“Esteja avisado: você está nas mãos de um escritor que não concede ou pede clemência. Ele vai exauri-lo… E quando você fechar este livro, ele vai entregar-lhe um dos maiores presentes que um escritor pode dar: ele vai deixar você querendo mais”.
E é assim, com este prefácio de Stephen King, que o leitor inicia a leitura desse livro publicado pela editora Aleph em 2015.
O livro compreende um período de três anos, de 1976 à 1979, em que conhecemos Robert Neville, o único que não foi contaminado por uma praga que transformou a todos em vampiros e fez os mortos voltarem à vida. Desse modo, é uma narrativa linear, mas há também flashbacks que nos permite saber mais sobre a vida de Neville antes das coisas chegarem ao ponto em que estão.
É muito difícil para um homem há tanto tempo sozinho, conter seu desejo sexual e as vampiras aproveitam-se disso para tentar fazer com que Neville saia para fora de sua casa durante a noite, que é o período que os vampiros atacam, mais difícil anda e manter a sanidade.
Para sobreviver, Robert transformou sua casa em uma verdadeira fortaleza. Sua rotina é matar vampiros com estacas, colocar alho por toda casa durante o dia e durante a noite escuta músicas, bebe e tenta não ceder à depressão.
“O mundo está louco, pensou. Os mortos andam por aí e eu acho isso normal”. (p.124)
Depois de muito tempo sozinho, Neville avistou um cachorro pelas redondezas de sua casa, à luz do dia, o que o fez pensar que não estava contaminado. Então empreendeu uma série de tentativas de conquistar a confiança do animal oferecendo comida e água, quando finalmente conseguiu colocá-lo para dentro de sua casa, sofreu um baque enorme. Neville, há mais de um ano sozinho, estava ávido por companhia e até o som de sua própria voz lhe soa estranha. Essa é uma cena tocante, mas ao mesmo tempo a narrativa fria evidencia o pessimismo sentido por Neville.
Em determinado momento, Robert começa a querer saber como a doença se alastrou tao rápido e entender o motivo dos vampiros terem intolerância a luz do sol e não suportarem alho, então começa a pesquisar em livros, aprende a manusear microscópios e depois de muito tempo de pesquisas, consegue formular suas própias respostas.
“Então, antes de a ciência ser arrebatada pela lenda, a lenda engoliu a ciência”. (p.52)
É um livro excelente e muito digno de leitura, principalmente se levarmos em consideração que a justificativa para as pessoas terem sido transformadas em vampiros parte de uma ótica cientifica, com explicações biológicas, desconstruindo dessa forma, a imagem clássica que temos dos vampiros. Outro fator que favorece a leitura é nos darmos conta que a história gira somente em torno de um personagem solitário; não há diálogos nem grandes reviravoltas, ou seja, o livro tem tudo para cair na monotonia, no entanto, o autor obtém exito ao trabalhar o aprofundamento psicológico de Robert Neville, focando em seu modo de pensar e sentir.
Mesmo sendo uma narrativa em terceira pessoa, a intensidade dos sentimentos de Neville é facilmente sentida pelo leitor. Arrisco dizer que e impossível não imaginarmos o que faríamos caso estivéssemos em seu lugar.
O final é surpreendente. Acontece algo inesperado essa inversão nos faz refletir sobre o o conceito de normalidade. Ela não existe quando se faz parte de uma minoria ainda que nossas certezas nos digam o contrário.
Essa edição da Aleph está indefectível. Capa linda e dura, ilustrações e extras: um artigo científico que aborda o livro sob um aspecto biocultural e uma entrevista com o autor.
7 respostas
Essa obra é uma das queridinhas da minha estante. Amo demais. Depois do desastre que foi o filme, o livro me ganhou completamente. Esse aprofundamento psicológico, essa depressão exacerbada e a solidão tornam o livro envolvente, mesmo nada acontecendo.
Sem dúvida, uma obra incrível.
Ótima resenha.
Desbravador de Mundos – Participe do top comentarista de junho. Serão quatro livros e dois vencedores!
Oi Maria estou com esse livro aqui, só não achei oportunidade de ler ainda, eu já achava que ia gostar, agora depois da sua resenha e sendo vc falando, vou logo dar um jeito de criar uma oportunidade e ler logo.
Beijo.
Eu já assisti o filme, e achei um pouco triste até, mas pela sua resenha o livro me parece ótimo, gostei bastante, pretendo lê-lo deve ser bem melhor que o filme. Você escreve muito bem, seus parágrafos fluem muito agradáveis.
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Que diferente esse enredo. Eu ainda não conhecia. Hummm também tem o filme, então. São tantas dicas que ando tendo, que o difícil mesmo será arrumar tempo para ler tudo. Já foi pra minha lista de desejos. Eu adorei.
atraentemente.blogspot.com
Nossa, esse livro parece ser muito intenso! E pra ter um comentário desses do Stephen King então…
Ótima resenha, parabéns!
Oi Maria ^^
Eu Sou A Lenda é um dos meus filmes favoritos de vampiros! Fiquei muito feliz em saber anos atrás que era adaptação de uma obra. Infelizmente, ainda não tive uma oportunidade para a sua leitura.
Lendo sua resenha vejo detalhes que no filme são considerados extras, acredito.
Viver isoladamente com certeza não é algo bom. O ser humano não consegue viver sozinho! Sorte que Robert consegue ter a companhia de um cachorro.
Definitivamente eu enlouqueceria se ficasse sozinho e cercado por vampiros famintos!
Essa edição da Aleph é linda demais! Tem um toque dos livros do século passado que me fascina.
Parabéns pela resenha, guria. Me deixou mais instigado a ler essa obra.
Bjs :*
https://peregrinodanoite.blogspot.com.br/
Oi Maria, tudo bem? Apesar de muita gente não gostar, eu curti o filme quando olhei. Faz tempo, não sei se gostaria hoje, mas gostei quando vi heheh
Mas acredito que iria curtir mais o livro. Apesar de gostar de histórias com bastante ação, também curto quando os autores utilizam mais fatores psicológicos.
Beijos
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