A FlinkSampa, Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra, este ano chegou em sua 5º edição e aconteceu nos dias 16, 17 e 18 de novembro, na Faculdade Zumbi dos Palmares. O patrono dessa edição foi o escritor Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus” e “Desde que o samba é samba”.
Estive presente no evento no dia 17 para a mesa “Cidade de Deus no Mundo: o nervo exposto”, que contou com a participação do Paulo Lins, Eduardo de Assis Duarte e mediação de Manto Costa.
A conversa foi muito interessante e boa para conhecer um pouco mais sobre o autor e sua obra, principalmente para o público de adolescentes e estudantes presentes. O Paulo Lins contou como conheceu Roberto Schwarz e como o crítico deu o suporte necessário para a publicação de seu livro, sobre seu curso de Letras na UFRJ, sobre a influência de Guimarães Rosa para começar a inventar palavras, sua relação com o movimento da poesia concreta e sua escolha por seguir a tradição literária na construção de seu primeiro livro.
Falando mais especificamente de Cidade de Deus, comentou sobre como os homens entram no mundo da criminalidade ainda crianças, no papel de “aviõezinhos” e daí para o uso de drogas e tráfico de armas não demora muito.
Salientou que o tráfico de armas é um grande projeto político e por isso não acabará com tanta facilidade, porque muitas pessoas se beneficiam dele. Em suas palavras: “Não existe poder paralelo, a criminalidade está no Poder”.
Disse que seu livro não mudou a realidade da favela, mas a discussão sobre o assunto aumentou, ou seja, fez com que as pessoas pensassem mais sobre a criminalidade.
O Paulo Lins também falou sobre a importância da presença de projetos sociais nas comunidades, como ONGs, teatro, bibliotecas… E que eles foram fundamentais para sua formação.
O Eduardo de Assis Duarte, que é foi professor na UFMG, retomou um pouco da fala do Paulo Lins em relação às crianças que entram no tráfico ainda novas e nunca vivem até a vida adulta porque morrem antes e comentou sobre a dialogicidade que existe entre o livro do Paulo Lins, porque foi comentado que ele escreveu uma crítica comparando “Cidade de Deus” com uma obra do Guimarães Rosa por conta da temática da vingança que figura em suas obras.
“Eu tô aqui porque muita gente morreu para eu tá aqui”. – Paulo Lins
Quando o microfone foi aberto para perguntas, uma estudante, que aparentava ter entre 15 e 17 anos, referindo-se ao livro “Cidade de Deus”, perguntou qual o papel da mulher na criminalidade, uma vez que durante toda a discussão só foi falado dos homens. Ao que o autor respondeu que de fato as mulheres não aparecem, que o papel delas, quando entram na criminalidade é só para subsitência, que seus papeis, normalmente, são de mães dos criminosos e citou uma frase do Jean Genet, que dizia mais ou menos assim: “As mulheres são as mães dos homens e dos deuses”.
Depois dessa mesa, estava chovendo, então estava todo mundo meio preso no prédio da biblioteca. O Paulo Lins estava aguardando seu transporte e eu estava sentada, comendo umas amoras que tinha levado de lanche. Quando ele chegou perto de mim eu ofereci a amora e ele aceitou e eu fiquei exultante por dentro, mas por fora eu parecia normal.
Nesse dia também tive oportunidade de conhecer a poeta costarriquense, Shirley Campbell Barr, que conheci através de uma antologia que precisei fazer para a matéria de Literatura Castelhana: Poesia que cursei esse semestre. A temática da antologia foi de escolha do aluno, então escolhi escrever sobre poetas latino-americanas negras e a poeta figurou com seu poema “Rotundamente Negra”, que indico muitíssimo que vocês leiam!
Nós conversamos um pouco, contei para ela sobre a antologia, falamos dos nossos blogs, o dela leva o nome do poema, RotundamenteNegra e ela me apresentou a escritora Teresa Cárdenas, que a estava acompanhando e pretendo procurar saber sobre suas obras. Esse encontro com certeza foi um dos mais marcantes desse ano.
Outro escritor a que tive o prazer de conhecer, foi o Antônio Quino, luandense, autor de “República do Vírus”. Ele estava na mesa “A contribuição dos autores negros à Literatura”, mediada por Dulce Maria Pereira. Fiquei muito curiosa para conhecer seu livro e simpatizei com ele logo de cara porque ele se apresentou como uma pessoa tímida e que tem na biblioteca seu melhor abrigo, eu não poderia me identificar melhor com ele! Além disso, ele deu algumas indicações de escritores negros de língua portuguesa e nelas figuraram nomes como Agostinho Neto, angolano; Solano trindade, brasileiro e Craveirinha, moçambicano.
2 respostas
Maria, que demais te ver inserida no meio literário (em eventos, conhecendo autores…)! Essa história das amoras foi ótima. Preciso ler Paulo Lins. Preciso ler um monte de coisa que você indica aqui. Toda vez que eu apareço aqui é pra dizer que preciso ler alguém. Estou montando uma lista toda baseada no seu blogue. Conceição Evaristo tá entre as primeiras do ano que vem.
Que interessante, Maria! Só de ler seu relato já dá pra ver que foi uma experiência muito incrível. Vou anotar as indicações para procurar mais tarde.
Obs: Sou eu, Aline (@alineroid do instagram), estou no computador do trabalho lendo seu blog! (: