“Hoje o escuro vai atrasar para que possamos conversar” – Últimas semanas

Contribuindo para a formação de crianças críticas
Texto por Mayra Guanaes

O grupo XIX de teatro já conhecido por trabalhos como Hysteria e Hygiene, está apresentando no CCBB a peça infantil “Hoje o escuro vai atrasar para que possamos conversar” com dramaturgia de Ronaldo Serruya, inspirado no livro “De Repente, Nas profundezas do Bosque” (2007) do escritor israelense Amós Oz.

Na peça três crianças vivem em uma aldeia em que os bichos sumiram mas o adultos, exceto a Professora Rafaela, nunca querem falar sobre isso. Paralelamente, a peça discute a questão do bullying, muito presente no universo infanto-juvenil. .

Ao chegarmos no teatro somos acolhidos por um dos diretores da peça, que nos explica o funcionamento do espetáculo, as regras da nossa brincadeira são estabelecidas ali.
A principio parece estranho ver o Grupo XIX que constrói o espaço cênico sempre tão próximo do público, ali à distância na divisão tradicional palco-plateia como o teatro do CCBB propõe. Entretanto, o que está em cena é tão bonito que esse estranhamento passa logo. O cenário, os figurinos, a luz e o som puxam o público para dentro da história.


Já no início da peça há muito diálogo com brincadeiras e jogos infantis que o grupo transforma em enfeito cênico. Nesta parte da peça conhecemos as crianças e a professora que aparece como uma personagem que sugere outras formas para as crianças pensaram e observarem o mundo.

Depois somos convidados a fazer um tipo de expedição que é conduzida pelas personagens. Tendo em vista o fato de que a peça é apresentada dentro de um centro cultural com corredores estreitos e escadas, a divisão de duas turmas e os trajetos escolhidos é uma solução muito boa dada pelo grupo e lembra um pouco o trabalho desenvolvidos por equipes educativas em visitas aos museus.

Após nossa expedição chegamos para a terceira e última parte da peça, dentro da floresta-teatro. A questão do bullying é retomada nesta parte e muitas seriam as interpretações possíveis dos diálogos entre os personagem mas eu voltei para casa pensando na crise educacional que vivemos hoje em nosso país, na necessidade de formar cidadãos críticos com mais empatia, a partir da discussão de algumas temáticas como o bullying.

Saí desta peça bastante otimista, observando o teatro como um lugar onde a reflexão ainda é possível. Penso que com este trabalho o Grupo XIX contribui bastante para a formação de crianças (e adultos também) mais sensíveis a questões que hoje são urgentes.
Hoje o escuro vai atrasar para que possamos conversar
Criação: Grupo XIX de Teatro
Dramaturgia: Ronaldo Serruya
Direção: Luiz Fernando Marques (Lubi) e Rodolfo Amorim
Direção Musical: Tarita de Souza
Atores-criadores: Janaina Leite, Juliana Sanches, Ronaldo Serruya, Rodolfo Amorim, Tarita de Souza.
Sábado, 11h. Até 23 de Junho (Últimas semanas)
Classificação indicativa: livre – recomendado para maiores de 7 anos
Garanta o seu ingresso: http://bit.ly/HojeOEscuroVaiAtrasar
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
CEP: 01012-000 | São Paulo (SP)
(11) 3113-3651
Funcionamento: de quarta a segunda, das 9h às 21 horas


2 respostas

  1. Muito maneiro, Maria! Falando como psicóloga, acho incrível quando temas que precisam de debate são colocados de uma maneira diferente ou que capte a reflexão das pessoas a partir de outras ferramentas para além daquelas que (também são importantes mas) já nos acostumamos a ver como únicas possíveis. Ver esse tipo de estratégia me anima.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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