Escrito por Charmaine Wilkerson e traduzido por Karine Ribeiro, Bolo preto foi publicado em 2022 pela editora Paralela. Charmaine é uma autora norte-americana, que morou na Jamaica, mas atualmente vive na Itália. Ela teve vários de seus contos publicados e este é seu romance de estreia.
Byron e Benedetta (Beny), são irmãos que não se encontram há um tempo, ambos ressentidos com questões que não só afastaram Beny de seu irmão, como também de toda família. Quando finalmente Byron entra em contato é para avisar que Eleanor, a mãe deles havia falecido, porém antes de morrer, deixou uma importante mensagem para os dois com seu advogado, o Sr. Mitch. Logo, B e B (forma carinhosa, pela qual a mãe dos dois os chamava), terão que se reencontrar para juntos entenderem o que ela gostaria de contar.
Quando se veem diante do Sr. Mitch, ele explica que Eleanor fez uma gravação de um áudio com 8 horas, onde resolve contar o que lhe afligia. A mãe começa o relato no Caribe, narrando a vida de algumas pessoas que incialmente são desconhecidas para seus filhos. Beny e Byron também perderam o pai há pouco tempo e sempre acreditaram ser filhos de pais órfãos, dessa forma, achavam que não havia muito o que contar sobre seus avós e a família que nenhum dos dois conhecia.
Junto ao pen drive com a gravação, o Sr. Mitch também entrega um bilhete de Eleanor com a seguinte mensagem: “B e B, tem um bolinho preto no freezer pra vocês. Não joguem fora. Quero que vocês se sentem juntos e dividam o bolo quando chegar a hora certa. Vocês saberão quando”.
Bolo preto é um livro que fala de memórias, de como as atitudes e decisões tomadas no passado, com ou sem escolha, influenciam diretamente não só na vida dos envolvidos, mas em toda uma geração futura.
Uma das primeiras coisas que chamou minha atenção foi como a autora consegue fazer o livro ter diversos pontos de vista, já que a narração dos capítulos é dividida entre várias pessoas do presente e do passado. Ela faz um vai e vêm entre épocas e consegue ligar todas as narrativas de maneira muito inteligente e clara, não senti que ficaram pontas soltas, mesmo com tantas visões apresentadas.
Sendo uma história que envolve memórias, também traz muito das tradições familiares desse grupo, como por exemplo, a preparação do bolo preto que é passada oralmente de geração em geração e que de certa forma tem total ligação com a vida dessa mãe, que no fundo, é a personagem principal. Eleanor passa por muitos obstáculos, vive diversos lutos, pelos outros e por ela, pois se perde de si mesma muitas vezes.
Também sentimos na pele as angústias vivenciadas por seus filhos. Byron é um homem disciplinado, com uma carreira profissional incrível, contudo não está totalmente feliz com sua vida pessoal. Além disso, todos os dias consegue sentir os impactos do racismo, um exemplo, é que mesmo sendo um dos melhores funcionários do local que trabalha, não consegue alcançar o cargo máximo; outro, é como, por diversas vezes, é parado por policiais nas noites em que dirige.
Já Benny, por possuir a pele bem mais clara, não vive o racismo tão intensamente como seu irmão, porém tem questões consigo mesma, ainda está se descobrindo e tentando entender o que quer da vida. Fato que aterrorizou seus pais, fazendo com que Benedetta se afastasse, e vivesse situações que sua família nem imagina.
Bolo preto é um livro denso, conta muitas histórias entrelaçadas, o que deixa o leitor intrigado pra entender qual vai ser o destino desses personagens e de todas as pessoas ao redor dessa família. A autora ainda trata de temas fortes como relacionamentos abusivos e tóxicos, violência contra mulher, perdas e traumas. É uma história que conquista aos poucos e me deixou extremamente curiosa. Após a leitura, descobri que o livro já teve seus direitos adquiridos por Oprah Winfrey para adaptação de uma série e tenho certeza de que será muito interessante ver essa história cheia de segredos nas telas.