Chegamos ao fim da sétima semana da leitura conjunta do livro “Um Defeito de Cor” e lemos o capítulo quatro em sua totalidade. O diário contém spoliers.
O capítulo começa com Kehinde dando à luz seu filho, fruto do estupro de seu dono. Ela dá à criança o nome de Banjokô, “sente-se e fique comigo”, em iorubá. Ela sabe que o filho é um abiku, ou seja, antes de nascer ele fez trato no Orum e quando esse trato fosse realizado, ele voltaria ao Orum, o que equivale a dizer que ele morrerá quando esse trato for feito. Banjokô nasceu durante a viagem de mudança para a capital, São Salvador. Depois da morte do marido, a sinhá vendeu a fazenda e se mudou para a cidade, como também vendeu boa parte dos escravos e só ficou com dez deles. Portanto, o novo cenário da narrativa será a cidade. No capítulo anterior, Kehinde havia ido uma vez à capital e agora vai ter um contato muito maior com a mesma, narrando de maneira detalhada tudo o que vê.
Surpreendentemente, a sinhá trata muito bem o filho de Kehinde e faz de tudo para que a mãe não passe muito tempo com ele. As diferenças entre duas vão acentuando-se cada vez mais. Quando Kehinde sai escondida com o filho, em um domingo, dia de folga, para batizar a criança com um babalaô e a sinhá descobre, além de apanhar, Kehinde é castigada não podendo sair por dias do porão e depois é emprestada para uma família de ingleses, de modo que só pode voltar para visitar o filho aos domingos.
Kehinde fica por cerca de um ano com a família de ingleses e quando retorna para a casa da sinhá tem mais dois escravos trabalhando na casa. Um deles é Francisco, com quem começa a se relacionar. No entanto, a sinhá não aprova esse relacionamento e quando as duas se desentendem Kehinde é mandada para trabalhar como escrava de ganho, uma forma de afastá-la tanto do filho quanto de Francisco. Ela recebe da sinhá uma carta de autorização para ficar na rua e só voltar de noite, para dormir. Naquela época todos os pretos que estivessem na rua tinham que ter uma licença ou ter a carta de alforria para o caso de serem abordados pela polícia.
Ser escravo de ganho era algo comum no início do século XIX. Muitos senhores faziam com que os escravos trabalhassem nas ruas e boa parte do que ganhassem era voltado para o sustento do senhor. Sendo escrava de ganho, Kehinde vê uma oportunidade de ajuntar dinheiro para comprar sua carta de alforria e a do filho. Ela fica sabendo da existência de cooperativas que são associações nas quais os pretos se ajudam para conseguirem comprar as cartas de alforria uns dos outros. Desse modo, decide vender cookies que aprendeu a receita quando estava na casa dos ingleses. Quando sobrou um pouco de dinheiro ela comprou roupas novas e sapatos porque percebeu que nas ruas as pessoas julgavam muito pela aparência, que se estivesse mais arrumada, talvez atraísse mais clientes, no entanto, quando a sinhá viu como ela estava arrumada, calçando sapatos, que não era muito comum que escravos usassem, a expulsou de casa de vez, fazendo Kehinde ter que procurar algum lugar para morar. Sem saber direito para onde ir, por meio de amigos, ela logo encontra uma nova moradia.
Nesse capítulo acontecem bastante coisas com a protagonista. Em determinado momento ela diz que por mais que lhe aconteçam coisas ruins, as coisas boas vêm logo em seguida.
Uma parte que me marcou bastante foi quando ela estava numa festa logo após a cerimônia de batismo do filho e todas as crianças estavam brincando e ela sentiu vontade de brincar também, mas não poderia porque tinha outras responsabilidades: “Às vezes eu queria que o tempo passasse logo e eu envelhecesse, mas às vezes queria voltar a ser criança e ter uma vida igual à daquelas que corriam por ali, rindo e brincando. Eu sentia vontade de brincar também, olhava para o Banjokô sugando meu peito e achava que ele era um brinquedo sério demais, com o qual eu sempre teria mais responsabilidades que diversão” (p.208). É muito triste que ela não tenha controle sobre sua própria vida. A maior parte dos acontecimentos são imposições os seus senhores.
Essa leitura conjunta foi proposta no Instagram da Ale Magalhães (@literaleblog). Em seu perfil ela está postando semanalmente sobre o livro e quem está fazendo a leitura conosco está usando a tag #LendoUmDefeitodeCor para mostrar suas considerações.