Fantasma- Jason Reynolds

O personagem principal desse livro é Castle Cranshaw, autoapelidado de Fantasma, por conta de um episódio traumatizante em sua vida, três anos antes do tempo atual da narrativa. Por estar no sétimo  ano na escola, o leitor pode depreender que Fantasma está com treze anos.
Ganhou do sr. Charles, um senhor que tem uma loja na qual Fantasma compra sementes de girassol, que é viciado, um livro do “Guinness World Records”, em que ele aprende vários recordes. O interessante é que os capítulos do livro, com exceção do último, são intitulados como se fizessem parte do Guinness.

Um dia, Fantasma vai observar um treino de corrida porque acha intrigante que outras pessoas treinem para fazer algo que ele faz naturalmente. Nesse dia, cansado de ver como as pessoas elogiavam um dos meninos, Lu, por ele ser o insuperável e mais rápido, Fantasma decide mostrar que corre tanto quanto Lu e que isso não é nada demais. O treinador e todos que presenciaram a cena ficam boquiabertos. Com isso, Fantasma é convidado para participar da equipe de corrida Defensores, ao que ele diz não porque seu esporte de interesse é o basquete. Brody, o treinador, consegue convencê-lo com o argumento de que ser bom em corrida o faria melhor no basquete. Com a permissão da mãe, sob a condição de Fantasma ficar longe de desentendimentos na escola e fazer as lições, o menino entra para a equipe de corrida. Mas vai ser um desafio ficar longe de desentendimentos quando na escola se tem Brandon Simmons, “Um idiota com fome de poder e o cara mais irritante do sétimo ano”, que faz de tudo para tirar Fantasma do sério e não perde nenhuma oportunidade de fazê-lo sentir-se mal por conta do bairro onde mora, das roupas que veste, do tênis que usa e até do corte de cabelo. Brandon é o maior responsável por Fantasma sentir-se como se tivesse “Muitos gritos por dentro”.

As noites de Fantasma são passadas assistindo filmes românticos com a mãe, que trabalha no refeitório de um hospital e faz aulas on-line para ver se consegue ter um diploma de enfermeira.

A narrativa em primeira pessoa apresenta passagens que nos fazem rir e nos sensibilizar com a forma como o protagonista lida com seus problemas, de um modo inocente e lógico. Por mais que algumas de suas atitudes sejam reprováveis, podemos ver que não há maldade em seu coração. Fantasma vai aprender a pensar melhor em suas ações, vai aprender o significado de fazer parte de uma equipe e descobrir na corrida algo que não imaginava.

Além de ser uma história leve, mesmo com pais que apresentam problemas com álcool e a carga psicológica que situações como essas provocam, o livro também permite que o leitor aprenda alguns termos técnicos relacionados a esportes como basquete e corrida.

A capa amarela, simples, mas bonita, dialoga com a simplicidade da história e sua ilustração é de uma cena de fácil identificação no livro. Já por ela, é possível perceber que o personagem principal é negro. Ainda  que as questões raciais não sejam o destaque do livro, se fazem presentes nas descrições das personagens e deixam evidente o protagonismo negro nos dois esportes citados, de modo que um leitor mais jovem, negro, pode se sentir inspirado e capaz de realizar os mesmos feitos dos atletas.
Então, é um livro ótimo para quem está à procura de uma leitura rápida, leve e engraçada, mas com alguma profundidade psicológica e uma dose de representatividade negra.

*Exemplar cedido pela editora.

2 respostas

  1. Eu tava pensando nesse livro esses dias, apesar de nem ter lido ainda. A resenha me deu ainda mais vontade de conhecer a história!

    Aline

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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