A vida em espiral- Abasse Ndione

Após uma campanha enérgica contra a maconha, desde as plantações ao tráfico, com prisões de sipikats (traficantes), ficou cada vez mais difícil conseguir yamba (maconha) para uso próprio, para venda ou para qualquer tipo de finalidade. É nesse contexto que conhecemos o protagonista e narrador do livro, Amuyaakar Ndooy e seus gaay (amigos) Bukari, Badara, Yaba Xanca, Laay Gooté, depois que o último traficante, Dappasa, foi preso. Para eles, a escassez de maconha, era até pior que a escassez de água, que predominava em Sambey Karang, aldeia onde moravam.
Desse modo, eles tentaram substituir a maconha pela bebida alcoólica, mas era igualmente difícil encontrar álcool, já que a bebida foi proibida por questões religiosas.

Amuyaakar Ndooy é um motorista de táxi, que mora com a família, até que recebe uma proposta para traficar maconha por um excelente preço. Pensando no dinheiro e em tudo que poderia proporcionar a sua família, aceitou a proposta e junto com os amigos, vai fazer de tudo para fazer com que consiga realizar a entrega sem ser descoberto pela polícia.
Com a leitura desse livro, é possível ter uma visão mais ampla de como funciona o sistema em relação à maconha, criminalizando uns, mas enriquecendo outros. A realidade é que, no fundo, tudo se trata de política e este é um livro que pode ser muito esclarecedor neste sentido.
Achei muito interessante a presença de expressões em wolof, idioma falado em algumas regiões de Senegal, com notas explicativas sobre a tradução em português, isso faz com que o leitor possa se sentir mais imerso na leitura por estar entrando em contando com algo tão importante de um país, seu idioma.
Mesmo que o assunto principal seja a relação do personagem principal com a yamba, também conhecemos outras áreas de sua vida, como suas vivências amorosas e seu relacionamento com Désirée, mulher de caráter forte, decidida e determinada, que sempre soube se impor e aceitou Amuyaakar Ndooy do jeito que ele era, ainda que no começo não aceitasse que ele fosse mesmo um traficante, com o tempo foi acreditando e foram construindo um relacionamento com base na sinceridade, o que me surpreendeu positivamente.
Com um tom de conversa, na qual se faz um relato descrevendo situações já vivenciadas, é uma narrativa muito gostosa de se acompanhar. A leitura flui fácil e só nas últimas páginas ganha um quê de thriller policial, fazendo uso de recursos bastantes clichês do gênero, o que me irritou um pouco porque destoou do que estava sendo narrado até então, mas apesar disso, o livro não perde sua importância e sua leitura não se faz menos indicada, principalmente para quem quer conhecer um pouco mais da cultura, religião e aspectos geográficos do Senegal.

9 respostas

  1. Oi eu tenho muita vontade de ler qualquer livro dessa editora, estou sempre a abordar assuntos realmente importante na sociedade que vivemos e estamos a viver esse parece ser um livro revolucionário e adorei a capa, dica anotada e sei que terá muita cultura de outros povos.
    Beijinhos

  2. Oie!
    Eu ainda não conhecia o livro, mas fiquei bem interessada nesse título.
    Será uma leitura bem diferente dos livros que estou acostumada a ler, por isso que fiquei interessada. Com um tema bem interessante, já anotei a dica.
    Bjks!
    Histórias sem Fim

  3. Ooi
    Não conhecia o livro, mas já me interessei. Parece ser uma obra bem rica, que traz bastante conhecimento. Sem contar que os assuntos tratar os parecem bem interessante. Dica anotada!

  4. Olá,

    Ainda não conhecia o livro mas a premissa é instigante e com certeza a história parece ser enriquecedora, dica anotada.

    Abraços,
    Cá Entre Nós

  5. Adorei a premissa e acho que o livro pode ser esclarecedor em muitos aspectos. Não manjo absolutamente de como funciona a máquina do tráfico da maconha, droga tão tolerada nos últimos tempos e tenho certeza que o livor deve ser bem intenso quanto a isso.
    Beijos

  6. Acho que não gostaria muito dessa leitura… A questão da maconha, particularmente, é algo que me incomoda muito, se for legalizada não sei como vou aguentar, porque já sofro com fumaça de cigarro, imagina a maconha e a maré que ela causa, além do cheiro característico que acho horroroso? As pessoas não respeitam o outro o suficiente pra gente sair liberando o uso de drogas, questão de política ou não, prefiro não ser obrigada a conviver com isso. Acho que não dou conta de uma leitura com a presença dessa droga no enredo. O que eu curti mesmo foi a presença de um idioma que não conhecia com notas explicativas sobre a tradução, isso com certeza enriquece demais a obra.

  7. Ainda nao conhecia o livro, achei o enredo pesado, uma realidade e que nao costumo ler, mas sei que seria um livro para abrir a mente e tb aprender mais sobre o mundo.
    Achei a capa impactante tb, mto boa a resenha.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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