Julho chegou e com ele as listas de melhores leituras do ano até agora, e também e um balanço do que foi lido durante o primeiro semestre. Por aqui não seria diferente, por isso a equipe do blog se reuniu para cada um indicar dois livros que entraram para a lista de melhores leituras do semestre. Mesmo sem combinar, teve livro repetido. Sinal de que é bom mesmo, não é? Se quer dicas de bons livros para ler ainda nesse ano de 2021, confira uma lista de seis livros!
Maria Ferreira
Um feminismo decolonial – Françoise Vergès
Ler esse livro foi um divisor de águas para o meu entendimento sobre as opressões que recaem sobre as mulheres racializadas. Para além disso, é um livro para relembrarmos o quanto as mulheres são as reesponsáveis por fazerem o mundo funcionar. Se as mulheres racializadas pararem de trabalhar, o mundo também irá parar. Essa foi uma leitura que fiz para o Clube Leituras Decoloniais, clube de assinatura recorrente no Catarse. E para quem quer mais dicas de livros com essa temática, criei uma lista para o site da mybest Brasil com cinco outros títulos de livros para refletir sobre raça e gênero.
O olho mais azul – Toni Morrison
Esse livro é muito doloroso porque mostra o quanto o racismo pode afetar psicologicamente as crianças negras. Nele, Pecola Breedlove, uma menina negra com uma família desestruturada, almeja mais do que tudo ter olhos azuis porque acha que assim será vista como bonita. Todas as violências que recaem sobre ela e sobre as pessoas que a rodeiam é de dilacerar o coração porque infelizmente é uma história que continua atual.
Mayra Guanaes
Torto Arado, Itamar Vieira Junior
Publicado em 2019, este romance conta a história das irmãs Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente de infância. A narrativa retrata as condições de trabalho escravo contemporâneo e se divide em três partes, nas duas primeiras conhecemos a história das irmãs pelo ponto de vista das duas, e na terceira parte, temos um aprofundamento sobre o contexto político e social da narrativa. Para além da beleza da relação das duas irmãs, da contundência das questões raciais e de gênero que o livro denuncia, gostei muito da forma como o autor traz para a cena o sincretismo das religiões afro-brasileiras. A festa de Iansã é a minha parte preferida do livro.
Auto da Compadecida, Ariano Suassuna
Um clássico do teatro adaptado para o audiovisual e já transmitido na televisão muitas vezes, este auto é um retrato do Brasil, mostrando as aventuras de João Grilo e Chicó dois moradores pobres do sertão da Paraíba que vivem de pequenos golpes para sobreviver. A estrutura da peça está bastante relacionada aos autos medievais e no final da peça, Nossa Senhora Aparecida aparecer para salvar a alma de João Grilo que durante seu julgamento demonstra toda sua nobreza. Eu recomendo esse livro porque a obra literária traz outras camadas que o audivisual não traz, e a leitura dessa peça é divertidíssima, não é à toa que é um clássico.
William Alves
Stone Butch Blues – Leslie Feinberg
Romance seminal para entender um pouco da cultura trans, lésbica e butch, Stone Butch Blues é um livro cru e violento que retrata não somente a cultura daqueles grupos como também o o feminismo, o transfeminismo, a sexualidade, e o desejo e a vontade de se sentir acolhido quando se é considerado um outsider na sociedade cisheteropatriarcal. Inspirado na vida de Leslie Feinberg, o romance acompanha a jornada épica de Jesse Goldberg, uma adolescente que é expulsa de casa pelos pais após eles descobrirem que ela é uma lésbica Butch.
Barn Burning – Haruki Murakami
Publicado originalmente em 1993 no livro O elefante desaparece, Barn Burning é um conto com tons surrealistas escrito por Haruki Murakami onde o narrador, um homem de 31 anos começa uma amizade com uma estudante de mímica de 20 anos. Em determinado momento, a mulher diz que está deixando o Japão e pretende morar na Argélia. Meses depois ela retorna com um namorado rico e intelectual — misteriosamente nunca é mencionado no conto de onde vem a fortuna do rapaz. Durante uma tarde regada à cerveja e maconha, o namorado diz de modo repentino que gosta de queimar celeiros de pessoas pobres. Em determinado momento a estudante desaparece da história e da vida dos dois homens. O tom surrealista de como Murakami escreve nos faz questionar tudo a todo instante. Não sabemos quem ou o que é de fato real quando a leitura termina. Com apenas 13 páginas, o conto (em inglês) pode ser lido aqui.
Arman Neto
Garota, mulher, outras – Bernardine Evaristo
Eu já tinha bastante interesse em ler Garota, mulher, outras, da escritora britânica Bernardine Evaristo (com tradução de Camila von Hodelfer). Além de sua proposta estilística que já me atraía, o romance era sempre muito bem elogiado pela crítica internacional. Não à toa, foi vencedor do Booker Prize de 2018. O que eu não esperava é que fosse gostar tanto. Disparada e melhor leitura do ano até agora e uma das melhores leituras que fiz em muito tempo. Escrevi uma resenha a respeito do mosaico literário que Evaristo cria com a sua obra. Você pode lê-la clicando aqui.
Torto arado – Itamar Vieira Junior
Ponderei um bocado se eu elegia ou não o ótimo Torto arado como uma das minhas melhores leituras do semestre. O motivo? Bem, eu tenho um problema danado com coisas que tão no famigerado hype. Como falei, o livro é ótimo. Entretanto, sempre que minhas expectativas vão lá em cima por conta de uma obra, raramente elas são superadas. Aconteceu isso com Moonlight, aconteceu com Torto arado. Já tinha o livro na estante desde o seu lançamento, porém, só fui lê-lo depois de todo o barulho que ele gerou nos últimos meses. Entretanto, justiça seja feita. O romance de Itamar Vieira Junior merece sim todos os louros que vem colhendo. Aliando boa escrita com uma narrativa das mais cativantes, é muito difícil não admirar esse trabalho que vem conquistando o Brasil como há muito não se via. Sem contar que Bibiana e Belonísia são personagens que já nasceram para fincar seus pés na história da nossa literatura. Um dia retornarei ao romance com a distância necessária para poder apreciá-lo como ele merece.