No começo nos deparamos com uma introdução muito digna e justa, do Rodrigo Lacerda. O livro em si, é basicamente a reunião de quatro livros do autor e outros contos que foram publicados em revistas. Desse modo, a divisão fica: “Contos reunidos”, “Você poderia ficar quieta, por favor?”, “Do que estamos falando quando falamos de amor”, “Fogos”, “Catedral” e “Contos recolhidos”.
Os contos de “Do que estamos falando quando falamos de amor”são os que sofreram os cortes do editor Gordon Lish. A versão original desses contos foi publicada no livro Iniciantes, lançado em 2009 pela Companhia das Letras. Eu, que li tanta a versão integral quanto esta alterada, acredito que os originais são melhores. Lish cortou muita coisa, acrescentou outras,alterou títulos, mas percebi que no final de cada conto, a essência não se encontrava mais lá. Ele deixou os contos sem aquele baque de realidade, sem essência. Como foi o caso de um dos contos mais longos e tristes de Iniciantes, que é o conto “Uma coisinha boa”. Na versão de Lish o título foi alterado para “O banho”, foi extremamente compactado e com isso a essência, aquilo que fez com que fosse triste e tocante, se perdeu totalmente.
“Catedral” é um dos livros mais conhecidos do autor e eu confesso que estava ansiosa para chegar no conto de mesmo nome. Nele, um casal vai receber um cego, amigo da mulher e narração é feita pelo marido, que além de estar tomado pelo ciúmes, também não sabia como agir por ter uma visão um tanto preconceituosa dos cegos. Mas quando ele conhece Robert, o cego, passa por um processo de desconstrução muito grande. Robert é totalmente diferente do que ele esperava: é barbudo, fuma é simpático. E no final do conto, o marido fica encantado por ter sido capaz de desenhar uma catedral de olhos fechados. É um conto bastante tocante.
Todos os contos são narrados de forma a prezar pela economia de adjetivos e de cenas. Narram pequenos problemas da vida comum. Muitos deles retratam famílias desestruturadas e algo muito recorrente é personagens, na sua maioria homens, que apresentam algum tipo de problema com o álcool, alguns procuram tratamento, outros não, em algumas situação há o desgaste da vida familiar e relacionamentos desfeitos por conta desse vício. Acredito que isso, a constante presença do álcool, se deva ao fato do próprio Carver te tido problemas com ele ao longo da vida”.
Este livro é um calhamaço. São um pouco mais de 700 páginas de contos que apresentam a mesma estrutura, os mesmo assuntos e chega uma hora que acaba ficando tudo muito repetitivo. Por causa disso é bom fazer a leitura de forma mais espaçada e não ler tudo de uma vez só.