Aquarius (2016)


Depois de uma amiga da faculdade ter ido assistir ao filme e indicar com veemência, resolvi assisti-lo também. No dia 07/09, quarta, fui no Caixa Belas Artes e entendi o motivo dela ter falado tão bem do filme.
Dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho, o filme se passa em Recife e conta com a atuação espetacular de Sônia Braga no papel de Clara, uma mulher na casa dos sessenta que mais nova passou por um câncer e agora resiste de forma determinada às investidas de uma construtora que quer comprar seu apartamento para construir algo mais modernizado.
Por ser a única moradora do Edifício Aquarius, recebe ataque de todos os lados, até de sua própria filha, que não entende como a mãe pode recusar a oferta da construtura, uma vez que está sendo oferecido um valor até mais alto do que o apartamento vale.
O espectador vai aos poucos entendendo o motivo de Clara não ceder: há muita lembrança afetiva. Foi lá que ela morou sua vida toda, criou seus filhos, viveu e venceu seu câncer.
O foco principal é a questão imobiliária, mostrando como esse mercado é insensível às questões humanas, visando somente o lucro, mas através de detalhes e situações da rotina, o filme promove uma reflexão social a respeito da classe das empregadas domésticas, o que também leva a uma reflexão racial, que ao meu ver, estão intimamente ligadas. Além disso, mostra um Recife real, com suas divisões sociais bem estabelecidas. 
Em boa parte do tempo é colocado em evidência o novo e o velho. Como por exemplo, Clara tem uma coleção de discos de vinil e os escuta em sua vitrola, enquanto seu sobrinho, de uma geração mais nova, lida com as mídias em MP3 , mas Clara, apesar de também fazer uso das novas tecnologias, prefere seus discos. O que nos leva à trilha sonora que é espetacular, que conversa com as cenas e fica na mente de quem assiste. Você pode saber mais sobre a trilha sonora do filme nessa matéria do Uol.
O final é espetacular e emocionante, tanto que foi aplaudido quando o filme terminou. É realmente  impressionante a força da personagem Clara e majestosa a atuação da Sonia Braga.
Humberto Carrão também se destaca no papel de Diego, o neto do dono da construtura, que fica responsável pelo projeto Novo Aquarius e recém-formado no exterior, não mede esforços para alcançar seu objetivo.

O diretor disse em entrevista que “(…)se trata de um filme sobre a energia necessária para existir. Às vezes cansa, mas há que encontrar mais energia para continuar a lutar”. (Fonte)

É isso. Minha recomendação é que vocês assistam.

7 respostas

  1. Oi Maria, tudo bem?
    Ando vendo bastante comentários positivos a respeito desse filme e pretendo olhar.
    Gosto muito de dar chance aos filmes nacionais, assim como faço com os livros.
    Pena que esse filme não entrou em cartaz na minha cidade 🙁 Mas quando eu puder, vou olhar. Ele aborda várias questões que a gente precisa debater, insistir, até que as coisas mudem.
    Acho que estamos no caminho, mas a estrada é muito, muito longa 😛
    Beijooos
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

  2. Olá, Maria.
    Eu não conhecia esse filme ainda, mas me interessou. Eu moro a 31 anos na mesma casa e não sei o que faria se tivesse que me mudar obrigada. É muito difícil deixar tantas lembranças para trás.

    Blog Prefácio

  3. Olá, Maria.
    Tenho lido muitos comentários positivos sobre o filme, o que me deixa bem animado para conferir a adaptação. Ademais, seus comentários sobre a crítica social me deixaram curioso. Sei que o mercado imobiliário é bem podre, mas quero conferir isso mais de perto, como foi retratado no filme.
    Ótima resenha.

    Desbravador de Mundos – Participe do top comentarista de setembro. Serão três vencedores, cada um ganhando dois livros.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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