Bricolagem travesti – Maria Léo Araruna + Entrevista

“Nosso dom era ser tudo que a própria natureza não criara, ser tudo que a ciência não pensara, tudo que a religião não implorara.”Maria Léo Araruna em “Roxo: a história da minha travestilidade”.

“Bricolagem Travesti” é composto por contos, ensaios, poemas e a transcrição de uma cena da aclamada performance teatral “Manifesto Trav (Eco)-Ciborgue”. Essa pequena obra é um paradoxo literário, pois o que talvez poderia ser considerado como defeito (seu pequeno número de páginas), é ao mesmo tempo o seu ponto alto: ao final das 50 páginas meu único sentimento foi tristeza. Mas uma tristeza boa, pois já imaginava a longa e dolorosa espera por um novo livro.

A autora abre o livro com ” Roxo: A História da Minha Travestilidade.” Um poderoso ensaio banhado na melancolia que narra a construção do seu eu, ao mesmo tempo em que lida com o trauma e a pressão externa da sociedade que insiste em pautar quem e o que ela deveria ser. É um ato de amor entre duas versões dela mesma que entre rasgos, chagas e reencarnações gera a versão que ela sempre foi.
O livro ganha tons góticos em “O pedido de Odete”, quando, em algumas poucas páginas, Maria cria um pequeno universo digno de Edgar Allan Poe. Ao narrar o desespero de Odete, uma fazendeira que há anos é vítima de estupro marital, até que um dia vem o basta: depois de muito desejar, um ser fantasmagórico surge no milharal e acaba com os sofrimentos da pobre mulher. É um horror psicológico que mistura o bucolismo e o tom sobrenatural das histórias macabras do interior. A descrição da criatura merece aplausos, assim como a habilidade da autora em construir uma tensão (“a angústia que suava as quinas da carne”) a partir do momento em que a criatura surge em defesa de Odete.
Foto: João Testi

Em alguns momentos, “Enxergue as Travestis no gerúndio” parece ser uma crítica pesada à mídia, à sociedade, e aos programas de tv em geral (que só dão espaço as travestis que já são estereotipadamente femininas e passáveis, esquecendo que as travestis que ainda não transicionaram, ou que estão no meio da transição também merecem espaço, oportunidades, respeito e amor. Adiante, Maria escreve: “enxergar a travesti pronta e discursar sobre ela é fácil!”.A autora usa uma cena poderosa de sua performance “Manifesto Trav(Eco)-Ciborgue” para fechar o livro. Influências de Manifesto Ciborgue (Donna Haraway) serão reconhecidas nesse texto sobre o processo de criação da masculinidade tóxica, sobre a objetificação e colonização dos corpos trans.
“Bricolagem”, como escrevi no início, é um livro que serve como aperitivo para algo maior e mais poderoso, mas ainda sim, é extremamente necessário na luta contra o Cistema atual.
 
Entrevista

 

William Alves: Maria, antes tudo, é uma honra poder te entrevistar, pois você já sabe da importância do seu livro no meu retorno à literatura. Como 2020 está te tratando?
Fico muito, muito feliz que meu livro te possibilitou seu retorno à escrita. Nunca imaginei que isso poderia acontecer. A honra é toda minha. Bom, o começo de 2020 foi ótimo pra mim. Nunca fui em tantas festinhas com minhas amigas, nunca aproveitei tanto o carnaval como neste ano. Parece até que meu corpo estava pressentindo o que estava por vir. Mas aí chegou o corona e toda crise política no Brasil e no Mundo e foi um turbilhão de sentimentos aqui dentro. Já fiquei muito mal, já tive crise de pânico, já chorei bastante, já imaginei que estava com Covid (risos). Acho que já aconteceu de tudo. Agora, eu estou tentando ter paciência e calma comigo mesma. Não deixei nem por um dia de ensaiar ou fazer alguma atividade artística pra me manter viva e minimamente feliz. Também estou fazendo aula de Libras. Então, acho que, por enquanto, vou indo bem com algumas recaídas.
 
