Com exceção de Para educar crianças feministas, que foi lançado recentemente, este blog já resenhou todos os livros em português brasileiro da autora, agora chegou a vez de resenharmos um livro em português de Portugal.
Este é um livro que contém um total de 12 contos nos quais a figura feminina é representada de diferentes modos, mas todos tendem a mostrar a força de cada uma delas. O conto que dá título ao livro é belíssimo, mas o que ele tem de belo, também tem de triste, e de certo modo, sufocante. É justamente a isso que o conto remete, o sentimento de que tem algo em volta de nossa garganta, aquela falta de ar. Por ser narrado na segunda pessoa do singular, o conto ganha uma carga extra de poesia e faz pensar na linguagem usada em profecias.
“Estavas habituada a aceitar o que a vida te dava, a escrever o que a vida ditava.” (Conto A Coisa à Volta do Teu Pescoço)
O primeiro conto é “Cela Um”. Uma narrativa feita em primeira pessoa pela filha mais nova de uma família em que o pai é professor universitário, o que demonstra que uma família da classe média da Nigéria. No entanto, sem um motivo aparente, o filho mais velho, Nnamabia, de 17 anos, rouba e vende as joias da mãe, como também começa a se envolver gangues e é preso. A experiência na prisão tem o poder de transformá-lo totalmente. A autora expõe a corrupção e o abuso de poder característicos da instituição policial.
“Espero que compreendas o inglês todo importante que eles falam; agora são americanah, oh!” (Conto Imitação)
“Estremecimentos” é um conto que fala de fé e de Deus. E de como, às vezes, as pessoas estão tão preocupadas com os problemas delas que não percebem que há outras pessoas com problemas também.
“Como se pode amar alguém e ao mesmo tempo querer controlar a quantidade de felicidade que é permitida a essa pessoa?” (Conto O Estremecimento)
Além do evidente protagonismo feminino, os contos também fazem uma exposição da cultura nigeriana e estadunidense. Os assuntos tratados passam pelas diferenças étnicas e religiosas, pela tradição cultural dos africanos.
Todos os contos mexeram comigo de alguma forma, sempre concluía a leitura impactada.O conto que dá título ao livro foi o que mais mexeu comigo porque me identifiquei em diversos momentos da narrativa e esse é um dos motivos que me fazem gostar da autora: essa capacidade que ela tem de criar narrativas e personagens com os quais eu sempre me identifico, mesmo que as experiências retratadas sejam de pessoas em outras realidades geográficas. Talvez seja isso o que torna sua escrita universal. Se Chimamanda Ngozi Adichie agrada em seus romances, também não deixa à desejar na narrativa curta, de modo que indico muito a leitura desse seu livro de contos.
2 respostas
Eu preciso ler alguma coisa dessa autora para ontem, Maria!
Adorei a dica desse livro de contos. Ele parece abordar questões muito importante e acho ótimo livros que fazem a gente refletir como sociedade.
beijos
Psicose da Nina | Instagram
Amo Chimamanda! Estou com esse aqui em versão inglês…tô só esperando sentir que o mundo precisa de mais amor para começar – Chimamanda e Mia Couto sempre me acalmam o coração sabe?! 🙂 Gostei da resenha!
Bjos.