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Literatura

Slam e ancestralidade

A 26º edição da Bienal do livro de São Paulo é o maior evento em celebração à literatura na América Latina que reúne editoras, escritores e leitores, teve não só os livros como principal temática do evento, mas também diálogos. Conversas negras da periferia para a Bienal no estande CSMB que abriu uma mesa entre poetas e artistas plurais como Sérgio Vaz, Roberta Estrela D’Alva, Luz Ribeiro, Jô Freitas entre outres, para falar sobre Slam e ancestralidade, em uma conversa mediada por Rodrigo Ciríaco.

O papo começa quando os artistas, que também são poetas e slammers, relembram os tempos de Sarau da Cooperifa, evento muito conhecido entre a população paulista da zona sul de São Paulo. Lugar em que a poesia nasce por meio da coletividade e onde a tradição da oralidade enquanto lugar e tempo de fala é muito respeitado. O sarau é uma referência entre os slammers, pois além de sua tradição, é onde muitos artistas começam a declamar sua poesia e tomar posse de sua palavra para ser ouvido.

A atriz Roberta Estrela D’Alva menciona como a oralidade veio muito antes da escrita e fala, enquanto pessoa negra, da importância em manter a existência desses pequenos quilombos onde todas as pessoas podem falar, compartilhar seus escritos e disseminar a poesia na forma de resistência à opressão social que a periferia e as pessoas que residem nela estão submetidas. Na Cooperifa cada pessoa tem um tempo previamente determinado para falar, cita como Sérgio Vaz fica zangado quando ultrapassam o tempo ou quando tomam o microfone sem ter o momento de fala, porque ao passo que muitos querem falar, a coletividade não é edificada quando só uma pessoa tem posse da fala, por essa razão levam tão a sério a construção de um espaço de resistência que em possa haver tempo hábil para que todos possam falar e serem ouvidos.

Luz Ribeiro, que além de poeta também é atriz e slammer e ganhadora de importantes torneios de poesia, fala sobre a sensação de vencer e competir. Diz sentir necessidade de se colocar no local de escuta quando está batalhando. Para além da posição passivo-agressiva que se tem quando nas rodas de rimas em uma competição, o slam é aprendizado para as pessoas que o assistem, é um espaço que propulsiona sonhos de jovens artistas que geralmente “começam” no slam.

Roberta Estrela D’Alva e Luz Ribeiro falam sobre como as artes se conectam. Elas são poetas e atrizes, mas hoje percebem que a arte de completar as habilidades se unificam para a construção de suas identidades artísticas. Falam sobre a importância de usar seus lugares de fala com responsabilidade, pois além da poesia ser um lugar de afeto e ancestralidade, também é um veículo de formação, de modo que tratar de assuntos sérios não é somente pelo divertimento da rima, mas é também uma maneira de ocupar espaços e impulsionar a coletividade da favela para o mundo.

O encontro termina com Rodrigo Ciríaco falando sobre como os livros precisam chegar ao público mesmo que de forma alternativa e como esta é uma possibilidade de mudar o mundo por meio da formação e construção de pensamento crítico não somente para jovens, mas também para adultos. Jô Freitas declama uma poesia de sua autoria que fala como empregadas domésticas, momento em que particularmente me sensibiliza muito e toca a todos do público, sua encenação e voz presente tem a capacidade de arrepiar os pelos e poros com a força da palavra.

Tu me querias empregada e hoje é dos livros que eu me armo” – Jô Freitas

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