Alleluia: passos e percalços de uma baiana lutadora, de Irene de Alleluia Meyer é uma autobiografia publicada em 2019 pela editora Gramma, com ilustrações de Vanessa Marella.
No livro, Irene narra toda sua história desde criança à vida adulta, já com mais de 60 anos. Ela nasceu em 1944, em Salvador . Após a morte de sua mãe, ela e a irmã mais nova foram levadas pelo pai para serem criadas por uma tia materna. De onde deveria vir cuidado, amor e carinho, elas só receberam maus tratos, desrespeito e desumanidade. A infância delas foi bastante difícil. Não tiveram direito de serem crianças e eram tratadas como as empregadas da casa.
Irene viu nos estudos sua única possibilidade de libertação e assim, com muito custo, conseguiu concluir o secundário e em seguida foi selecionada para cursar Química em Recife, tendo somente sido possível porque conseguiu uma bolsa de estudos que a ajudou se manter, não sem passar por dificuldades, sozinha em uma cidade que ela não conhecia e sem ajuda da família.
Após a graduação, conseguiu aperfeiçoar sua formação na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, fez mestrado na PUC-RJ, seguido de especialização e doutorado na Alemanha. Todo seu percurso acadêmico foi feito como bolsista de diferentes programas de fomento à pesquisa. Quando Irene percebeu que somente por meio dos estudos ela teria alguma chance de mudar sua realidade, tinha consciência de que não seria uma experiência fácil e de fato não foi. Vivenciou diversos episódios de racismo, principalmente na Alemanha. No entanto, “racismo” é uma palavra que pouco aparece ao longo do livro, a autora prefere usar os termos “preconceito” ou “discriminação”, o que são escolhas válidas, mas que minimizam a gravidade dos fatos. É preciso nomear o problema para que o mesmo seja visto em gravidade, pois racismo é crime e deveria ser enfrentado como tal.
Com a narrativa dos estudos de Irene, percebemos o quanto a área da Educação mudou para melhor ao longo dos anos, tornando-se mais acessível às pessoas das classes mais baixas. Além de termos noção do quanto o sistema educacional brasileiro evoluiu, também podemos vislumbrar o período da Ditadura Militar, pois a autora relata episódios em que foi diretamente afetada pelo regime.
Irene passou por muitas privações e conseguiu superá-las, vencer as barreiras da vida, o que torna sua história admirável. É bom ver a evolução e sua ascensão social. Assim como, ficamos felizes que ela tenha se permitido viver o amor.
Alleluia: passos e percalços de uma baiana lutadora, além de trazer ilustrações belíssimas, também é enriquecido com fotografias de diferentes momentos da vida autora, como a que ilustra a capa, que foi tirada na ocasião de sua defesa do doutorado na Universidade de Karlsruhe, na Alemanha.
O leitor percebe sinceridade nas palavras de Irene, principalmente por ela revelar segredos da família. Não foi uma narrativa fácil de escrever, porque mesmo depois de adulta, há feridas que não saram nunca e ter que relembrar todas elas, com certeza deve ter sido bastante doloroso. Ainda no prefácio, a autora diz que não é um livro apresentado linearmente e que prefere nomeá-lo como “relato de vida”, no qual apresenta diversos tipos de memórias. É uma história que começou a ser escrita em 2010, mas só foi publicada em 2019, tendo passado por um momento de perda completa dos arquivos em 2012. De nossa parte, fica o agradecimento por Irene ter tido a disposição de dividir sua história com o mundo, que ela possa inspirar e motivar muitas outras pessoas que passam pelas adversidades da vida e pensam que não podem vencê-las.
2 respostas
Muito obrigada pela leitura, resenha e divulgação. Os autores brasileiros precisam muito disso. Beijos, Valéria da Oasys Cultural
Eu agradeço de coração pela super análise do meu livro. Obrigada mais uma vez e muito sucesso. Irene de Alleluia Meyer