O livro é dividido em duas partes. A primeira recebeu o título de Caderno de anotações. Nessa parte acompanhamos o processo de escrita de um livro pelo narrador-personagem de nome Pedro, seu relacionamento com Nina, que um dia resolver ir embora e lhe deixar com seus 17 cadernos de diários e também conhecemos sobre a família de Nina.
A segunda parte, Ficções, parece ser mais decisiva. O protagonista possui um relacionamento mau resolvido com seu pai, um velho que provoca aversão, mas que nos faz compreender os seus motivos para ter sido um pai tão pouco estimado pelo filho.
As duas partes não necessariamente se complementam, podendo até serem lidas de forma independente.
O texto é corrido, pontuado principalmente por vírgulas e pontos de interrogações. Não senti que chega a atrapalhar a leitura e acho que ainda se configura como originalidade da autora.
Inicialmente foi uma leitura um pouco difícil pelo paralelismo da narrativa, mas na segunda parte já estava mais acostumada à troca constante de narração.
O que mais chama atenção é o título do livro, soa poético e nos faz perguntar “como inventariar coisas que não existem?”
Carola Saavedra é uma autora premiada e reconhecida. Este é o seu quarto livro, publicado em 2014, os anteriores são “Toda terça” (2007), “Flores azuis” (2008) e “Paisagem com dromedário” (2010); todos foram publicados pela Companhia das Letras.
“Abro ao acaso, vejo que há um trecho sublinhado. Leio. Instintivamente, fecho o livro. O que fazer com as frases sublinhadas por outra pessoa, essa invasão, essa repentina intimidade”. *(p.63)
“Talvez entre o eu te amo e o amor propriamente dito haja um espaço intransponível. Talvez o tempo que passa. Mas não apenas. Talvez um inevitável desencontro. Essa incoerência. Leio o texto como se fosse parte de um romance. Talvez seja isso, e quando o amor acaba resta apenas a ficção”. (p.64-65)
“Um homem só controla seus pensamentos se for capaz de controlar o próprio, entenda isso”. (p.73)
“(…) é preciso ser forte, forte o suficiente para que a própria estabilidade não dependa de mais ninguém”. (p.80)
“É necessário ter coragem para possuir as coisas (…), porque coragem não é só sair por aí vociferando meia dúzia de ideias, coragem é ser capaz das coisas mais prosaicas, como ter coisas que te prendam a um lugar, que te amarrem, coisas que pesem sobre teus ombros.” (p.102)
*A numeração das páginas citadas são referentes ao livro da foto.
2 respostas
"(…) é preciso ser forte, forte o suficiente para que a própria estabilidade não dependa de mais ninguém". Bem verdade. Que capa fofuxa!!
Beijos!
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Oi Maria.
Adorei as citações que você separou. Ainda não tinha ouvido falar desse livro e achei interessante o mesmo ser dividido em duas partes que podem ser independentes uma da outras.
Bjoks da Gica.
umaleitoraaquariana.blogspot.com