Em “Roxo” você fala em tornar-se sã e encontrar calmaria. Por favor, fale para nós do blog como conseguir manter a sanidade desde que aquela pessoa tornou-se presidente da república?
É complicado (risos). Cada dia é uma bomba diferente. Às vezes, sinto que estou flutuando, não consigo raciocinar direito com tanta informação triste, com tanto ódio presente. Como meu amigo disse outro dia: não é fácil viver no fascismo em plena pandemia. Tá sendo difícil organizar a mente. Mas nesse meu texto Roxo eu falo sobre a importância da calmaria no momento de descoberta da nossa identidade de gênero. Sempre penso que o que realmente explica quem nós somos são nossos sentimentos e todas as possibilidades de mundo e de existência que nossos afetos abrem em nós. Então, no processo de me tornar travesti, percebi que essa identidade me trazia calma em relação a tudo que fui e sou; em relação às minhas memórias da infância, em relação à pulsão dos meus desejos, em relação aos olhares do outro sobre mim. E é a partir dessa calma interna que eu consigo tirar coragem para enfrentar esse mundo que quer nos machucar. Sempre que alguém que conheço está começando sua transição, eu falo: Você tem várias possibilidades. Vá com calma. Experimente, crie, volte atrás. Você não precisa dar satisfação pra ninguém. O importante de tudo é você encontrar calmaria. Encontrar aquela identidade que faz sentido com suas vivências. Aquela identidade que te traz paz e confiança em ser quem se é.
Em “Bricolagem Travesti” as meninas fazem fila para serem “consertadas” pelo Testão, mas uma vez que ele termina o serviço elas se destroem e se reconstroem usando peças umas das outras, tornando-se realmente felizes. Elas se submetem a esse procedimento por pura espontaneidade, ou pela pressão externa da passabilidade?
Na história eu imagino ser esse um processo obrigatório em que elas são submetidas. Como se a expectativa do Estado, da medicina, da psicologia, do mundo jurídico e das instituições como um todo tivesse que se sobrepor a toda potência criativa de ser um corpo. Queria mostrar o peso que os discursos e práticas provenientes desses espaços de poder têm sobre nós e como muitas vezes eles acabam nos moldando. Muitas vezes, para que pessoas trans possam entrar no mercado de trabalho, elas têm que modificar seus corpos dentro de parâmetros hegemônicos de feminilidade e masculinidade e também racistas. E isso é muito cruel. Essas negociações corporais violentas são muitas vezes necessárias para conseguirmos ter uma vida capaz de ser vivida, uma vida menos vulnerável. Mas a principal mensagem do conto Bricolagem Travesti é que as travestis sempre nos ensinaram, durante a História, que somos feitas, principalmente, de nós mesmas. Nós nos construímos entre nós; nossas subjetividades (corpo, intelecto e força desejante) são calcadas em pegadas antigas, em contextos afetivos e revoltosos antigos. Pra mim, travesti é sobre coletividade. A gente se faz, se monta, na gambiarra, com o que tiver disponível para sermos o que somos. Em uma luta constante entre nossos desejos internos e coletivos e esses poderes coloniais que teimam em nos dizer o que é um homem e o que é uma mulher.
 
Em “O Pedido de Odete” você cria quase que um “conto gótico do interior” e mostra o horror do abuso no casamento. Você se considera influenciada pela literatura gótica, ou o clima de terror simplesmente aconteceu de forma orgânica no conto?
Tô pensando aqui e acho que minha referência ao terror vem de uma vivência de aventuras na infância (risos). Acho que não tive influência da literatura gótica não. Quando criança, gostava muito de imaginar mundos e desvendar alguns mistérios, seja na escola ou em viagens de família. Costumava ir pra Araxá-MG, cidade do interior de Minas, onde tenho familiares e amigos muito queridos. Lá ia sempre pra algumas fazendas de tios e tias e ficava fascinada com a onda de mistério e solidão que habitava aquelas casas rústicas, os milharais, o espaçamento entre as residências, os barulhos, o cheiro de esterco que eu amooo (risos). Tudo isso sempre preencheu meu imaginário, sabe? Então, enfim, consegui dar vazão a esse mundo na história de Odete.
 
