada em Lina, uma jovem negra de 18 anos que cursa Administração, mas cujo verdadeiro desejo é tornar-se ilustradora, um sonho que sua família não apoia plenamente. A trama se desenrola quando Lina decide participar de um curso no Chile, mas seus pais não a ajudam financeiramente, o que a leva procurar um estágio na universidade.

O enredo também introduz Elsa, outra jovem negra universitária, e desenvolve um romance entre as duas que explora a relação entre duas mulheres negras, destacando questões como aceitação familiar, identidade sexual e os desafios de ser negra em diferentes estratos sociais. A autora habilmente aborda a questão da ascensão social e negritude, questionando se a ascensão social realmente protege as pessoas negras contra o racismo.

A trama evolui com Lina enfrentando situações de discriminação racial mesmo vindo de uma família rica, e a narrativa destaca a importância da consciência racial, mostrando como a personagem amadurece ao nomear e compreender experiências de racismo ao lado de Elsa, que exerce na narrativa o papel mostrar para Lina e para quem está lendo, as diferenças de vivência entre as duas famílias, sendo Lina de família abastada, e Elsa, de uma realidade mais humilde.

Portanto, o romance possui uma narrativa fluida. Olívia Pilar constrói aqui um livro capaz de prender o leitor, com representatividade sáfica e negra. Um dos destaques do romance é como a narrativa equilibra amor, vivências de mulheres negras e reflexões sobre a realidade social e racial. Também recomendo Um traço até você especialmente para quem gostou de O ódio que você semeia, da autora norte-americana Angie Thomas.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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