Uma breve análise sobre a importância do cinema negro norte-americano nos 90

Na década de 90, o cinema negro norte-americano assumiu um papel importante na representação da diversidade étnica nos Estados Unidos. Por muito tempo, a indústria cinematográfica americana negligenciou as narrativas negras, ignorando as histórias e experiências únicas dessa comunidade, se contentando em produzir e investir apenas em histórias brancas escritas por e para pessoas brancas.

Contudo, a produção de filmes por diretores, roteiristas e atores negros começou a mudar essa realidade. Filmes como “Faça a coisa certa” (1989), “Malcolm X” (1992) e “Os donos da rua” (1991)  deram voz à comunidade negra, mostrando ao público histórias profundas, dolorosas, inteligentes e complexas. E principalmente, pelo menos do ponto de vista comercial, mostrou aos grandes executivos que o público negro, assim como ocorreu na década de 70 — com os Blaxploitation — consumiria essas obras. Esses filmes retrataram a realidade social e política da época, discutindo temas como racismo, violência, pobreza e criminalidade de modo mais sério, contrastando com o modo quase caricatural e satirizado de décadas anteriores. 

Além disso, a produção cinematográfica negra trouxe à tona discussões importantes sobre gênero, sexualidade e feminismo, como pode ser visto em obras como “Filhas do Pó” (1991), “Amores Divididos” (1997) e “Uma loucura chamada amor” (1997) retrataram a complexidade das relações interpessoais, explorando questões de amor, família, além de destacar uma rica e diversa estética e cultura negligenciada desde o final do movimento Blaxploitation.

Filmes como “Looking for Langston” (1989)  abordaram a cultura queer negra mostrando as vidas e histórias de artistas e ativistas negros LGBTQIA+. Outro ponto importante foi a ascensão de cineastas negras, como Kasi Lemmons, Julie Dash e Cheryl Dunye — pioneiras na representação feminina no cinema negro. Juntamente com outros nomes, essas mulheres produziram filmes que abordaram a complexidade da experiência feminina negra, tanto no âmbito social quanto pessoal e sexual.

O cinema negro norte-americano dos anos 90, portanto, teve um impacto profundo na indústria cinematográfica como um todo, estabelecendo um legado duradouro, uma vez que esses filmes não apenas trouxeram visibilidade à comunidade negra, mas também redefiniram as possibilidades da arte cinematográfica, criando novos modelos narrativos e estéticos. Mas nunca de modo fácil, já que apesar dos avanços da década de 1990, ainda havia desafios significativos para cineastas negros na indústria cinematográfica. Como por exemplo o financiamento para projetos de cineastas negros, que ainda era limitado — muitas vezes esses cineastas tinham que lutar para ter suas vozes ouvidas. Além disso, ainda havia a questão da representação negra nos filmes de Hollywood, com muitos papéis ainda sendo estereotipados ou marginalizados.

Por fim, a produção de filmes negros na década de 90 abriu portas para novas vozes e perspectivas, inspirando uma geração de cineastas a contar histórias diversas e autênticas. O cinema negro norte-americano se tornou um símbolo da resistência e da luta contra a opressão, mostrando a importância de se ouvir e valorizar a diversidade de vozes na cultura cinematográfica.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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