Em “Trilogia de Vícios” você usa a expressão “erros renováveis”. Poderia elaborar?
Seriam erros que se repetem, erros que não consigo abandonar. Sempre, em contextos diferentes, me vejo caindo nesses erros: mentira, descuido e ódio. São sentimentos destrutivos que me permeiam. E resolvi, então, cartografá-los e escrever sobre eles. Em uma tentativa também de me despir e mostrar minhas vulnerabilidades para quem me lê. Tento ao máximo ser verdadeira com a minha arte e acho que está aí parte do meu amor pelo que faço e pensei: Não posso escrever um livro em que ninguém consiga tocar na minha parte podre. Não posso ser só a vítima da transfobia, a criativa ou a resistente. Também tenho que mostrar que sou escrota (risos), que faço e penso coisas ruins. Deixar o Outro me alcançar de verdade. Também sou algoz. Também causo dor no mundo e nas pessoas. E que, às vezes, sou muito teimosa pra querer mudar isso. E que, às vezes, até encontro prazer em fazer isso. Não posso mentir. Mas acho que isso, em geral, é uma atitude política em mostrar que travesti não é deusa nem monstro, é tudo junto que nem você que me lê.
 
Curioso você usar o termo “deusa”. Eu vi uma travesti famosa escrevendo sobre o uso do termo. O texto dela era sobre esse ato de desumanizar a mulher trans ao não a reconhecer como mulher e sim como uma entidade, um ser sagrado. E essa “divindade” que luta diariamente para ser respeitada na sociedade enquanto mulher, mas que ao ser chamada de deusa, por exemplo, é como se as pessoas cis estivessem se ausentando dessa responsabilidade em reconhecer mulheres trans e travestis como seres humanos…
Pois é. Eu percebo que as travestis andam na corda bamba entre o nojo e o fascínio. A gente é tão extrapolada subjetivamente que não conseguimos ocupar o banal, o ordinário, exatamente aquela calma no olhar cisgênero. Ou ela é odiada ou ela é endeusada. Não é à toa que isso se reflete em âmbito macropolítico também, pois o Brasil é o país que mais mata travesti, mas é também o que mais consome pornografia travesti. E estar nessa fronteira de desumanização cansa muito, é psiquicamente desgastante. E isso me fez escrever o poema “Enxergue as travestis no gerúndio” em que eu tento, poeticamente, refletir sobre outras possibilidades desejantes que podem habitar os olhos cisgêneros em relação a nós. Pode parecer meio bobo, mas queria muito ser tratada como uma garota normal no meu cotidiano, uma qualquer, principalmente pelos homens dentro das relações românticas. Mas eu também não deixo de usar essa exacerbação que é imposta a mim pra botar respeito na porra toda! (risos) Eu costumo agir desse jeito, tanto pessoalmente, quanto artisticamente: se me quer demônia, eu vou fazer você ter medo de mim; se me quer deusa, eu vou fazer você babar por mim. Se as pessoas cis me exacerbam, eu pego o estereótipo delas e elevo à enésima potência só pra ver no que que dá. Se elas saem correndo, ou se elas ficam na minha mão.
 

