5 filmes para o Dia do Cinema Brasileiro

Se tem uma coisa que me tira do sério, é ver pessoas falando — sem nenhum embasamento — que o cinema nacional não presta e que as obras daqui não chegam aos pés dos filmes hollywoodianos. Oras, se você quiser uma dica para descobrir quando uma pessoa não tem nenhum conhecimento acerca do riquíssimo cinema brasileiro, basta apenas prestar atenção: a frase “O cinema nacional é ruim” é um atestado de ignorância cultural. Quem fala essa baboseira geralmente imagina que o cinema nacional ainda se resume às lamentáveis produções produzidas na década de 80, ou às estreladas por Leandro Hassum nos últimos 20 anos. É perceptível quando estão criticando o nosso cinema sem fundamento. Não que eu precise de fato provar o quão belo é o nosso cinema, mas como hoje é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro, quero fazer um pequeno exercício de memória e falar brevemente sobre 5 filmes maravilhosos — sendo os 4 primeiros lançados na última década; e o último, um marco do cinema brasileiro. 

1 – Febre do Rato, 2011 (Claudio Assis)

Dirigido por Claudio Assis com a sua já conhecida estética provocadora, “A Febre do Rato” tem como protagonistas Nanda Costa, Irandhir Santos e Matheus Nachtergaele e narra a quase história de amor entre o poeta anarquista Zizo (Santos) e Eneida (Costa). Banhados pela belíssima fotografia em preto e branco, os corpos suados transformam-se em esculturas em movimento lutando contra o status quo do sistema — que aqui ganha vida através da direita reacionária do Recife. Disponível na Netflix.

2 – Boi Neon, 2015 (Gabriel Mascaro)

Protagonizado por Iremar (Juliano Cazarré), e (Galega) Maeve Jinkings, “Boi Neon” é uma belíssima história sobre sonhos. Mais precisamente sobre o sonho de Iremar, um trabalhador de rodeios que sonha em ganhar a vida como estilista de luxo. Nas horas vagas ele cria fantasias para um show erótico com imagens belíssimas, principalmente as noturnas. Mascaro constrói um mundo em que os personagens se encontram constantemente em situações que não suportam, mas que irão fazer de tudo para atingir seus objetivos. Disponível na Netflix.

3 – O Lobo Atrás da Porta, 2013 (Fernando Coimbra)

Protagonizado por Rosa (Leandra Leal), o filme é considerado um dos suspenses nacionais mais elogiados da última década. Apostando na tensão, no desejo de um triângulo amoroso, na traição e na dor, Coimbra conta a história de Sylvia, uma mãe que luta para descobrir o paradeiro da filha sequestrada. Baseado em fatos reais — neste caso, um crime cometido na década de 60. Leandra Leal brilha, entregando uma das melhores atuações de sua carreira. O elenco ainda conta com Milhem Cortaz e Fabiula Nascimento como os pais da criança desaparecida. Em 2015 o filme foi considerado pela Abraccine um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Disponível no Itunes.

4 – Amor, Plástico e Barulho, 2013 (Renata Pinheiro)

Talvez o meu filme nacional preferido de todos os tempos, o coloridíssimo “Amor, Plástico e Barulho” aborda o submundo de um gênero musical do qual não sou fã: o Brega. Estrelado por Maeve Jinkings e Nash Laila, o filme é basicamente um épico de 90 minutos sobre o desejo conquistar um lugar ao sol onde tudo é descartável. Shelly (Laila) é uma jovem cantora que sonha em ser a vocalista de uma banda de Brega de pernambuco, mas para isso, ela precisa entender, enfrentar e lutar para não se enxergar em Jaqueline (Jinkings), sua companheira de banda que já está em decadência, prestes à abandonar os palcos. Destaque para as atuações de Jinkins e Laila, mas principalmente para a montagem de Eva Randolph. Disponível na Globoplay e na Vivo Play.

5 – Amor Maldito, 1984 (Adélia Sampaio)

Primeira mulher negra a dirigir um longa brasileiro, Adélia Sampaio é uma lenda do cinema nacional, mas que é praticamente desconhecida do grande público. Em “Amor Maldito”, conhecemos duas jovens Sueli, uma ex-miss, e Fernanda, uma executiva. O amor surge e ambas decidem morar juntas. Porém, quando um jornalista aparece entre as duas, a vida de amor delas é abalada, ganhando tons trágicos quando um assassinato acontece. O “maldito” do título pode indicar como a sociedade entendia o amor entre pessoas do mesmo sexo naquela época. Como forma de tentar fazer com que sua obra alcance um público novo, a cineasta lançou um canal no Youtube onde posta seus filmes na íntegra. Amor Maldito está disponível de graça aqui.

Estes são apenas alguns exemplos do nosso riquíssimo cinema. Para mais filmes da mais alta qualidade, indico essa postagem do crítico de cinema brasileiro Pablo Villaça, que ao ser desafiado por um desses detratores do cinema nacional a listar pelo menos 20 bons filmes nacionais, listou 90!

Viva o cinema brasileiro!


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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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