Sempre fui um aficionado por fotografia. Quando criança eu odiava aparecer em fotos — costume que carrego até os dias atuais —, mas era fascinado pelas fotografias que meus pais batiam. É engraçado, certo? Até mesmo o ato de fotografar ganhava um nome diferente. Enfim, já adolescente eu passei horas olhando álbuns com fotografias de familiares, rememorando qual desculpa eu havia inventado para não sair nas fotos. Já adulto, o único álbum que sobreviveu em nossa casa funcionava como um portal para uma época em que todos ali, com exceção de uma ou duas pessoas, passaram a ser completamente estranhas para mim.
Ainda no início da vida adulta descobri duas fotógrafas que se tornaram minhas favoritas: a primeira é Diane Arbus, que fotografava os estranhos, os freaks e os outsiders — muito se explica pela minha paixão por seu trabalho: era assim que a sociedade me enxergava, e por conseguinte, era assim que eu me via. Logo, me ver representado nas suas fotos era meu lugar seguro. A segunda é Vivian Maier, uma babá americana que nas horas vagas fotografava pessoas nas ruas — e a si mesma — e revelava as próprias fotos em seu quartinho de empregada. Quando Maier morreu foram descobertos cerca de 100 mil negativos de suas fotografias. Hoje em dia ela é considerada um dos maiores nomes da categoria Street photography.
Finalmente, em 2010 comprei minha primeira câmera, uma Canon bem simples que eu usava para tirar fotos de tudo que eu encontrava pela frente. Logo, foi sintomático eu me apaixonar por fotografia analógica, uma vez que minhas duas fotógrafas preferidas fotografavam de tal forma. Ah, eu também era fascinado por Robert Capa, fotógrafo correspondente de guerra que cobriu guerras como a Guerra Civil Espanhola; e pelo francês Henri Cartier-Bresson, conhecido como “o mestre das fotos cândidas”. Flertei com fotografia analógica por cerca de 5 anos, até que ficou inviável o ato de revelar filmes na minha cidade, e atualmente, meu contato com a fotografia se limita a filmes, documentários, fotógrafos que eventualmente descubro no Twitter ou Instagram, e por último, mas não menos importante, fotografando minha namorada.
A fotografia foi e sempre será uma das minhas eternas paixões — ao lado da literatura e da música —, portanto, compilei neste 19 de agosto quatro livros que celebram a cultura afro-brasileira sem objetificar o corpo negro e que dialogam com a proposta do blog.
Bom, vamos aos livros.
1 – Laroyè
Autor: Mario Cravo Neto
Editora Aries
Créditos: Mario Cravo Neto
Laroyè é uma celebração às formas culturais, aos elementos religiosos e às poderosas imagens de Salvador. É o que este livro de Mario Cravo Neto nos apresenta. O fotógrafo adentra terreiros de Candomblé Iorubá em Salvador, e através de fotografias coloridíssimas de crianças, adultos, mercados, praias e ruas aglomeradas dedica o livro a Exú Marabô e seus mitos. O que salta aos olhos é a cor azul. Seja na ladeira, seja no mar, os corpos negros se perdem nas sombras. (Foto: Mario Cravo Neto)
2 – Candomblé
Autor: José Medeiros
Editora Instituto Moreira Salles
Créditos: José Medeiros/Instituto Moreira Salles
Publicado em 1957, Candomblé, de José Medeiros, nasceu de um ensaio para a revista O Cruzeiro em 1951. Medeiros foi um dos primeiros fotógrafos a poder fotografar os terreiros e seus rituais. Esta nova edição publicada em 2009 pelo Instituto Moreira Salles contém todas as imagens originais, bem como o ensaio “As noivas dos deuses sanguinários” citado acima. O ensaio ficou conhecido pela polêmica causada no meio do candomblé devido ao tom sensacionalista das imagens de sacrifício de animais e outros detalhes das cerimônias, mas com o lançamento das fotografias em livro, o autor, agora livre da pressão da revista, aplicou sua ideia original de mostrar a beleza das pessoas e da religião. (Foto: José Medeiros)
3 – Pele Preta
Autor: Maureen Bisilliat
Editora Instituto Moreira Salles
Créditos: Maureen Bisilliat/Editora: Instituto Moreira Salles
Publicado pelo Instituto Moreira Salles em 2010, Pele Preta viaja ao passado, para os anos de estudante da fotógrafa Maureen Bisilliat, mais precisamente em 1966, na exposição Skin Black no MAM-SP. Seja na sensibilidade ao escolher, mostrar e esconder nas sombras membros quase que de forma abstrata, seja por um olhar infantil de contestação, ou, em uma das mais belas imagens do livro, o Menino-Anjo, Bisilliat fotografa os corpos — às vezes nus, às vezes vestidos — negros de suas modelos sem o tão famigerado olhar de objetificação e exotificação. (Foto: Maureen Bisilliat/Acervo IMS)
4 – Retratos da Bahia
Autor: Pierre Verger
Editora Corrupio
Créditos: Pierre Verger/Editora Corrupio
Bairros, arquitetura baiana, monumentos e sobrados. É o que o fotógrafo e etnólogo francês se propõe a nos mostrar através desse livro-autobiografia. De acordo com a Fundação Pierre Verger, “Essa obra que virou um clássico de Verger, conta com várias reedições. Nela, o autor desvenda o charme e a beleza da cidade de Salvador entre as décadas de 1940 e 1950, retratando sua arquitetura, mercado, candomblé, porto, festas populares e artistas. No livro encontram-se todos os aspectos da cidade que encantaram Pierre Verger desde a sua chegada, em 1946, até a sua morte.” (Fotos: Pierre Verger)
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