Como criar, construir e edificar gentes?
Com o ensino da pluralidade. Esta é outra palavrinha que eu gosto muito, tenho muito carinho. Uma palavra que já me salvou e que conduz minha luta política. Acredito que os adultos são muito medrosos, muito cheios de certezas, um bando de gente frustrada com o mundo, com medo das mudanças, das transformações. E acaba que eles desejam para o ensinamento dos filhos valores e verdades fixos e estáveis. Nossa, como adultos amam a palavra “estabilidade”. E acredito que o novo mundo vem com o rompimento desse conservadorismo de como as coisas são e devem ser. E a crença na pluralidade de existência, nesses vetores múltiplos e distintos de sentir e experienciar o mundo, pode ser um bom começo. Por isso, acredito que as escolas, a educação como um todo, deveria ter isso como mote. Só assim construiríamos pessoas menos donas de si e mais abertas às suas fragilidades, às suas vulnerabilidades e ao atravessamento do outro. Menos sujeito e mais mundo, sabe? E como fazemos isso? Lutando por uma educação que discuta gênero, sexualidade, raça, corpo, família, feminismos, africanidades, deficiências, arte e etc. Abrir o diálogo sobre as violências das quais o mundo é feito. Não ter medo disso. E produzir saberes e criações que possam romper com isso. As crianças são tão potentes em criar. É uma pena que nosso sistema queira classificá-las, tirar sua autoestima, roubar suas vontades, prendê-las em moldes velhos e ultrapassados, prendê-las em angústias e medos em relação ao futuro capitalista. É uma pena.
 
Você escreve “o embocetamento conduz à mulheridade, e os penianos que se façam de viris”. Como podemos criar uma próxima geração sem masculinidade tóxica?
Acredito que isso vai muito de acordo com o que disse acima. Educar garotos desde criança sobre as dores do patriarcado, sobre enxergar as garotas como humanas e não inferiores, sobre a responsabilidade da paternidade, etc. Deixar de naturalizar comportamentos agressivos como construção da identidade deles. Queria muito que tudo isso fosse uma política de Estado um dia. Que as escolas pudessem atuar com isso em foco. E que as famílias ficassem atentas cada vez mais a esse debate. Essa educação libertária tem que estar prescrita em todos os níveis: nas disciplinas escolares, nas brincadeiras, na hora do recreio, nas atividades físicas, nas festividades… Fico chocada como até hoje os adultos são viciados em separar tudo no mundo em coisas de menino e coisas de menina. Isso, por mais bobo e inocente que pareça, mexe muito com a construção da identidade dos meninos. A convergência desses pequenos e sutis ensinamentos ensinam que também é coisa de menino: obrigar a namorada a se vestir como ele deseja, ser violento no sexo, bater em travesti e em viado, não cumprir com obrigações domésticas, não ser presente na educação e criação dos filhos, etc. Pra mim, a solução das coisas é mais simples do que parece: ter a pluralidade de existência no horizonte faz com que, aos poucos, a gente vá transformando nossos comportamentos velhos e desnecessários. E as crianças entendem e escutam! Ensino para meus priminhos e pra minha irmãzinha que é feio preconceito, que é errado xingar o coleguinha de viado e que não há problema nenhum em ser um homem que ama outro homem, que não há problema em ser menino e brincar de boneca, que é bonito ter o cabelo crespo, um cabelo que cresce pra cima como uma coroa, que é normal ser menino e se tornar uma mulher, que não tem problema nenhum! Eu ensino tudo isso! (risos). Queria que os pais deles também fizessem.
 
Ainda sobre a pergunta acima: Um famoso influencer trans brasileiro pediu para mandarem perguntas, e um seguidor perguntou se o termo “homem” já não está obsoleto. Você acha que com todas as discussões atuais sobre gênero e sexualidade isso é algo que pode acontecer no futuro, ou é pensamento utópico?
Realmente não sei (risos). Também não me preocupo com isso. Com as terminologias das coisas no futuro. Eu quero é ampliar as noções de homem, mulher, feminino e masculino. Acredito que esticando, dobrando, explodindo, acarinhando, pensando, cuspindo, se responsabilizando pelos termos e conceitos a gente vai chegando em outros lugares. E os homens trans, as bichonas, as caminhoneiras, as pessoas não-binárias e as travestis vêm nos ensinando muito sobre isso.
 
