Como foi estar na 2ª edição do Festival de Literatura Pop 2018

Entre os dias 29 de junho e 01 de julho de 2018 aconteceu a 2ª edição do Festival de Literatura Pop, FLIPOP, evento criado pela Editora Seguinte, que é o selo jovem da Companhia das Letras. Nesta edição, diferente do ano passado, contou com a participação de outras 9 editoras: D’Plácido, Duplo Sentido, Editora Hoo, Globo Alt, Editora Planeta do Brasil, Morro Branco, Plataforma 21, Qualis e Todavia, o que viabilizou uma programação que contou com 28 mesas de bate-papos e atividades e 38 convidados, dentre eles dois autores internacionais.
Além disso, todas as pessoas ganharam um kit na entrada com uma bolsa, marcadores, livretos e um ingresso para a Bienal do Livro de São Paulo.

Não fui na primeira edição mas tinha colocado como meta estar presente este ano. Inicialmente, havia me programado para ir somente no dia 1 de julho, mas graças à parceria com a Editora Seguinte consegui estar presente nos três dias, então sou muito grata por essa oportunidade. 
Falarei sobre algumas das mesas que mais me marcaram e minha avaliação geral do evento.

Escritoras Lavínia Rocha e Olívia Pilar
Escritoras Solaine Chioro e Lorrane Fortunato

Desde o primeiro dia a sensação predominante foi a de que eu estava em um mundo paralelo, no qual boa parte das pessoas que acompanho pelas redes socais também estavam nele, muitas pessoas que ainda não conhecia pessoalmente e que finalmente pude abraçar.

Neste dia assisti à mesa “As várias vozes do Brasil”, composta pelas escritoras Jarid Arraes (Cariri, Ceará), Roberta Spindler (Belém, Pará) e Socorro Acioli (Fortaleza, Ceará), com mediação de Bruna Miranda (Maranhão). Esta mesa foi importante porque me fez perceber que nunca tinha parado para refletir muito sobre o fato de que a região norte e nordeste do Brasil também possuem autores e que muitas vezes esses autores e seus livros não chegam em outras regiões, como aqui no sudeste, por exemplo, porque há toda uma lógica de mercado que impede essa circulação. Além disso, outro assunto que foi tocado e que achei muito pertinente foi em relação à importância das redes de bibliotecas para formação de novos leitores e principalmente para garantir que as pessoas tenham acesso aos livros como garantia de um direito.

Também me fez refletir sobre as diferenças linguísticas e o quanto elas ficam mais evidentes no dito “sotaque”, que é o principal alvo quando se quer atacar uma pessoa por seu modo de falar. As autoras falaram que às vezes precisaram usar estratégias, como inibição do sotaque, para que fossem entendidas e que não debochassem de sua forma de falar.

Outra mesa que assisti neste dia foi “O que é uma protagonista forte?”, com Iris Figueiredo, Lavínia Rocha e Roberta Spindler e mediação de Bárbara Morais. Nessa mesa foi falado sobre as personagens mulheres dos livros e as características que ela podem ter para ser uma protagonista forte, marcante. Gostei muito que a Lavínia Rocha falou sobre deixar explícito quando uma personagem é negra, porque no imaginário comum os personagens são sempre brancos.
No segundo dia, 30 de junho, assisti à mesa “A escrita da identificação”, com Lavínia Rocha, Olívia Pilar e Samuel Gomes, com medição de Jarid Arraes. Uma mesa na qual os convidados falaram sobre suas experiências pessoais como pessoas negras e como isso influenciou suas obras.

Neste dia uma mesa que me tocou muito foi a “G de Grandes histórias”, com Janaina Rico, Larissa Siriani, Mila Wander e Thati Machado, com medição de Bárbara Morais. Me fez enxergar e ter contato com os sentimentos de pessoas gordas e o quanto elas sofrem cotidianamente simplesmente porque seus corpos não se encaixam no que foi convencionalizado como o padrão. É muito tocante ver este movimento de valorização e aceitação do próprio corpo, como ele é, sem machucá-lo para agradar a sociedade.


