Existem muitos livros (principalmente os infantis) onde todo o enredo está na
perspectiva do animal. Alguns deles até giram somente na ótica do mesmo. Pode até parecer difícil, mas não. O animal também tem muita história pra contar e também a inspirar. Muitos dramas e suspenses podem também ser narrados segundo as emoções dos próprios bichos e também ramificar para outros modelos, substituindo por humanos.
Um exemplo: Na infância, eu criava um viveiro de periquitos, onde a fêmea mais velha vivia brigando com uma das filhotes fêmea (já adulta também). Tudo por causa do macho. Volta e meia eu precisava bater nas grades para apartar e fazê-la sair de cima da outra. Um dia, a menor acabou ferida e precisei tomar providência. Transferi para outra gaiola menor e mais simples. Sempre que eu ia trocar a água e por alpiste, ela estava mordendo a grade e fazendo barulho, na tentativa de entortar. Não dava muita atenção a isso. Até que um dia a gaiola estava vazia. Ela finalmente havia fugido.
Agora imagine esse enredo na ótica dos personagens. Talvez não sustente uma história de periquitos, mas imagine a história de uma mulher (talvez escrava) oprimida em um território onde constantemente sofria nas mãos da mulher do imperador, por conta de ciúmes? Daí, ela é resgatada e levada até outra prisão, para que não morra, mas suspeitando de que iria morrer, acaba se preparando para a sua fuga e assim, um dia ela desaparece.
Imagine a felicidade proporcionada pela liberdade. A imensidão do céu se abrindo para novas oportunidades, desafios, enchendo o peito da personagem de esperança. A mulher sofrida conseguiu fugir e assim, terá mais forças e motivação para viver. A história pode fechar na liberdade ou então abrir para outra etapa, que é a de peregrinação rumo ao seu território e de encontro ao seu povo.
O mais curioso é que tudo isso partiu após analisar o drama sofrido em uma
comunidade de periquitos.
Tudo dependerá de uma senso criativo bem apurado e desenvolvido.
Leo Vieira