É extremamente poderoso, importante e emblemático que um dos maiores nomes — se não o maior — da música brasileira em atividade em 2018 seja uma mulher negra de 81 anos. E isso em um país onde o racismo e o machismo são opressões estruturais é coisa pra caramba. Com uma voz que evoca força e ancestralidade, Elza Soares é uma manifestação visceral da natureza.
Em 2015, tal como uma fênix, Elza ressurge e arrebata, não só o Brasil, como o mundo, com o avassalador “A Mulher do Fim do Mundo”, o primeiro álbum de inéditas de toda a sua carreira. Idealizado para ser um disco de regravações de samba, o projeto ganhou outros contornos e tomou a forma cuja qual conhecemos. Como a própria cantora diz, esse é um disco sobre negritude, sexo e tudo aquilo que é proibido e ela gosta de falar. Com esse discurso, Elza toma para si toda a atenção que merece. Aclamado, o álbum apareceu no New York Times e Pitchfork, assim como foi eleito o disco do ano de listas como as dos portais Tenho Mais Discos Que Amigos e Rolling Stone.
2 respostas
No final de Deus há de Ser Elza diz "Deus é mãe (Deus é mãe, Deus é mãe, Deus é mãe, Deus é mãe)" e isso ficou na minha cabeça de um jeito muito poderoso porque também fala de um retorno ao pensamento africano e de sua filosofia, que é matrigestora. A mulher gestando força e sendo potência que mobiliza o espaço onde está.
Pô, sempre que eu ouço esses dois álbuns da Elza eu me arrepio todo com muitas passagens. A voz dela tem uma força absurda, né? E isso é só um reflexo da mulher que ela é.
Sobre a filosofia e o pensamento africano, mais cedo ou mais tarde eu vou estudá-los com calma. É de grande interesse meu. Até mesmo porque a gente tem que descolonizar o pensamento, não é mesmo? Há um frase do Criolo que conversa muito comigo: "meu lado África, aflorar, me redimir". Acho que ela traduz muito bem o que eu sinto.