Minha irmã, a serial killer- Oyinkan Braithwaite

 

Minha irmã, a serial killer, é uma publicação da editora Kapulana, com tradução de Carolina Kuhn Facchin. Neste livro temos uma narrativa em primeira pessoa, feita por Korede, uma enfermeira que tem uma irmã mais nova chamada Ayoola. Em uma narrativa não linear, dividida em capítulos breves, Korede dá pistas de assuntos que não são desenvolvidos de uma única vez, são pedaços de acontecimentos que se juntarão para compor uma história maior.

Aos poucos, Korede nos apresenta sua irmã como uma serial killer, alguém que mata os homens com que se relaciona, sem, no entanto, ver nisso um problema. Aos poucos, sabemos quem foram suas vítimas e como eles morreram. A mais recente e terceira morte é a de Femi, que Korede narra o modo como ajudou a irmã a se livrar do corpo com uma minuciosidae de detalhes impresionante, além da frieza com que lidou com a situação.
 
As duas irmãs são bem diferentes. Ayoola possui uma beleza que deixa os homens impressionados e por sua egocentricidade, parece ser alguém superficial, que se importa com bens materiais e não vê problemas em postar sua vida nas redes sociais, mesmo quando deveria aparentar tristeza por ter acabado de perder um namorado. Pela forma como é descrita, passa a imagem de ser uma pessoa desequilibrada. Por outro lado, Korede é uma mulher forte, determinada, esperta, observadora e quando o assunto é a irmã, muito protetora. Korede é a única que sabe sobre esse segredo de Ayoola, desde criança as duas são muito unidas, apesar de parecer que a irmã mais velha faz mais pela mais nova do que o contrário.
 
As irmãs vêm de uma família da classe média alta de Lagos, Nigéria, na qual a figura do pai é opressiva, muito preocupado em passar uma imagem de homem perfeito para quem vê de fora, mas para quem vê de dentro, a esposa e as filhas, as coisas são bem diferentes. Ele trai a mulher, oprime as filhas, é extremamente controlador. A mãe, por sua vez, não tem grande destaque na narrativa, mas a imagem passada por Korede é de que ela sempre deu maior preferência para a filha mais nova, o que não fica claro se isso cria ressentimentos na filha mais velha. De início sabe-se que o pai não está mais vivo há algum tempo. Toda vez que ele aparece na narrativa, fica o mistério de como morreu e se as irmãs podem estar envolvidas na morte dele.
 
A narrativa transita em dois ambientes: a casa, ambiente familiar e o hospital, ambiente do trabalho. No hospital em que Korede trabalha, ela é enfermeira e depois é promovida a enfermeira-chefe. Ela nutre uma paixão secreta por um dos médicos, Tade e, por não ter com quem conversar sobre o segredo de sua irmã e se sente em relação a ele, desabafa com um dos pacientes que está em coma há cinco meses, Muhtar Yautai.
 
Os dois mundos convergem quando Ayoola vai visitar a irmã no hospital e Tade acaba se apaixonando por ela. Korede então fica em uma posição complicada porque ela ama Tade, mas ele ama a irmã dela e além disso, conhecendo a irmã e seu histórico, Korede sabe que a relação dos dois pode terminar em uma morte.
 
O título, que remete ao gênero thiller psicológico, num primeiro momento, pode parecer assustador, mas o que assusta mesmo são as atitudes machistas e opressoras do pai. O modo como a narrativa é construída de forma não linear evoca um mistério e suspense que não são muito aprofundados, o que faz com que seja uma leitura divertida, recheada de comentários sarcásticos e irônicas da narradora, além de permitir um outro olhar sob a cultura nigeriana, presente no livro em algumas escolhas linguísticas, apresentação de pratos culinários e tipos de roupas, até mesmo na escolha no nome do pai, que é Kehinde, gêmeo de uma irmã chamada Taiwo, nomes comuns para gêmeos na cultura iorubá.
Este livro é a primeira publicação da escritora Oyiankan Braithwaite, que também é slammer. Ela consegue trazer ao mundo uma narrativa diferente do que se espera dos livros nigerianos, trazendo um enredo absolutamente urbano e atual, mas sem ignorar os costumes culturais, além de trazer à reflexão questões sobre relacionamento familiares e escolhas individuais.

