Um pai de segunda viagem, já na casa dos cinquenta, teme não poder fazer parte da vida de sua filha recém-nascida, dada sua idade já avançada. Para suprir essa possível ausência, o pai escreve em um caderno, suas memórias e ensinamentos que quer deixar para a filha. Expressando seu amor e sentimentos antes mesmo da filha nascer.
O caderno é escrito desde o nascimento da filha até seu primeiro ano de vida. Nesse meio tempo, mostra-se um pai presente e marido apaixonado, com declarações de amor comoventes, presentes em pequenos detalhes, que o leitor atento consegue perceber. Como por exemplo, dizer que a mulher acorda com “os cabelos trançados pelo travesseiro”, ao invés de dizer que acorda com os cabelos bagunçados. São pequenos detalhes como esse que deixam transparecer todo seu amor e atenção.
“(…) porque a equação é simples, Bia, vida menos poesia igual vazio, pássaro menos canto igual angústia, você menos eu igual seu futuro”. (p.71)
Com a narrativa em primeira pessoa, numa prosa poética cheia de metáforas, o pai promove reflexões filosóficas a cerca da vida e do que engloba estar vivo, com uma precisão vocabular e lirismo sem iguais
Embora o livro esteja celebrando um nascimento, a morte faz-se presente em muitos momentos: seja na gravidez de risco vivenciada pela mãe, na certeza do pai de que não poderá acompanhar a evolução da filha, na impossiblidade de Bia conhecer algumas pessoas. O que torna a narrativa mais fidedigna, como na vida real, não se pode ignorar que a morte nos cerca. Para morrer, basta estar vivo.
Publicado pela extinta Cosac Naify, o livro segue a qualidade gráfica característica da editora. Possui um formato pouco encontrado no mercado, pequeno, o que lembra um caderno de anotações, folhas coloridas em um tom de bege, meio creme e os grafismos, espaços em branco que refletem os silêncios e ausências da narrativa.
5 Comentários
DESBRAVADORES DE LIVROS
31 maio, 2016 em 15:56Ah, como a Cosac Naify fará falta!
Não conhecia esse livro deles, mas fiquei muito curioso com o enredo. Já li uma obra parecida e amei. Acredito que esta terá o mesmo efeito sobre mim. Sem dúvidas, esse lirismo que a obra contém irá me ganhar.
Maravilhosa resenha.
Desbravador de Mundos – Participe do top comentarista de maio. Serão três vencedores!
Gislaine
31 maio, 2016 em 15:56Oi Maria, tudo bem?
Só para avisar, essa foto é maldade hein? Hhahah. principalmente para uma chocólatra como eu :3
Ainda não conhecia o livro, mas achei bem interessante.
Quando minha afilhada nasceu eu comprei um livro. A ideia era escrever nele e tal e dar de presente a ela quando fizesse 15 anos. Mas a ideia acabou morrendo. Escrevi nos primeiros meses e depois parei 😛 Uma pena, pois seria um presente bem especial 🙂
Então claro que o livro me atraiu. Só fiquei meio assim. 50 anos é muito novo ainda 😛
O livro é antigo ? (daí daria para entender a baixa expectativa de vida) ou então o cara era doente? Porque hoje em dia, as pessoas estão praticamente começando a vida aos 50 anos 🙂
Beijooos
http://profissao-escritor.blogspot.com.br/
Sil
31 maio, 2016 em 15:56Olá, Maria.
Não conhecia esse livro ainda e gostei bastante da capa dele. Super simples. E o enredo me pareceu ser emocionante. Mesmo com essa sensação de morte pairando imagino como deve ser para um filho ler algo assim depois de adulto.
Blog Prefácio
Maria Ferreira- Impressões de Maria
1 junho, 2016 em 00:06Que ideia legal, Gih! Seria um presente muito especial mesmo.
Você acha que 50 anos ainda é muito novo? Eu já acho que com essa idade já naõ é tão novo assim, rs.
Não, o livro é recente. É que o personagem acha que já é uma idade um pouco avançada quando se pensa em ter um filho.
Abraços.
Maria Ferreira- Impressões de Maria
1 junho, 2016 em 00:07Já está fazendo, Marcos! Já está fazendo.