Escrito por N. K. Jemisin e traduzido por Ana Cristina Rodrigues, Os cem mil reinos é um livro de fantasia adulta publicado em 2021 pela Galera Record. As obras de N. K. Jemisin abordam temas como culturas diversas, racismo, opressão, etc. E ela é uma autora premiada com o Nebula e o prêmio Hugo de melhor romance por três vezes consecutivas.
Em Cem mil reinos, antes do mundo ser é e se tornar os Cem mil reinos, existiam 3 deuses. O primeiro a nascer do Turbilhão (aquele que criou os três) foi o Senhor da noite, Nahadoth, e passou muito tempo até nascer Itempas, o Senhor iluminado. Primeiro eles lutaram por eras, depois esse sentimento se transformou em algo diferente, então eles se amaram por eras.
Por último, veio Enefa a senhora do crepúsculo e da alvorada. Os 3 se completavam e se amavam, até que houve uma grande guerra entre os Deuses. Enefa foi considerada uma traidora e por isso foi morta por Itempas, o grande vitorioso dessa batalha. Assim, ele se torna o Mestre dos Céus e da Terra, o Pai do Céu. Já Nahadoh e os filhos que ficaram ao lado de Enefa nesta guerra, acabam sendo escravizados e aprisionados em corpos humanos, condenados a obediência.
Yeine é uma menina de 19 anos que acaba de perder a mãe (Kineth) e essa morte traz muitas dúvidas, já que não foi natural. Logo em seguida, ela é convocada por seu avô materno, Dekarta Arameri, a comparecer na cidade Céu. Este convite que não poderia ser recusado, uma vez que Dekarta é o líder da família Arameri, que por sua vez governa os Cem mil reinos desde o final da guerra dos Deuses. Yeine acredita que nessa visita poderá descobrir mais sobre o passado e a morte de sua mãe, pois Kineth era a herdeira do trono, porém renegou a linhagem quando casou com um homem de uma etnia diferente da sua.
O pai de Yeine pertencia a nação Darr, um povo de pele negra regido por uma sociedade matriarcal, já Kineth, sua mãe, pertencia aos Arameri, pessoas com a pele clara, considerados a família mais poderosa do reino, além de possuírem o “controle” dos deuses escravizados.
Quando Yeine, chega na cidade Céu, descobre que seu avô quer nomeá-la uma das herdeiras, contudo, para acender ao trono ela terá que entrar em uma disputa com seus dois primos. A menina claramente não tem escolha e assim acaba ficando na cidade, onde aprende o que é realmente ser uma Arameri, também começa entender que seus conhecimentos sobre a história dos deuses não estão totalmente corretos. Já que geralmente em uma guerra, o vencedor e seus seguidores fazem de sua versão a verdade.
Os cem mil reinos é um livro cheio de camadas, ele trabalha vários temas, por vezes de maneira bem sútil. A primeira coisa que chama atenção é a forma como os Arameri consideram os costumes do povo Darr selvagens. Os Darr são um povo guerreiro e Yeine é chefe dessa tribo, eles têm uma sociedade, onde são as mulheres que lutam e tomam decisões políticas. Então, existe um preconceito muito grande por parte dos Arameri com a menina.
Outro fato interessante é a forma como a autora mostra o quanto os vencedores em uma guerra impõem sua vontade, obrigando os “perdedores” a incorporar suas crenças e costumes. Chegando ao ponto de punir de maneira extremante cruel, qualquer um que não venere apenas Itempas. Acredito que nem precisamos pensar muito para encontrar comparativos na nossa própria história e sociedade. Quantos países colonizados não tiveram sua cultura e crenças renegados, obrigados a seguir os costumes de seus colonizadores?
A autora também fala de amor de uma maneira muito representativa, já que os Deuses se amam independente do gênero. Assim, a narrativa te prende do início ao fim e mesmo sendo uma trilogia, completa um ciclo, mas deixando um gancho para o próximo livro. Essa é a segunda história de Jemisin que leio, iniciei pela trilogia da “Terra Partida”, que também é maravilhosa, porém um pouco mais densa. Então, se você ainda não leu nada dela, acho interessante começar por Os cem mil reinos.