A mulher que matou os peixes- Clarice Lispector

Este é um livro infantil, em que Clarice Lispector, narra em primeira pessoa, como ela matou dois peixinhos vermelhos. Mas deixa claro desde o início, que não o fez por querer. Para provar sua inocência, ela vai contando ao longo do livro, as relações que teve com outros animais ao longo de sua vida, de modo que fique claro seu amor aos animais, e mostre que não poderia fazer nenhum mal a eles de forma consciente. Diz que espera que no final, quando o leitor souber como os peixinhos morreram, ela seja perdoada.

O livro é recheado de ilustrações da autoria de Carlos Scliar. São desenhos simples, mas que ilustram bem a história que está sendo contada e a estrutura do texto em forma de versos, faz com que seja uma leitura rápida, de modo a satisfazer o público-alvo.

Ao longo da narrativa a autora vai fazendo perguntas aos seus pequenos leitores, o que faz com que a narrativa se pretenda interativa.

“Antes de começar, quero que vocês saibam que meu nome é Clarice. E vocês, como se chamam? Digam baixinho o nome de vocês e o meu coração vai ouvir”. (p.10)

Ela explica a diferença entre bichos naturais e bichos convidados. Os primeiros são aqueles que entram na casa de uma pessoa sem serem convidados ou que não foram comprados. Como exemplo, a autora cita baratas, ratos e lagartixas. A segunda categoria é autoexplicativa, mas a autora acrescenta que “às vezes não basta convidar: tem-se que comprar”. Conta que comprou dois coelhos, dois patos, pintos e cachorros.
Relata como já teve dois cachorros. O primeiro foi quando ela estava morando na Itália, provavelmente por causa do trabalho de diplomata de seu marido. Deu o nome de Dilermando porque achou que o cachorro tinha cara de brasileiro. Teve o segundo cachorro quando estava morando nos Estados Unidos, o mesmo se chamava Jack. Também conta, em suas palavras “uma história de cachorro terrível mesmo”. Se trata do cachorro de Roberto, um amigo dela, que tinha um cachorro que se chamava Bruno Barberini de Monteverdi. Bruno tinha um amigo canino que chamava Max e os dois animais eram muito amigos mesmo, mas digamos que Bruno era um cão muito protetor e fiel ao seu dono, de modo que nenhuma amizade poderia ser mais importante que seu amor para com Roberto. Essa história termina, como a autora já tinha alertado, de uma forma terrível.

“(…) Cachorro cheira as coisas para compreendê-las; eles não raciocinam muito, são guiados pelo amor do coração dos outros e deles mesmos”. (p.22)

Seu amor pelos animais começou quando ela ainda era criança. O primeiro bichinho de estimação que teve foi uma gata que teve muitos filhotes e os pais se viram brigados a doarem todos eles, a então criança, ficou tão triste que até adoeceu com a ausência dos gatos.

Também já passou pelas mãos da autora um macaco, uma miquinha a quem sua família deu o nome de Lisete.
No final, depois de ler sobre tantas histórias de diferentes animais e de ver que Clarice realmente gostava muito deles, quando ela conta como matou os dois peixinhos “vermelhinhos”, como eram chamados, o leitor a compreende e não vê motivos para a não perdoar.
Se você gostou da resenha e tem interesse em saber mais sobre a autora, talvez possa se interessar pela biografia escrita Benjamin Moser, já resenhada aqui no blog.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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