Exposição Jean-Michel Basquiat

Está acontecendo no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, a exposição Jean-Michel Basquiat – Obras da coleção Mugrabi. Esta exposição teve início no dia 25 de janeiro e irá até o dia 7 de abril, mas também passará pelas outras três unidades do CCBB em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com a curadoria do holândes theco radicado no Brasil, Pieter Tjabbes.

O campo próximo à outra estrada, 1981

São quatro andares de exposição, organizada de modo cronológico, de forma que é possível ter um panorama da trajetória artística e pessoal, por meio de 80 obras. Filho de pai haitiano e mãe porto-riquenha, Jean-Michel Basquiat nasceu em Nova York, em 1960 e faleceu na mesma cidade em 1988, aos 27 anos, devido a uma overdose.

Sem título (Hand Anatomy), 1982
Quando se fala em arte de rua Arte Urbana é inevitável não associar o nome Basquiat a esse tipo de arte, mas levando em consideração que o que ele fazia no início de sua carreira, juntamente com seu amigo Al Diaz era pintar as paredes de Manhattan com frases misteriosas, às vezes poéticas, não o faz um grafiteiro, ainda que usasse spray e um pseudônimo, SAMO (Same out shit – mesma merda de sempre).

Sem título (Alcatrão amarelo e penas), 1982

Nos anos 60 predominava o Minimalismo, com pouca interferência do pintor sobre sua arte, já nos anos 70, o Neoexpressionismo passou a predominar, movimento artístico com o retorno do pintor e muita interferência dele na obra. Muitos críticos classificam Basquiat como um artista neoexpressionista, mas essa classificação ignora o método da colagem e as colagens criativas, de objetos, palavras e imagens, que são características marcantes de seu trabalho, então além de neoexpressionista, ele também é um dos grandes nomes da cultura da remixagem. Na década de 80, frequentando galerias e atuando dentro de um circuito majoritariamente branco, Basquiat, já reconhecido, tinha plena consciência de ser negro nesses espaços fazia dele uma pessoa que subvertia a ordem social estabelecida, mas que só nesses espaços ele era respeitado, na rua, os táxis continuavam não parando para ele por ser negro.

 Heart Attack, 1984 – Jean Michel Basquiat e Andy Warhol

Dentro do mundo artístico, foi amigo pessoal de Andy Warhol, principal nome da pop-art e ambos exerceram influência na obra um do outro, chegaram a trabalhar juntos. Confesso que as artes resultantes dessa parceria são igualmente impressionantes, mas são as que menos me tocam, pois sou mais tocada pela fase visceral, subversiva. Mas é bom reconhecer que Basquiat nunca tenha deixado de ser autêntico, mesmo trabalhando com Warhol, principal nome da pop-art.

Livros de referência para Basquiat
Referências musicais

Nas minhas aulas de artes durante o ensino médio, jamais ouvir falar sobre Jean-Michel Basquiat, mas ouvi falar sobre Warhol. É injusto que quando estudemos Basquiat, Warhol seja fator importante em sua vida, mas o mesmo não aconteça quando estudamos Warhol. Há um apagamento de sua arte e de quem foi, da magnitude de suas obras, por isso acredito que é de extrema importância estarmos presentes em exposições como essa, que lhe dá o devido reconhecimento, ainda mais porque a entrada é franca, o que é um fator facilitador para que pessoas de todas as classes sociais possam frequentá-la.

Eggs, 1985
Pode parecer que sua arte seja qualquer coisa menos arte. Pode parecer que o que ele desenhava até crianças podem desenhar, mas Basquiat tinha referências artísticas, tinha livros para consultar. Ele dizia que sabia desenhar, só não queria. Quando ficou internado aos sete anos, devido a um atropelamento, ganhou de presente da mãe um exemplar do livro “Gray’s Anatomy”, que exerceu profunda influência em suas obras, muitas delas com a presença de parte do corpo humano, evidenciando seu interesse por Anatomia.

“Acredite ou não, eu sei desenhar. Mas quase sempre tento lutar contra isso”.

Sem título (Famous Negro Athletes), 1980/81

Embittered, 1986

Com uma vasta obra, que vai de pinturas à “decoração de cerâmicas”, Basquiat teve como objetos de trabalho os mais tradicionais, como telas, papeis e outros menos tracionais, como pedaços de madeira, portas e cerâmicas, com muita liberdade de criação e muito sentimento. Seus quadros juntam imagens e palavras, mas não de forma aleatória, as palavras têm significado. E acredito que devem significar mais ainda para quem entende inglês ou espanhol, quem não entende muito de inglês, pode não apreender algumas obras de forma integral, mas isso não é fator que influenciará de modo negativo na apreciação da exposição num geral.

Faltam poucos dias para quem é de São Paulo poder aproveitar essa oportunidade única de poder apreciar de perto as obras de Basquiat, mas quem é de Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, não podem deixar essa oportunidade passar.

Indico também o filme “Basquiat- Traços de Uma Vida” (1996) para se ter uma noção de como foi a vida desse artista único e admirável.

12 respostas

  1. Olá!
    Estou me sentindo um tremendo ignorante por não conhecer o Jean-Michel Basquiat. Apesar disso, eu gostei do conceito que está impresso em suas obras.
    Bela postagem. Adorei conhecer esse artista.

    Abraço!

  2. Olá!! 🙂

    Eu confesso que não conhecia esta exposição, ainda bem que vieste falar sobre ela! Foi muito interessante!

    Enfim, infelizmente não poderei ir, pelos motivos geográficos óbvios 😛 Mas espero que muitos possam aproveitar!

    Boas leituras!! 😉
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

  3. Que legal que você conseguiu ir na exposição e pode trazer algumas fotos para vermos. Infelizmente ainda não consegui ler mas fiquei feliz em ver as fotos e o que você achou da exposição.
    Bjs Rose

  4. Warhol também é um artista que conheço, mas nunca tinha ouvido falar de Basquiat. Me interessei bastante pela exposição e fiquei feliz demais por saber que terei oportunidade de ver aqui em BH! Anotei a dica do filme também, assim vou me preparando.

  5. "Nas minhas aulas de artes durante o ensino médio, jamais ouvir falar sobre Jean-Michel Basquiat, mas ouvi falar sobre Warhol." <- Eu pensei exatamente isso antes de chegar na sua observação, Maria, então só pude concordar muito. E pra falar a verdade eu o conheci tem bem pouco tempo! O doido é saber que Basquiat foi amigo de Wahrol (a gente nem vê foto dos dois!), mas que só Wahrol acabou "viralizando" e até hoje, de alguma forma ou de outra, as pessoas o identificam.

    Que bom que a exposição vem para o CCBB do Rio.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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