O que é uma Transdemocracia?
Eu penso de duas formas. Uma Transdemocracia em que as epistemologias trans sejam escutadas. Um mundo democrático que tenha vontade de aprender com as potências criativas de pessoas trans. Que repense a política do corpo e os limites das representações vigentes. Que pense a artificialidade do corpo como comum a todos. Que todo mundo está se moldando, se construindo, se montando ativamente, relacionalmente. E as pessoas trans escancaram tudo isso. Mas também penso a Transdemocracia como um mundo porvir, que é impossível de ser formatado por agora, mas que seus contornos e gérmens já se anunciam nessa vontade latejante dos movimentos sociais e nas microrevoluções que despontam onde se há mais repressão. A Transdemocracia é uma força energética de criatividade que pense a vitalidade e a potência coletiva fora da dominação do Capital e das estruturas rígidas racistas, coloniais, patriarcais, cisnormativas. Não é um paraíso liberal ou socialista, é uma vontade que aponta no agora e que dá vontade de acontecer, de tecer. A gente pode deixar a agonia do que vai ser para a história e deixar os desejos do corpo do presente nos guiar.
 
Às vezes, no seu “Manifesto Trav(Eco)-ciborgue” uma influência Ciborguiana da Donna Haraway fica pairando no ar enquanto você performa de modo gráfico a criação do macho tóxico e o corpo trans. O que faz o ensaio sobre o corpo ciborgue da Haraway (Manifesto Ciborgue, lançado em 1985) ser tão atual?
Duas coisas. A superação dos binarismos homem/mulher e natureza/cultura e a artificialidade de nós todes. A linguagem é uma comunicação falha e pequena frente ao imaginário. Não podemos deixar ela guiar nossa vitalidade. Ela é só um auxiliar, uma ferramenta que controla o caos que o mundo é. Aí precisamos organizar tudo em letras, frases, símbolos, signos e significados, em formas e representações, mas o mundo acontece na bagunça entre tudo isso também, há mundo no jogo entre tudo isso, há mundo na fronteira dessas dualidades. É importante se atentar a isso. E quanto à artificialidade… é sobre o que falei antes: todo mundo se fabrica entre si, então pra quê se orgulhar de algum mito colonial que honre a natureza do seu corpo? Pra quê se orgulhar de ser um homem aos moldes que o colonizador instituiu? Pra quê acreditar que essa instituição é dada, verídica e escrita nos primórdios do mundo, se tudo está em constante mudança e transformação? Pra quê se enxergar como mais mulher que outras devido a certos atributos que você possui, se você nunca será mulher suficiente frente a outra que preenche mais requisitos que você? Pra quê, então, usar os termos como mulher biológica em oposição às mulheres trans? Pra quê se achar mais natural que alguém se os cavalos marinhos machos engravidam? Pra quê se achar mais homem que o homem trans se os peixes palhaços machos se transformam em fêmeas quando a fêmea morre? Pra quê? Pra quê? Pra quê você quer ser tão íntegro e dono de si? É por que você tem medo de ruir junto com a derrocada do seu mundo? Tenho más notícias: o mundo já acabou! (risos)
 
