Confetes e Serpentinas – (Org. Iris Figueiredo)

Confetes e Serpentinas é uma coletânea que reúne 6 contos com temática carnavalesca, organizados pela escritora Iris Figueiredo, autora de “Céu sem estrelas”. Figuram nesta coletânea as autoras Solaine Chioro, Rebeca Kim, Duds Saldanha, Lorrane Fortunato, Vanessa Reis e Olívia Pilar, autoras não-brancas e ou com deficiência.

O primeiro deles, “Cãofentes e serpentinas”, de Solaine Chioro, é protagonizado por Fernanda, que sempre passou essa época do ano viajando, bem longe da folia, mas agora não vai poder viajar e ainda tem que lidar com a frustração de não ter sido aprovada em nenhuma faculdade, enquanto sua melhora amiga, Taís, vai cursar estudar em outro Estado. Essa situação mexe com Fernanda, que fica com medo de que com as novas experiências, as duas deixem de ser amigas. Vai ser um carnaval diferente para Fernanda, com aventuras e reflexões sobre a vida e amizades.

O que gostei nesse conto é que a protagonista é gorda e negra, e as descrições das personagens negras não soam estereotipadas, qualidade que está presente em todo o livro.

Em “Um amor de carnaval”, de Rebeca Kim, temos Camilla, uma protagonista cadeirante, que quando criança tinha uma relação muito próxima com o carnaval, mas na medida em que foi ficando mais velha, também foi perdendo a animação, até que uma prima insiste para que a acompanhe no carnaval de Cabo Frio, onde Camilla viveu muitas aventuras durante sua infância e até a expectativa de alguns amores. O que ela não imagina é que esse retorno também trará reencontros e surpresas.

Aprendi muito com esse conto e gostei muito de como nos faz refletir sobre capacitismo e a forma como tratamos pessoas com deficiência física. 

“Três dias sem parar”, de Duds Saldanha, nos traz uma protagonista que trabalha com arte digital e precisa terminar um vídeo para entregar para o cliente. Assim, acompanhamos Giovana em três dias de carnaval, indo para a produtora em que trabalha para finalizar essa encomenda. Ela tem amigos com seus próprios problemas mas não medem esforços para se ajudarem e estarem presentes quando o outro precisa e Giovanna, que não é tão boa em dar conselhos, faz o que pode para ajudá-los. Surge até um amor nesse meio tempo.

O conto de Lorrane Fortunato é “Fantasias que criei de você”. Achei esse título sensacional porque quando terminamos a leitura, o título ganha novos significados. Aqui, temos duas primas, Dara e Dora, que são muito amigas e participam de um clube de leitura de uma livraria cujo dono Dara é apaixonada, mas nunca teve coragem de se declarar, até que Dora resolve entrar em ação e o que começou com boas intenções, acaba virando uma grande confusão que se revela em um evento promovido pela livraria, chamado Carnaval Literário, que consiste, basicamente, em uma festa de carnaval, em que todos devem ir fantasiados de algum personagem literário.

Este foi um dos contos que mais gostei porque me identifiquei muito com a protagonista, com sua forma de agir e de falar.

Em “Há mar”, de Vanessa Reis, a protagonista é Maria Tereza, ou simplesmente Teca. Ela trabalha em uma loja de calçados, o que considera algo irônico, uma vez que é cadeirante e não precisa trocar de calçados com muita frequência. E ironia é o que não falta em sua narrativa, assim como humor e a expectativa do início de um relacionamento. A melhor amiga de Teca, Jana, quer fazer uma despedida de solteira diferente, fantasiada de noiva no carnaval e as madrinhas têm que acompanhá-la. Teca é uma das madrinhas e não gostou muito da ideia, mas é nesse episódio que Teca e Antônio Carlos, colegas de trabalho, se aproximam ainda mais. Esse conto se passa na Bahia e está repleto do modo de falar e das gírias baianas. Deu até uma saudade da minha terrinha.

O último conto é “Rainha do bloco”, de Olívia Pilar. Nele temos duas amigas, Elza e Silvia. Esta última acabou de ficar solteira e está sofrendo pelo término inesperado. Para animar a amiga, Elza sugere que elas entrem para um bloco de carnaval de Belo Horizonte, como uma forma de distração dos problemas da vida. Além de conseguir animar a amiga, sem esperar, encontra alguém que faz seu coração bater mais forte.
Em Confetes e serpentinas, encontramos contos que nos fazem entender que existem muitas formas de passar esse período de carnaval. Seja curtindo, descansando ou trabalhando. Cada pessoa têm as suas razões, vontades e prioridades. Achei bom que cada conto se passa em um lugar diferente, nos fazendo conhecer o carnaval de várias cidades.

Ponto muito positivo dessa coletânea é que ela reúne histórias que vão além dos relacionamentos heteronormativos, mostrando outras formas de amor, com personagens negras marcantes e cheias de personalidade, além de personagens com deficiência física, ou seja, são contos que são protagonizados por mulheres fora do padrão e isso é ótimo. Aprendi muito com essa leitura e espero que mais pessoas possam aprender também.
 

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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