#7SemanasComDavis – Semana 6

Essa postagem compreende 26 páginas (177-203), nas quais se encontram o capítulo 11, intitulado “Estupro, racismo e o mito do estuprador negro”.


As leis contra o estupro surgiram para proteger os homens, para que suas esposas e filhas não sofressem com o abuso. Isso, por si só, já é um absurdo. Uma lei que beneficia os homens, quando são as mulheres as afetadas. É importante lembrar que além disso, a lei beneficiava as pessoas das classes mais altas, portanto, as mulheres das classes trabalhadoras foram as grandes vítimas de homens brancos. Mas os homens negros, culpados ou inocentes, eram quem respondia pelo crime ou eram acusados. Por isso, dos 455 homens condenados por estupro que foram executados entre 1930 e 1967, 405 eram negros.
O mito do estuprador negro surgiu como algo para justificar os linchamentos dirigidos aos negros pelas gangues racistas, como uma forma de extermínio da população negra, para que não alcançassem os mesmos direitos que os brancos e igualdade econômica. Depois, os linchamentos foram justificados para garantir a reafirmação da supremacia branca.
Mas claro que a acusação de estupro não era a única coisa que se justificava os linchamentos. Deve ter algum homem negro que estuprou alguma mulher branca, mas o problema aqui é a generalização. Principalmente porque durante toda a Guerra Civil, nenhum homem negro foi acusado desse crime.
O surgimento desse mito fez com que o movimento pela causa negra perdesse força, uma vez que ninguém queria defender um povo que cometia tais barbaridades ao invés de refletir sobre os motivos que levaram uma população inteira ser vista como a vilã. Transformar todos os homens negros em estupradores, foi uma forma de enfraquecer a causa negra. 

“O linchamento era uma contrainsurgência sem disfarces, uma garantia de que o povo negro não conseguiria alcançar seus objetivos de cidadania e igualdade econômica.” (p.189)

Gerda Lerner foi uma mulher branca que no início dos anos 1970 escreveu sobre o estupro e a combinação racismo e sexismo contra as mulheres negras.
O racismo fazia com que houvesse sexismo porque os homens brancos, principalmente os que tinham maior poder econômico, achavam que tinham algum direito sobre o corpo das mulheres.
Lerner diz que o mito do estuprador negro tem total relação com o mito da mulher negra má, os dois são artifícios usados para justificar o extermínio dessa população. As mulheres negras, desde a época da escravidão, tiveram seus corpos violados e continuaram sendo estupradas por gangues racistas, as mesmas que se valiam dos linchamentos contra os homens negros.

“O padrão do abuso sexual institucionalizado de mulheres negras se tornou tão forte que conseguiu sobreviver à abolição da escravatura. Estupros coletivos, perpetrados pela Ku Klux Klan e outras organizações terroristas posterior à Guerra Civil, tornaram-se uma arma política clara no esforço para inviabilizar o movimento pela igualdade negra.” (p.180)

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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