O “pós gênero” já é uma realidade? 
Sim. “Pós” não como após, mas como crítica a um sistema. Porque o gênero ainda existe, ainda apresenta suas dores, sua violência e sua capacidade identitária e de autonomia. Mas a crítica ao regime do gênero, a seus estereótipos, a sua binariedade, a sua legislação, a violência que ele causa, a toda estrutura de poder patriarcal, racial, heterocisnormativa que o habita é real. E vem acontecendo cada vez com mais força. O movimento de homens trans gritou bem alto: existem homens de vagina, sim! As travestis gritaram bem alto: existe mulher de peito e pau, sim! Pessoas negras gritaram bem alto: gênero é ferramenta de dominação colonial e de desmantelação identitária africana e indígena, sim! Então, a crítica está aí e existe de diversas formas, em várias vertentes. Não dá pra fugir disso!
Para finalizar, em “Carta de uma Travesti Futura Jurista para Estudantes de Direito” você escreve “… já cansei do cisgênero falar pela minha travestilidade.” Diga aonde podemos te encontrar, como adquirir seu livro, quando teremos coisa nova sua, é claro, alguns nomes de autorxs trans que o Brasil precisa conhecer.
Vocês podem conhecer um pouco mais sobre mim e meus trabalhos pelo meu insta: @marialeoararuna. Me chamem lá no direct para adquirir meu livro e, por favor, conheçam essxs autorxs trans: Diana Salu, Raíssa Eris Grimm, Tito Carvalhal, Bruno Santana, Medro Pesquita, Caia Coelho, Feio Franq, Kika Sena, Bia Manicongo, Esteban Rodrigues. Indico também toda a cole-sã escrevivências da Editora Padê Editorial que compõe escritos de diversas pessoas trans e LGBTIQA+. E sobre meus próximos trabalhos… quando essa quarentena passar vou estar pelos saraus, pelas ruas e se a Deyse permitir, nos teatros mostrando minhas poesias e minha arte!

 

17 respostas

  1. Eu amei o trocadilho em "Cistema" e a amei a resenha acompanhada da entrevista! conteúdo necessário que deve ser tratado sempre, não somente no mês do orgulho. esse texto traz uma indicação ímpar (o lindo) e uma análise espetacular. não conhecia e agora já quero ler.

  2. Adorei a entrevista, acho interessante saber/conhecer sobre os autores.
    Falando sobre o livro, não conhecia, mas já salvei na lista pra comprar. É tão urgente, que leituras como recebam visibilidade e sejam lidas.

  3. Que entrevista! Que potências e falas. Ao mesmo tempo, fica evidente o quanto ainda precisamos avançar nas discussões sobre gênero e sexualidade,sobre o viver em uma sociedade realmente plural, o quanto precisa serem discutidas as nossas trans-formações.
    Grata por resistir, Maria Leo!

  4. Adorei a entrevista, eu conheço tão pouco sobre a vivência trans, vivo em a bolha cis, e isso é extremamente problemático pq me faz alheia a essas diferentes vivências que lutam tanto pra ter visibilidade. Vou colocar esses livro pras compras do mês que vem!!

  5. Adorei a entrevista. Tenho tentado incluir leituras e filmes etc, de pessoas trans pra ver se consigo ter uma perspectiva além da bolha cis que nasci e em que vivo. Vou colocar essa na lista 🙂

  6. Adorei a entrevista,Maria muito eloquente com em sua fala,de extrema importância!Confesso que ainda estou na bolha de consumir conteúdo feito e protagonizado por vozes cis,algo que precisa ser desconstruido.Amei a indicação

  7. "Abrir o diálogo sobre as violências das quais o mundo é feito." Como futura educadora, essa frase me impactou bastante. Achei muito importante, em vários sentidos, essa resenha e a entrevista. Nas falas da Maria Léo é possível perceber toda a sua potência artística, o poder da sua vivência. Fiquei encantada! Só gratidão por ter a oportunidade de conhecer esse trabalho.

  8. Apesar de ser considerado tabu, acredito ser cada vez mais precisamos ler, falar e conversar sobre a existência de pessoas trans. Elas existem e merecem ter seus direitos respeitados!

  9. Linda entrevista! É muito importante darmos voz à quem vive e produz sobre a sua própria vida. É um dos passos para conseguiremos ser realmente plurais.

  10. Oii,
    Adorei conhecer esse livro e que entrevista fantástica!
    Me mostrou que precisamos ler e falar mais sobre todas essas questões de gênero, além de lutar sempre contra o preconceito, abrir portas mesmo.
    bjs

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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