“Torto arado” é o romance de Itamar Vieira Junior publicado pela editora Todavia, que desde o lançamento vem conquistando leitores e ganhando todos os prêmios possíveis. O livro é narrado em primeira pessoa por personagens diferentes e é organizado em três partes, de modo que cada uma tem uma narradora diferente, que expõe os acontecimentos em primeira pessoa. A primeira parte é “Fio de corte”, e é narrada por Bibiana. A segunda parte é “Torto arado”, título do livro, e é narrado por Belonísia. E a última é “Rio de sangue”, narrada por Santa Rita Pescadeira, que não é uma pessoa, mas uma Encantada.
A história se passa na Fazenda Água Negra, na região da Chapada Diamantina. Ler esse livro é como fazer uma viagem para esse lugar porque a gente tem contato com a geografia, a natureza, os costumes e principalmente com a religiosidade e com a linguagem dali.
Bibiana e Belonísia são irmãs e pelo olhar delas desde adolescentes acompanhamos a vida na Fazenda Água Negra e a dinâmica de trabalho ali. Assim como sua família, os demais empregados dessa trabalham na roça sem folga e nos tempos livres podem trabalhar para a própria subsistência, plantando o próprio alimento, mas mesmo assim, têm que dar parte da colheita para os patrões, não recebem pagamento em dinheiro pelo trabalho, somente podem construir casa de barro, não pode ser de alvenaria.
Zeca Chapéu Grande é pai das protagonistas narradoras e é uma espécie de guia espiritual daquela comunidade. Ele é responsável por curar as dores da alma e pelo contato com os Encantados no Jarê, que é uma religião de matriz africana que é praticada somente na região da Chapada Diamantina, e aí a gente entende a Encantada é a narradora da última parte do livro. Encantados são seres que fazem parte dessa religião e é isso que Santa Rita Pescadora é.
Na medida em que acompanhamos o crescimento das irmãs também acompanhamos o crescimento da consciência política delas e as consequências disso para todos os trabalhadores.
Torto Arado é um livro que fala sobre exploração de trabalho, escravidão e racismo, sobre a relação com a natureza, a importância da religião e da espiritualidade e principalmente sobre ser mulher em uma comunidade opressora em tantas níveis.
O livro começa com uma narração que prende desde as primeiras páginas e vai no mesmo fôlego até o fim. É genial a forma como o Itamar Vieira Junior narra e finalmente pude entender o motivo desse livro fazer tanto sucesso, porque para além da forma e estrutura narrativa, é um livro que retrata um Brasil atual.
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