Diário de leitura Calibã e a Bruxa (Capítulo 4)

Postagem referente ao projeto #5SemanasComCalibãeaBruxa, que consiste em um diário de leitura com duração de cinco semanas do livro Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva, de Silvia Federici, traduzido pelo Coletivo Sycorax.

No final do projeto sortearei um exemplar do livro. Para saber como participar do sorteio é só ler a primeira postagem clicando aqui.

O capítulo 4 é intitulado “A Grande Caça às Bruxas Na Europa”  e aborda, de modo bastante aprofundado, a época da caça às bruxas e a influência do Estado e da Igreja nessa prática. 
Vamos perceber que as mulheres caçadas, em sua maioria, eram pobres e dependiam da assistência do governo e também aquelas que trabalhavam como parteiras e curandeiras. É importante notar as figuras das prostitutas e bruxas velhas que são símbolos da negação da sexualidade não procriativa, o que era combatido, uma vez que o Estado implementava formas de controlar os corpos das mulheres, porque  o útero delas tinha que estar à serviço da acumulação de força de trabalho e do aumento da população.

Neste capítulo também é abordado de forma mais detalhada a questão da heresia e da bruxaria, sendo que a principal distinção entre essas duas práticas é que esta segunda era considerado um crime praticado por mulheres, ou seja, havia uma institucionalização dessa prática como crime. E pelo que percebi, não dá para falar de bruxaria sem falar sobre o sabá, que, em termos gerais, eram as reuniões nas quais as pessoas, em sua maioria mulheres, conversavam, já que estavam proibidas de se reunirem em público.

“(…) o sabá noturno aparece como uma demonização da utopia encarnada na rebelião contra os senhores e como uma ruptura dos papeis sexuais, representando também um uso do espaço e do tempo contrário à nova disciplina capitalista do trabalho” (p.321)

É um capítulo longo e que recomendo ler aos poucos porque são tantas atrocidades praticadas contra as mulheres que o estômago chega a embrulhar, ainda mais porque percebemos que é um assunto muito atual, com a existência de feminícidios e criminalização do aborto, que é uma forma de controlar o que as mulheres podem ou não fazer com seus corpos.

Como ter acesso ao livro: comprando no site da editora (Editora Elefante), fazendo o download do arquivo em pdf disponibilizado no site do Coletivo Sycorax ou participando do sorteio que estou promovendo aqui.

4 respostas

  1. Dias atrás estava lendo sobre Joana d'Arc e me dei conta que desconheço esse período. Quero muito entender o que levou a Caça às Bruxas, este livro deve ser ótimo. Inaceitável essa inferioridade que nos foi colocada.

  2. Aquele momento em que se escancara o ódio contra as mulheres. Difícil mesmo ter estômago pra ler por tamanha violência, mas também é uma forma de encararmos a verdade. Só assim refletiremos sobre o passado, entenderemos o presente e teremos uma melhor chance de mudarmos o futuro.

  3. Realmente, a questão da reprodução é tão atual (essa semana mesmo, com tantas discussões sobre o aborto) que isso só aumenta a relevância desse livro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

R$ 5.829/mês 72%

Participe do Clube Impressões

Clube de leitura online que tem como proposta ler e suscitar discussões sobre obras de ficção que abordam assuntos como raça, gênero e classe, promovendo o pensamento crítico sobre a realidade de grupos minorizados.