15 respostas

  1. Nossa, nunca li um thriler, embora sempre tive curiosidade. Engraçado que, enquanto lia, pensava mesmo na criação opressora do pai, depois vc contou que essa parte é mais sinistra.
    DIca anotada aqui
    Bjos flooor

  2. MENINAAAAA!!!! Eu ganhei esse livro da minha amiga mas Ainda não li, eu só gostei do nome e da capa e pedi pra ela, mas nessa resenha, santa deusa, eu preciso ler esse livro. Adoro isso de juntar os pontinhos e a relação dessas irmãs deve ser muito louca! Nossa! Preciso ler, real!

  3. gente, preciso para ontem! ainda mais que nunca li nada de autores nigerianos. fiquei com muita vontade de ler, com certeza vou incluir na minha lista

  4. pode até ser a primeira obra dela mas pela sua resenha parece que ela não só arrasou na escrita como na construção das personagens, e se antes eu já queria ler esse livro agora tenho certeza que preciso porque amo a tematica, amo obras escritas por mulheres.

  5. Após ler "Hibisco Roxo" fiquei com muita vontade de conhecer outras narrativas que também se passem na Nigéria, por isso esse detalhe já ganhou muitos pontos comigo. Achei o título e a capa divertidos, o que não me remeteria à um suspense, ao menos não à primeira vista. Mas lendo sua resenha fiquei muito curiosa pela história e em saber como essas personagens se desenvolvem. Dica anotada!

    http://www.sonhandoatravesdepalavras.com.br

  6. Oi! Eu particularmente gosto desse estilo de narrativa, e sendo escrito por uma nigeriana, a cultura e aspectos interessantes desse país com certeza, deixam a leitura ainda mais agradável. Gosto de como a autora deixa a história crua, sem encarnar demais em qualquer lado, tanto como na da serial ou sua irmã, mas amadurece mais a relação delas entre si. Gostei demais de conhecer sobre esse livro!

    Bjoxx ~ Aline ~ http://www.stalker-literaria.com

  7. Gostei muito da sua resenha e mesmo a trama parecendo interessante, mas não chamou minha atenção, pois me lembrou filmes que assisti em que a mulher após se relacionar com os homens, os mata.

    Bjo
    Tânia Bueno

  8. Oie,
    Já quero hahaha, já tinha visto o livro em algum lugar, mas não tinha despertado minha curiosidade com relação a história, porém sua resenha me deixou eufórica, quem proteger? O segredo da irmã ou o rapaz que ela ama? Muito bacana e como sou fã de suspense e thriller já fiquei mega empolgada.

    beijokas

  9. Olá!
    Ta aí um livro que eu não tinha ouvido falar, mas agora já estou louca de vontade de ler! Até me arrepiei aqui, não sei porque, mas senti que pode ter um mega plot twist nessa trama, será? Ansiosa pra ler e conferir. Adorei a trama e a sua resenha. Dica anotadinha!
    Abraços

  10. Olá,
    A história parece diferente, porém como leio muitos Thriller eles tendem a cair em algum ponto comum e que se não bem trabalhados ficam mais do mesmo. Não conheço quase nada da editora então gostei de saber que tipo de livor publicam.

    Debyh
    Eu Insisto

  11. Olá,
    Conheci esse livro a pouco e ele me despertou o interesse, agora que li a sua opinião e conheci um pouco mais da história, tenho certeza de que irei curtir a história.
    Obrigada pela dica!

  12. Olá, tudo bom?
    Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas confesso que após ler sua resenha eu fiquei super curiosa para realizar a leitura. O primeiro ponto que me instigou foi essa questão da irmã assassinar os namorados. Fiquei bem curiosa para conhecer as motivações. Outro ponto curioso é saber se elas tem algo realmente com a morte do pai. Além desses pontos, curti a questão social que é abordada também, então, dica mais que anotada! ♥
    Beijos!

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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