Doze anos de escravidão- Solomon Northup

Este é um livro autobiográfico, em que Solomon Northup nos descreve minuciosamente e de forma detalhada os duros anos em que foi mantido como escravo.
A narrativa começa com Solomon refazendo seu processo de escrita do livro: “Meu objetivo é dar uma declaração simples e verdadeira dos fatos: repetir a história de minha vida, sem exageros, deixando para outros determinarem se as páginas da ficção apresentam um retrato de uma maldade mais cruel ou de uma servidão mais severa“. (p.17). E faz uma breve apresentação de sua família, desde seu pai à sua esposa e filhos. Conta como ele se estabeleceu como violinista e sua esposa como cozinheira requisitada. Eles sobreviveram disso por uns tempos, até que decidiram ir em busca de mais estabilidade.

Quando recebeu uma oferta de trabalho como violinista de um circo com um pagamento mais do que satisfatório, não pensou duas vezes e aceitou. A partir desse episódio, em 1841, sua vida mudou drasticamente. Ele foi levado para outro estado e dopado, quando acordou estava acorrentado e levou uma surra ao tentar argumentar que era um homem livre. A descrição dessa surra é dolorosa de se ler. É impossível não sentir arrepios de ódio por tamanha desumanidade. Uma tábua de madeira é quebrada em suas costas e ainda é açoitado com corda, então ele entende que continuar afirmando que era um homem livre não o levaria a lugar nenhum e só o faria apanhar mais.
Recebeu um novo nome, foi posto em exposição como se expõe um animal para venda e foi vendido como escravo.
Durante os doze anos em que foi escravo,  foi forçado a trabalhar em plantações de algodão e plantações de cana-de-açúcar, além de ter que desempenhar qualquer serviço que lhe fosse mandado. A dor era tamanha que diversas vezes desejou morrer para não ter que continuar suportando aquilo, mas o desejo e a esperança de conseguir voltar para casa nunca saiu de seu coração.
Os escravos não eram alfabetizados, claro, e se demonstrassem qualquer interesse pela escrita, eram duramente castigados. Esse foi o principal motivo de Solomon nunca ter demostrando que sabia ler e escrever. Quando teve oportunidade, escreveu uma carta endereçada a um amigo da família e confiou a um homem branco, a quem tinha contado toda sua história de vida, para enviá-la. Era um risco, mas um risco que ele precisava correr. Ou era isso, ou talvez nunca voltaria para casa.
Ele foi libertado em 1853 e levou em julgamento as pessoas que o tinham sequestrado, mas, como era de se esperar, não deu em nada, eles não foram presos. Solomon, por sua vez, passou a militar em favor da libertação dos escravos.
Essa edição da Penguin-Companhia conta com a mesma introdução de 1853, ano em que o livro foi publicado, e com um posfácio que é bastante didático e nos ajuda a entendermos melhor a escravidão norte-americana, o que acaba contribuindo para enriquecer ainda mais a experiência de leitura. Além disso, é um livro com um valor histórico muito grande, impactante e indispensável para todo leitor que queira se engajar no assunto.

Uma resposta

  1. Olá, Maria.
    Eu tenho o livro, comprei em uma Bienal, mas acabei não tendo a chance de ler ainda. Entre livros de parceria e estudo, ele acabou ficando na estante até agora. Contudo, pretendo fazer a leitura ainda nesse ano.
    O enredo é triste, mas importante. É bom analisarmos erros do passado para tentar evitá-los no futuro. O mais deprimente é que a sociedade não mudou muito. A escravidão formal acabou, mas a justiça nunca foi feita.
    Ótima dica.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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