Sem dúvidas, para mim a mesa mais marcante de todo o evento foi a de “Dicas de escrita”, com a escritora Socorro Acioli. No sábado ela deu dicas sobre estrutura e no domingo sobre linguagem. No sábado também pude conversar com ela depois de sua mesa e contar um pouco sobre uma história que estava pensando em escrever, mas não sabia como começar. Ela me deu várias dicas e um super incentivo e acho que era só o que eu precisava para me sentir confiante e estimulada a escrever. 
Créditos: Socorro Acioli

No terceiro e último dia, 01 de julho, assisti à mesa “O que a fantasia diz sobre o nosso mundo?”, com Eric Novello, Fernanda Nia e Lavínia Rocha, com mediação de Felipe Castilho. Mesa na qual foi falado sobre fantasia urbana. Foi interessante ver o viés político e social que há nos livros dos três autores da mesa. Além disso, foi importante ver duas autoras de fantasia lá porque este é um gênero com predominância masculina, mas há muitas mulheres que escrevem boas histórias dentro dele.


Acho ótimo que este evento tenha os jovens como público-alvo e que possibilite um espaço no qual autores, leitores e produtores de conteúdo podem ter contato direto. Além disso, a programação deste ano estava diversificada, abordou a temática racial e questões referentes à sexualidade, como também contou com uma forte presença de mulheres na programação e não só mulheres brancas.

Então a Flipop é um evento muito bom porque as pessoas se sentem à vontade para serem o que são, para estabelecerem laços e conexões com novas pessoas e celebrarem a diversidade, tudo com base no respeito.
Já ansiosa para a FLIPOP do ano que vem!


Para ver mais fotos do evento, clique aqui.

12 respostas

  1. Li o texto com um sorriso porque deve ter sido um evento incrível! Sem contar que lembrei de um outro texto aqui onde cê falou da vontade que tem de escrever uma/suas histórias, que bom que a FLIPOP te proporcionou o encontro com a Socorro Acioli! Nem tenho dúvidas de que foi inspirador e inesquecível! (:

  2. Oi Maria,
    Deve ter sido delicioso, eu já acho a Bienal com toda aquela gente e aquela bagunça incrível, imagina Fliflop toda organizadinha?
    Louca para voltar pra SP para poder ir.

    Beijokas

  3. Oi! Ah, que maravilhoso deve ter sido poder encontrar tantas pessoas que admiramos no mundo virtual em pessoa! Sem mencionar a loucura de ver tantos livros e novidades, e tantas coisas que deixariam qualquer leitor maluco! Que bom que todas as mesas de conversas que você assistiu foram satisfatórias e te agregaram conhecimento! Eu fico só na vontade, aqui moro no interior de MG, e parece que ninguém aqui sabe ler! Hahaha

    Bjoxx ~ http://www.stalker-literaria.com

  4. Tenho muita vontade de participar de eventos assim, realmente deve ser um mundo paralelo e eu adoraria ter conhecido a Iris Figueiredo, pois estou apaixonada pela minha atual leitura, que é um livro dela. Adorei as fotos e sua alegria nelas, você parece ser muito simpática, com aquela alegria contagiante, então espero ir no ano que vem e te conhecer.

    Abraços.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com/

  5. Que delícia. Vi muito movimento para esse evento nas redes sociais e parece que foi melhor que se esperava ainda. Adorei as coisas das quais participou, e que bom que você foi incentivada pela Socorro, é ótimo receber alguma palavra de estímulo.

  6. Olá…
    Adorei sua cobertura sobre o evento! Sem dúvida deve ter sido um momento muito especial e divertido de se acompnhar <3
    Se não morasse tão longe iria com certeza.
    Bjo

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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