Por Arsenio Meira
“Antes soubesse eu / o que fazer com estrelas na mão.”
Hilda Hilst começou a publicar poesia em 1950, aos vinte anos de idade, ainda estudante na Faculdade de Direito do Largo São Francisco.O primeiro livro,”Presságio”, e os seguintes, “Balada de Alzira” e “Balada do festival, ” anteriormente excluídos das reuniões de poesia da autora, ressurgem no presente volume. O que pode levar o leitor a conjecturar que, os primeiros lances de sua poesia estão mais para o ensaio visando voos futuros do que propriamente a realização esteticamente efetiva das marcas centrais de sua escrita. Não é assim.
Hilda Hilst sempre guardou uma posição de afastamento em relação aos principais movimentos do cenário das artes nacionais. Ela passa a impressão de que sempre permaneceu absorta em sua singularidade. O início de sua produção poética já mostra uma dicção segura. O livro gira praticamente todo em torno da necessidade e ausência do amado. Da falta, do vazio que deveria ser preenchido por uma comunhão no amor, são tecidos os poemas. A poeta apresenta-se mais uma vez como aquela que faz do amor o objeto primeiro de seu canto, associado à passagem do que é perecível e à busca do sempre inalcançável, que a um só tempo escapa a toda a procura e cria um movimento incessante.
A condição de isolamento do poeta e uma poesia que não faz concessões à convenções, embora permaneça muitas vezes, diferentemente de outros modernos, afeita às estruturas do pensamento discursivo, pretendem permitir também o escape da capacidade de absorção que ameaça as obras de arte na sociedade de consumo, quando a possibilidade de se provocar estranhamentos já não mais existe. Ao recusar o elogio da rotina ou das promessas da sociedade do espetáculo, mostrando o desconforto da vida, o grotesco do homem e de sua condição, um universo de dores e angústias, a poesia de Hilst reitera a repulsa a um mundo vulgar e banal.
Ao contrário do que faz a indústria do entretenimento, baseada no princípio de satisfação do cliente, a autora apresenta-nos os difíceis estados de privação. Contrapondo-se a toda a facilidade do espetáculo, a obra poética da autora comprova a sua radicalidade moderna. Ao invés do apaziguamento, o que resta aqui é a angústia. Angústia como índex do mais límpido estatuto poético.
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Uma resposta
Oi Maria, tudo bem?
Nossa, adorei a resenha. Gosto de ler resenhas que fogem das "modinhas". Não que eu não me divirta com livros que todos estão lendo, mas percebo que você, assim como nós do blog, tem a preocupação em passar um algo a mais para que lê!
E que mais e mais pessoas busquem leituras de qualidades.
Beijos
http://www.serleitora.com.br