Beth Evans já escrevia e havia publicado outros livros quando lançou Diário de uma pessoa não tão ansiosa, entretanto, no momento em que deve escrever este livro, sua vida parece estar em queda. Depois de um período de mudanças para um novo apartamento e muita empolgação pela vida, um parente de Beth Evans morre e isso muda seu ânimo para tudo, novos problemas aparecem e a vida parece entrar em colapso. Perdida, sem saber bem o que escrever neste novo livro, escreve sobre o que sabe, como se fosse para si mesma, conselhos que, como ela afirma, ela mesma deveria ler.
Diário de uma pessoa não tão ansiosa mistura texto e ilustração e está dividido em sete capítulos. No primeiro capítulo “Dia a dia”, um dos temas é “Como sobreviver à rotina diária de trabalho e estudo?”, esse até parece que foi feito para mim. Beth Evans dá dicas para quando temos a impressão de que nunca estamos fazendo o suficiente ou quando estamos nos comprometendo com coisas demais. Já no primeiro capítulo, a linguagem do livro, às vezes cômica, às vezes ácida, às vezes pessimista, nos capta de forma carismática, as dicas são muito simples e nos aproximam da argumentação de Evans, nos levando para perto da autora porque ela se coloca como alguém que vive ou já viveu vários problemas causados pela vida adulta e pela ansiedade.
O livro é um bom guia que pode ser consultado nas horas difíceis porque Beth Evans é bem didática nas propostas de solução para os nossos problemas, com o traço simples, além da mescla de texto e imagem das tiras, Diário de uma pessoa não tão ansiosa se utiliza de outros formatos de organização da linguagem como mapas mentais, tabelas e organogramas. Algumas partes foram bastante úteis para mim como o “Guia de sobrevivência para as festas de fim de ano” e “Como ter uma boa noite de sono”.
O lance é que a vida adulta traz muitas ciladas para a nossa ansiedade e muitas vezes não sabemos como lidar com isso. É possível que o transtorno de ansiedade seja justamente uma das maiores marcas da vida adulta porque é na vida adulta que as responsabilidades aumentam e a vida parece ficar ainda mais pesada. Por outro lado, embora o subtítulo do livro seja “desvendando a vida adulta”, é perceptível o aumento dos transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes, por causa do acúmulo de informações que temos hoje, de modo que muitos conselhos presentes no livro podem ser úteis mesmo para quem ainda não chegou nesta fase da vida. Inclusive, pode ser uma ótima leitura para adolescentes porque parte do livro dá dicas também sobre o reconhecimento de nossos desejos e vontades, além de ajudar a lidar com a socialização, uma questão que ficou muito afetada na pandemia, principalmente para quem viveu parte da adolescência nessa fase, uma vez que a adolescência é um estágio da vida em que é importante o contato com o coletivo para começarmos a entender quem somos, que lugar ocupamos no mundo.
A produção de Diário de uma pessoa não tão ansiosa, aparece em alguns momentos do livro como uma tarefa que se Beth Evans pudesse, não estaria desempenhando, porém, precisa desempenhar porque faz parte do trabalho. “Todo mundo tem que fazer coisas que não quer. Por exemplo, agora estou tentando ser criativa mesmo tendo que cumprir um prazo, mas tudo que eu queria era ficar assistindo a vídeos de tamanduás”. (p. 62) A metalinguagem que Evan usa traz bom humor para a narrativa que ela constrói sobre a superação dos problemas e o livro em si parece ser a superação de um problema da própria autora, mas pode ser também, na verdade, que ela usa este recurso para nos aproximar da leitura por uma via empática. Os conselhos de Beth Evans despertam a curiosidade e faz com que as listas de conselhos funcionem como uma narrativa que queremos ler até o fim para sabermos como termina.
Sob outra perspectiva, o livro também se materializa como uma forma de lidar com o luto, que ela descreve na introdução. Mesmo que a autora reclame em alguns momentos sobre o processo de escrita, Diário de uma pessoa não tão ansiosa colabora para que pensemos em como resolver nossos problemas que muitas vezes parecem não ter solução. Na tentativa de resolver uma vida que parece estar indo mal, Beth Evans nos presenteia com uma leitura leve, divertida, reflexiva e esperançosa de que apesar das dificuldades a gente pode tentar dar um jeito para que o amanhã seja um dia melhor.