Texto por Mayra Guanaes
Humor – O papel fundamental do riso na cultura, do filósofo e professor Terry Eagleton, com tradução de Alessandra Bonrruquer, foi publicado em 2019 pela Editora Record e analisa tanto a natureza quanto as funções do riso na sociedade.
O livro se divide em 5 capítulos nos quais Terry Eagleton explora as diversas nuances do humor. No capítulo 1 “Sobre o riso”, temos uma introdução ao universo do humor. Neste capítulo o autor nos explica de onde vem a risada e quais os efeitos desta reação física em nosso corpo e em nossas emoções. No capítulo 2 “Zombadores e Escarnecedores” Eagleton avalia o papel social dos humoristas.
No capítulo 3 “Incongruidades” o autor aprofunda o funcionamento do humor, a partir das teorias sobre este campo de estudo. Para Eagleton, o ponto em comum entre estas teorias, é justamente a incongruidade. O humor é um efeito da incongruência e para o autor seria “uma súbita mudança de perspectiva, um deslize inesperado do significado, uma atraente dissonância ou discrepância, uma momentânea desfamiliarização do familiar e assim por diante”.
Em outras palavras poderíamos dizer que o humor acontece quando temos uma situação em que ocorre uma quebra de expectativa ou algo inesperado. Por exemplo: Se o seu gato com uma postura extremamente vaidosa, tenta pular na cadeira, mas se desequilibra e cai da cadeira, isso pode ser engraçado porque quebra a expectativa de que ele subiria ali, sem problemas, deitaria e continuaria dormindo. Mas o desequilíbrio é uma situação inesperada no caso de um gato e por isso, pode ser uma situação que nos faça rir.
Já no capítulo 4 “Humor e história” Eagleton explica o percurso do humor ao longo da história desde a Antiguidade. Neste capítulo observamos como a função do riso na cultura muda junto com as mudanças sociais. O humor está contextualizado socialmente, de forma que uma piada considerada engraçada há 50 anos, talvez não faça sentido hoje em dia.
Por fim, no capítulo 5 “A política do humor”, Terry Eagleton observa as questões políticas implicadas no humor. Este é um tema que, aliás, gera discordância entre humoristas, comediantes e estudiosos. É comum acompanharmos pela mídia situações em que algum comediante faz uma piada preconceituosa. Por isso, uma questão que surge é “Qual é o limite do humor?” ou até mesmo “Existe um limite para o humor?”.
Alguns comediantes defendem que não há limites, que se alguém ri de uma piada, esta piada foi válida. Como um público mais crítico é possível perceber que o humor muitas vezes pode nos mostrar um grupo que zomba e ri de outro grupo, reproduzindo as opressões existentes há muito tempo na sociedade como o racismo, o machismo, a homofobia, a xenofobia, etc
Desta forma, cabe a nós, questionarmos as situações em que o humor é produzido. A piada é sobre quem ou quê? Quem faz a piada? Quem está rindo? E então teremos de admitir que o humor muitas vezes está pautado em relações de poder, de grupos dominantes sobre os grupos que sofrem opressão. É possível que neste momento a sociedade esteja justamente revendo o humor como mais um mecanismo de opressão, revendo aquelas piadas que antes pareciam muito engraçadas, mas agora sabemos o quanto são opressivas.
Humor – O papel fundamental do riso na cultura de Terry Eagleton, portanto, apresenta os aspectos críticos do humor e aprofunda o debate a respeito deste elemento da nossa cultura. É um livro que populariza a teoria com uma linguagem acessível, recomendo esta leitura para quem deseja conhecer mais sobre ou assunto.