Aída: Um conto de Liberdade, é um conto escrito por Mariana Ribeiro e publicado de forma independente na Amazon, também disponível para leitura no Kindle Unlimited.
Narrado em terceira pessoa, nesse conto conhecemos Aída Crioula, que nasceu livre em Salvador, mas ainda pequena, aos 12 anos, foi levada para uma fazenda de café no Vale do Paraíba, onde teve que servir como mucama da esposa do Comendador Fernão de Oliveira Gusmão.
Aída teve uma trajetória muito diferente de muitos de seu povo porque teve acesso aos estudos e isso fez com que ela fosse uma pessoa questionadora, extremamente inteligente e que não aceitava sua condição de escravizada tão facilmente. O conto tem início com a narrativa de quando Aída foi capturada após uma de suas tentativas de fugas.
Historicamente ambientado em um Brasil imperial, no ano de 1850, o conto nos permite conhecer as dinâmicas e a linguagem da época. Era comum que mesmo escravizados libertos ainda permanecessem em situação de subserviência, foi o que aconteceu com a mãe de Aída, trazida da Etiópia para o Brasil.
O que me encantou em Aída foi o fato dela não desistir de lutar não só pela sua liberdade, mas também pela liberdade do seu povo. Isso explicita o quanto o povo negro foi unido em prol de uma causa comum e por mais que os senhores brancos tentassem separar famílias e pessoas de um mesmo povo, eles arranjavam modos de organização coletiva, ajuda mútua e resistência.
O conto também deixa explícito o modo como funcionava aquela sociedade, com base na escravização de povos africanos, uma sociedade dominada por homens brancos patriarcais, que mesmo casados com suas esposas brancas, mantinham uma relação de poder com elas e com as mulheres escravizadas, enxergando essas últimas como objetos que serviam para reproduzir e aumentar o número de escravizados. Por se acharem proprietários, entendiam que o corpo das mulheres negras lhes pertenciam e não foram raros os muitos episódios de estupros de mulheres negras.
Aída é uma mulher extremamente sagaz, que tem uma visão ampla das opressões que sofre não apenas por ser negra, mas também por ser mulher. Há cenas em que ela conversa com a sinhá em que transparece o seu entendimento: “- Sinhá, não consegue perceber que a rivalidade de uma mulher para com a outra sempre foi incentivada pelos homens, com o único intuito de nos submeter a uma submissão cega?”. E algo que o conto trabalha muito bem é mostrar que por mais que a sinhá e Aída tivessem em comum a condição de gênero, ambas serem mulheres, elas não partilhavam da condição de raça, e este era um fator primordial para a organização das relações. Portanto ser mulher branca, ainda que fosse subjugada em uma sociedade patriarcal, permitia alguns privilégios, como por exemplo, exercer poder sobre os negros.
Sabe-se que historicamente os negros escravizados da Bahia foram responsáveis por muitos levantes, sendo um deles, talvez o mais conhecido, a Revolta dos Malês, que aconteceu em 1835 e Aída, sendo baiana, também deixa isso bem explícito, sendo insubordinada. Ela é uma mulher que não se contenta com sua condição e luta para mudá-la.
Muitas vezes durante a leitura, lembrei da história de vida de Luiz Gama, que também nasceu livre, foi escravizado, conseguiu provar sua liberdade e depois passou a atuar como advogado para libertar os que estavam na condição que ele esteve.
Aída: Um conto de Liberdade é uma ficção histórica que tem muito de realidade, com descrições feitas na medida certa para nos fazermos visualizar as cenas de modo exato e com diálogos que nos levam diretamente para um Brasil do século XIX, evidenciando que a pesquisa histórica para construção dessa narrativa foi muito bem feita. A autora Mariana Ribeiro mostra-se uma exímia contista e terminamos o conto querendo ler mais sobre Aída.
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(Esta é uma resenha paga e reflete a minha sincera opinião).