Dedim de prosa- Dirceu Scali Junior

A partir de um questionamento sobre processos de criação na arte, Dirceu Scali Junior dá vida ao livro Dedim de Prosa (2018, Letramento), que tem como foco a obra de Guimarães Rosa e seu processo de criação. Um dos assuntos que o autor traz à tona na introdução é a relação que o autor pode ter com a obra, partindo da imagem de observação de um criador.


Uma das primeiras questões que o autor destaca é a problemática da biografia. Se “fazer uma biografia é re-criar o eu-criador por meio da narração dos fatos vividos pelo eu-pessoa” (SCALI JUNIOR, 2018, p.13) como escrever a biografia de um autor sem que o biógrafo transforme o biografado em um personagem? É com esse questionamento em mente que ele vai em busca de respostas e as encontra em Antonio Candido, quando este diferencia personagem de pessoa. Outro teórico que vem em socorro de Scali é Pierre Bourdieu, que tem conclusões muito próximas às de Candido.

Superada a problemática da biografia, no capítulo intermediário Scali traz um extenso material biográfico referente à Guimarães Rosa, passando por todas as suas experiências, com destaques para as profissionais e literárias, fartamente recheado com citações, tanto do autor quanto de pessoas que conviveram com ele. De tudo que se diz sobre Rosa, marca saber que este foi um escritor, nas palavras de Scali, babélico, que não tinha a intenção de revolucionar a língua, dada sua linguagem característica, mas sim conservá-la em sua essência.

No capítulo final, depois de conhecermos a fundo a biografia de Guimarães Rosa, é onde há o estabelecimento, de fato, da relação obra-autor, partindo dos pressupostos teóricos de Merleau-Ponty, lido por Marilena Chaui.

Para quem quer conhecer o processo de criação de Guimarães Rosa e dados biográficos deste autor, Dedim de prosa não decepciona neste sentido. O que o livro não faz é partir da biografia para justificar as obras, o que é muito positivo. Também não faz análise dos livros de Rosa, mas ao citá-los e localizá-los, desperta uma profunda curiosidade e interesse na leitura dos mesmos. Além disso, sua base teórica confere maior riqueza às conclusões de Dirceu Scali Junior.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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