Cânone à crítica: livros finalistas do Prêmio Jabuti 2020

A palavra cânone vem do grego “kanón” e seu significado depende do contexto. É uma palavra que pode estar no contexto da religião, da música, das artes, da filosofia e da literatura, que é o contexto que abordaremos aqui. Na língua portuguesa, cânone pode significar tradição, regra, norma ou preceito, dependendo do contexto em que está sendo usado.

Dizemos cânone literário quando nos referimos a obras que se tornaram consagradas, obras valorizadas, que resistiram ao tempo e que possuem uma qualidade estética digna de estudo. O cânone, como um todo, possui diversas categorias, daí então podemos falar em cânone nacional, universal, ocidental, etc.

Pensando em literatura brasileira, alguns autores são canônicos da nossa tradição literária, uma vez que foram importantes em sua época, seus livros marcaram ou foram representativos de um movimento, ou tradição literária. Esses são os autores que geralmente são estudados nas escolas e seus livros são leituras obrigatórias para os vestibulares. Como é o caso de Machado de Assis, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, Graciano Ramos, Clarice Lispector, Raquel de Queiroz, entre outros.

A definição de cânone aqui apresentada é uma definição um pouco generalizada porque muitos teóricos, críticos literários e estudiosos de teoria literária divergem na concepção do que consideram cânone. Inclusive, há críticos que entendem que a definição de cânone, se por um lado elege livros que ficarão conhecidos na posteridade, por outro marginaliza livros que ficarão à margem, como é o caso de livros escritos por mulheres, por pessoas racializadas, por pessoas pertencentes a grupos minorizados, etc.

Nesse sentido, é possível perceber que a tradição literária brasileira é composta majoritariamente por homens brancos. Se pensamos, por exemplo, na Academia Brasileira de Letras, ela é composta por homens brancos. Em 2018 vagou uma cadeira para um escritor ocupar o lugar e teve uma manifestação para que quem ocupasse a cadeira fosse a escritora Conceição Evaristo, que é uma mulher negra e que seria a primeira escritora negra a ocupar um lugar dentro da instituição, mas quem ganhou foi outro homem branco.

O que tenho refletido é como a gente ultrapassa essa barreira do cânone literário branco. Acho que um caminho nesse sentido são os prêmios literários porque eles dão visibilidades para os livros e autores vencedores, o que faz com que sejam mais conhecidos e divulgados. Mas claro que também é preciso refletir sobre que prêmio literário se está falando, criado por quem, qual seu o histórico de premiações.

Acho que o maior prêmio literário que existe é o Prêmio Nobel de Literatura, mas que quando pegamos o histórico de premiações, em 119 edições premiou apenas 3 negros e 15 mulheres, e dessas mulheres apenas uma foi negra, que foi a Toni Morrison, em 1993.

No Brasil temos o Prêmio Jabuti, que este ano de 2020 chegou em sua 62ª e que recentemente divulgou a lista de finalistas. Quando eu fui conferir fiquei muito feliz em ver que muitos autores negros estavam dentre os indicados como finalistas.

Quis trazer aqui como indicação alguns desses livros para que conheçamos e coloquemos na nossa lista de leitura, porque também é uma forma de conhecermos livros novos e diferentes. Alguns eu já conhecia, outros não e esses que eu fiquei conhecendo por causa do prêmio e entraram para o meu horizonte de livros que quero ler.

Abaixo apresento os finalistas negros das categorias literárias:

Conto

Título: Gosto de amora | Autor(a): Mário Medeiros | Editora(s): Malê Editora

Título: Redemoinho em dia quente | Autor(a): Jarid Arraes | Editora(s): Companhia das Letras

Crônica

Título: Ildefonso Juvenal da Silva: um memorialista negro no Sul do Brasil | Autor(a): Fábio Garcia | Editora(s): Cruz e Sousa

Título: Notas sobre a fome | Autor(a): Helena Silvestre | Editora(s): Ciclo Contínuo Editorial

Histórias em quadrinhos

Título: Roseira, medalha, engenho e outras histórias | Autor(a): Jefferson Costa | Editora(s): Pipoca & Nanquim

Infantil

Título: Da minha janela | Autor(a): Otávio Júnior | Editora(s): Companhia das Letrinhas

Poesia

Título: Lutar é crime | Autor(a): Bell Puã | Editora(s): Letramento

Romance Literário

Título: Torto arado | Autor(a): Itamar Vieira Junior | Editora(s): Todavia

 

Assista também ao meu vídeo:

       

 

Referências bibliográficas:

https://redacaoeasletras.wordpress.com/2016/04/16/o-que-sao-obras-canonicas/

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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