Postagem referente ao projeto #5SemanasComCalibãeaBruxa, no qual, durante cinco semanas, às terças-feiras, exporei aqui um diário de leitura do livro Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva, da italiana Silvia Federici, traduzido pelo Coletivo Sycorax. No final do projeto sortearei um exemplar do livro. Para saber como participar do sorteio e ler a primeira postagem é só clicar aqui.
O capítulo 2, intitulado “A acumulação do trabalho e a degradação das mulheres” é mais longo em relação ao primeiro e mais doloroso de ler porque é revoltante saber que as mulheres não tinham nenhum direito sobre seus corpos, eram obrigadas a reproduzirem para combater a crise populacional, além de serem submetidas a torturas como afogamentos, estupros e mortes. O Estado e a Igreja adotaram medidas para o controle da natalidade e os abortos estavam fora de cogitação, se acontecessem, as mulheres seriam severamente castigadas, mesmo que fosse um aborto espontâneo.
“Na Europa, o ataque contra as mulheres justificou a apropriação de seu trabalho pelos homens e a criminalização de seu controle sobre a reprodução. O preço da resistência era, sempre, o extermínio. Nenhuma das táticas empregadas contra as mulheres europeias e contra os sujeitos coloniais poderia ter obtido êxito se não tivesse sido sustentada por uma campanha de terror. No caso das mulheres europeias, foi a caça às bruxas que exerceu o papel principal na construção de sua nova função social e na degradação de sua identidade social” (p.203).
O capítulo também fala sobre como os trabalhadores foram perdendo suas terras porque houve a expansão dos cercamentos e a privatização delas, resultando no aumento da pobreza e dos preços dos alimentos. Até então nunca tinha parado para pensar conscientemente sobre a relação da pobreza com a comida. A autora mostra como o aumento da primeira teve impacto direto no consumo da segunda.
Fonte: Site da Editora Elefante |
O penúltimo subcapítulo é intitulado “Sexo, Raça e Classe” e claro que me lembrou o livro da filósofa Angela Davis, “Mulheres, Raça e Classe”. Neste subcapítulo a autora fala sobre a ampliação da escravidão dos negros africanos e de como foi criada a ideia de raça para separar os brancos dos negros e criar uma hierarquia na qual o negro era inferiorizado. A escravidão foi essencial para o desenvolvimento e sustento do capitalismo.
Também pontua o fato das mulheres negras terem dupla exploração, trabalhando tanto quanto os homens negros e ainda sendo abusadas sexualmente.
Outro assunto é a separação sexual dos trabalhos, com a mulher confinada aos trabalhos domésticos e não tendo direito a ser paga para desempenhá-los.
Como ter acesso ao livro: comprando no site da editora (Editora Elefante), fazendo o download do arquivo em pdf disponibilizado no site do Coletivo Sycorax ou participando do sorteio que estou promovendo.
4 respostas
Que título, muito revoltante Maria. O que mais me incomoda é que todas estas atitudes são amparadas por instituição religiosa, é o fim.
A perversidade com que se tira direitos de seres humanos que possuem determinadas características em prol de uma sociedade boa para poucos privilegiados, é aterrorizante. Pior é isso ser introjetado ao ponto de ser naturalizado, como percebemos em muitas pessoas, que preferem se conformar ao questionarem o que lhe é imposto.
Essa questão das mulheres negras e da dupla exploração, me faz lembrar do discurso de Sojourner Truth, "Ain't I a Woman"
Que capítulo pesado! As ideologias sempre vão criar mentiras e classificações a fim de manter o status quo