Este é o primeiro livro de uma tetralogia denominada série napolitana. Neste primeiro romance, nos é narrado em primeira pessoa a infância e adolescência de Elena Greco, que tem por apelido Lenuccia e Lenu. A narrativa começa com o desaparecimento de Lila, Raffaella Cerullo, uma mulher que aos setenta e seis anos, que nunca saiu de Nápoles, sai de casa sem deixar vestígios, recorta até fotos em que aparecia, então é como se ela nunca tivesse existido, a não ser na memória de quem a conheceu e a partir disso Lenu resolve escrever as memórias que tem com a amiga como uma forma de ir contra a vontade dela de desaparecer por completo, então a escrita é uma forma de eternizar a amiga.
Nesse primeiro livro, conhecemos a infância e adolescência das duas personagens principais, Lenu e Lila. Como elas se conhecem no bairro em que moram, um lugar violento; como se relacionam na escola, como Lila se mostra destemida, enquanto Lenu a admira por essa qualidade e ao mesmo tempo nutre uma certa inveja da amiga, que sempre vai bem na escola, tira boas notas, o que faz com que Lenu tente ser tão boa quanto a amiga e desencadeia uma competição implícita entre as duas, cada uma querendo ser melhor do que a outra, mas cada uma incentivando a outra sempre a ser melhor.
As duas amigas vivem em um bairro extremamente violento, onde os homens da família defendem a honra das mulheres agredindo fisicamente quem as ofendeu. A violência é posta como algo que faz parte da vida de quem está imerso em um ambiente de pobreza. Há diversas formas de violência, a familiar e também a escolar, na qual a escola, que deveria fazer o papel de agente do conhecimento, hostiliza os alunos e estimula a competição entre eles.
“Não está escrito em nenhum lugar que você não consegue”. -(p.98)
Lenu e Lila são conscientes da pobreza de que estão rodeadas e fazem planos de escrever um livro juntas para serem ricas quando forem mais velhas, mas ao longo do tempo são condicionadas a mudarem seus planos. Das duas amigas, só Lenu consegue continuar os estudos, por insistência de uma professora com a família e Lila acaba desistindo dos estudos para ajudar o pai e o irmão na sapataria da família e depois ajudar a mãe em casa. Mesmo assim, Lila não deixa de estudar, empresta livros na biblioteca e aprende sozinha latim e grego para estar no mesmo páreo com a amiga, sua amiga genial.
A história se passa em Nápoles, no ano de 1950, em um contexto pós-guerra, em que ainda há a submissão das mulheres, que são desencorajadas a continuarem os estudos para que sejam esposas e mães, em que não existem salas de aulas mistas e que começa haver algumas mudanças socias, como a chegada de carros, telefones e televisões.
“‘Estudar? Para quê? Por acaso eu estudei?’
‘Não’
E você? Estudou?’
‘Não’
‘Então por que sua irmã, que é mulher, precisa estudar?'” -(p.62)
Logo no início do livro temos uma lista dos personagens e quando a narrativa começa percebemos o quanto eles são quase a personificação de suas profissões e do quanto a desigualdade social se faz presente, de modo que o sobrenome, muitas vezes é posto como uma forma de evidenciar o prestígio social, ou a falta dele. É desda forma, que incialmente, os personagens são definidos por suas profissões, como o sapateiro, o marceneiro, o confeiteiro…
É um livro belo, que fala sobre a amizade verdadeira entre duas mulheres, com personagens complexos e bem desenvolvidos. O final é bastante empolgante. Se você é do tipo ansioso, eu recomendaria não terminar esse sem ter o segundo, “A história do novo sobrenome”, em mãos.
4 respostas
Ahhhh! Fiquei empolgada para ler agora, mas tenho tanta coisa pra ler na minha estante que não posso me dar o luxo. Vou colocar no "quero ler" do skoob! Maria sempre complicando minha vida ainda mais. 😀
Olá! Gostei muito da premissa da história, e da capa! Gosto de livros com personagens densos, que nos fazem aprofundar na história!
Beijos,
Ana | Blog Entre Páginas
http://www.entrepaginas.com.br
Ahhhh Tati! Eu não complico nada, não tenho culpa se você tem um milhão de livros na estante, rsrs. Mais unzinho não vai fazer muita diferença…
Olá, Ana.
Também gosto dessa capa 🙂
Beijos.